Algarve não acredita, para já, no eldorado prometido pelas Finanças

Quando chegar o Verão, admitem os empresários, não faltarão turistas nas filas das caixas registadoras à espera que a sorte esteja ao virar da esquina.

O proprietário do café, Miguel Duarte, prossegue na mesma linha de raciocínio. “Não pensem que as pessoas vão aderir, é uma ilusão ”, vaticina, apontando para os tickets da máquina, deixados em cima do balcão, sem número de identificação fiscal. “Para nós é indiferente, mas os clientes não têm interesse nas facturas, com número de contribuinte” No entanto, quando chegar o Verão, se pega moda do sorteio, prossegue António Mota, proprietário da Eurolatina (pastelaria e padaria, em Quarteira), “vou ter que destinar um empregado só para passar facturas”. No pico da época alta, diz, são mais de 600 clientes por dia no estabelecimento, rodando conforme o gozo do período de férias. “Vai ser uma confusão”, comenta. Mas o pior, sublinha, é a “imagem negativa” que acompanha a propaganda governamental. O que passa para a opinião pública, sublinha, é que a fuga ao fisco é feita pelo pequeno comércio, cafés, pastelarias e restaurantes, quando no seu entender há uma outra realidade escondida atrás do biombo. “As grandes empresas, com capacidade para pagar a fiscalistas, não raras vezes passam ao lado do sistema e fogem aos impostos ”.

Jorge Perreia, detentor de uma empresa unipessoal, acha que pedir facturas com o número de contribuinte é meter-se na “boca do lobo”. Por isso, voluntariamente, diz que não vai aderir ao sorteio: “Peço facturas em nome da empresa porque sou obrigado, mas quando vou ao café ou restaurante nunca dou o número de contribuinte”. Miguel Duarte, apesar de achar que o Ministério das Finanças “não vai ter grande sorte com o sorteio”. Porém, revela um aspecto que o poderá, de futuro, fazer mudar de opinião. “Quanto mais cresce a miséria, mais sobe o número de jogadores”. Por isso, admite, quando a televisão mostrar o “primeiro prémio, os portugueses poderão ir atrás do jogo”. No restaurante O Palhacinho, em Faro, o dono da casa, Custódio Silvestre, manifesta, também, reservas: “Quem pede factura, geralmente, são só as pessoas que têm contabilidade organizada, não notei que tivesse havido diferença entre o antes e depois do anúncio do sorteio”, observa. O empregado – “ Manel” como é tratado, por simpatia – revela uma opinião diferente. A filha, que anda a tirar carta de condução, já lhe perguntou: “Pai, posso pedir uma factura, quando tomo café?”. A filha do “Manel”, tal como muitos outros jovens e adultos, sonha em passar pela rua a conduzir uma “bomba”, a custo zero, capaz de fazer inveja à vizinhança.

“A mim é que eles não me apanham com essas promessas”, garante Januário Santos, agricultor, ao sair da café/ restaurante Cavaleiros, em Faro, onde foi tomar a bica. “Não vou pedir factura por um café”, garante. Mas se alguém se lembrar de pedir comprovativo do pagamento da “raspadinha” ou da compra do maço de tabaco?, observa Miguel Duarte, lembrando que estes artigos não pagam IVA, mas os consumidores podem, mesmo assim, pedir factura e habilitar-se ao sorteio do automóvel.
 
 

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