Maiores subidas nas exportações feitas à custa dos mercados alternativos
Produtos em couro, aparelhos ópticos, calçado e bens alimentares registaram aumentos mais expressivos nas exportações em 2013, essencialmente suportados pelo comércio para fora da União Europeia.
A forte contracção do mercado interno empurrou o sector das peles e couro a procurar novos clientes e os resultados foram impressionantes, tornando-se a actividade que registou uma maior subida nas exportações. Em 2013, as vendas tiveram um incremento de 22,3% para 224,5 milhões, com os mercados extra comunitários a crescer 35,2% e passando a valer 27% do total das exportações. Dentro deste sector, houve um tipo de produto que se destacou: as obras de couro, em que o valor dos bens transaccionados aumentou 36,4% ao longo do ano passado.
Esta categoria, que é composta por artigos de correeiro, de viagem, bolsas e artefactos, está integrada na fileira do calçado e começou a sua internacionalização muito recentemente, “ há cerca de três anos”, disse ao PÚBLICO Paulo Gonçalves, porta-voz da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS). Uma boa fatia das vendas está a ser realizada em França e em Espanha, mas, apesar de terem um peso menor, mercados como Angola e Marrocos cresceram71% (passando a valer 11 milhões de euros) e 142% (seis milhões de euros), respectivamente, em 2013.
Os números do calçado também continuam a crescer, com um forte domínio do mercado comunitário, mas já com 12,7% a resultar das vendas fora da Europa, quando ainda há poucos anos a fasquia não passava dos 4%. O sector foi o quarto que mais subiu em 2013 face ao período homólogo, mas, em termos de mercados alternativos, foi o que mais se destacou, com um crescimento de 46,1% no comércio extra UE. Neste momento, a indústria nacional de calçado já é o sétimo maior fornecedor da China e as vendas para os Estados Unidos, Rússia e Angola já superam os 100 milhões de euros. Paulo Gonçalves destaca que “sem deixar de aprofundar o posicionamento no mercado europeu, o sector deverá continuar a conseguir um desempenho interessante” fora da Europa.
No segundo lugar do ranking dos sectores com maior crescimento nas exportações, surgem os aparelhos de óptica e precisão. Neste caso, a subida foi de 22,1% para mais de 661 milhões de euros. Mas, uma vez mais, foi no comércio para fora da UE que o crescimento mais se evidenciou, ao subir 35,9%. Dentro deste sector foram as categorias dos produtos de relojoaria e dos instrumentos musicais que mais se destacaram, com incrementos homólogos de quase 43% . Nestas duas áreas, a justificação é comum. Como explicou Fátima Santos, secretária-geral da Associação de Ourivesaria e Relojoaria de Portugal, “Portugal é muitas vezes intermediário de países que não têm representação directa das marcas”, o que significa que está a exportar o que importou. No caso dos relógios, o aumento poderá também estar ligado ao facto de “haver uma classificação errada”, por se tratar, na verdade, de produtos “em que a matéria-prima são metais preciosos, como o ouro”.
Na terceira posição surgem os produtos alimentares, cujas exportações aumentaram 8% em 2013 para um total que já ultrapassa os 2500 milhões de euros. O sector conseguiu segurar os seus principais clientes da UE, onde cresceu 8,2%. Fora da Europa, o negócio também foi positivo, com um aumento de 7,6%. Contas feitas, o contributo para o total das exportações portuguesas acabou por crescer, de um peso de 5,2% em 2012 para 5,4% o ano passado.
Entre os produtos mais vendidos no estrangeiro pelas empresas portuguesas, a subida mais expressiva foi a do açúcar e dos produtos de confeitaria: cresceu 27%, para 180 milhões de euros. O que se passou em 2013 na Lusiteca, a dona das pastilhas Gorila e dos rebuçados Penha, pode ajudar a explicar esta evolução: as vendas duplicaram para sete milhões de euros, metade das quais são conseguidas no exterior, adianta Francisco Ramos, director-geral de áreas de negócio. Angola é o principal cliente, mas a empresa está a diversificar. Francisco Ramos adianta que o Egipto é o mais recente mercado. “No Médio Oriente as vendas têm tido bons resultados”, afirma.
As preparações de carne, peixes, crustáceos e de moluscos (onde se inclui conservas e enchidos) também cresceram de forma expressiva: 16% para mais de 325 milhões de euros. A Poveira, dona da marca de conservas de peixe Minerva, por exemplo, conseguiu quase duplicar o volume de negócios de 4,5 milhões para 7,5 milhões de euros em 2013. Em 2013, a conserveira estreou-se no mercado suíço e no Camboja e viu crescer “significativamente” o comércio com os Estados Unidos.
A igualar o crescimento das preparações de carne ou peixes está a dos produtos à base de cereais ou farinhas (massas, papas para bebés, cereais, bolachas, entre outros): de 254,7 para 296 milhões euros (+16%). E, sem estar entre os que mais contribuem para o volume de negócios do sector, os resíduos e desperdícios da indústria e os alimentos preparados para animais conseguiram aumentar em 50% as vendas para o exterior em 2013. Isto num ano em que a gigante indústria de bebidas perdeu fôlego - as exportações caíram 1%, para 1,1 mil milhões de euros, o que equivale a um peso de 43,3% no total das vendas internacionais dos bens alimentares.
Esta análise exclui as exportações de combustíveis minerais, uma vez que estas tiveram o maior crescimento entre todos os tipos de produtos vendidos ao exterior, tendo representado 57% do crescimento registado em 2013. No ano passado, entrou em funcionamento uma nova unidade de refinação da Galp Energia, o que explica uma parte significativa deste aumento.