Cinco igrejas cristãs assinam documento de reconhecimento mútuo de baptismo

Católicos, anglicanos, metodistas, presbiterianos e ortodoxos passam a aceitar, de forma oficial e a partir deste sábado, pessoas baptizadas por qualquer uma destas igrejas.

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Reconhecimento existia na prática mas agora é oficial Foto: Rui Gaudêncio

O documento, que foi publicado na íntegra no blogue Religionline, será assinado pela Igreja Católica Romana, pela Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica, pela Igreja Evangélica Metodista, pela Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal e pela Igreja Ortodoxa do Patriarcado de Constantinopla.

Antes da assinatura deste documento, existia já um reconhecimento da validade do baptismo, o que significava que, por exemplo, uma pessoa que quisesse passar de uma igreja para a outra o pudesse fazer sem ser rebaptizada. Também em caso de matrimónios mistos – entre pessoas de diferentes igrejas – o baptismo era aceite. Mas o documento vem tornar este reconhecimento oficial.

“Havia várias situações em que esse reconhecimento era feito, mas dependia também da relação entre o pastor e o padre, da abertura que havia e das relações a nível local entre os representantes destas igrejas”, explica Sandra Reis. A partir deste sábado, já “não depende das boas relações a nível local, de relações de proximidade”: “Agora é a outro nível”, frisa a pastora.

No texto, lê-se que estas igrejas decidiram tornar público e oficial este reconhecimento por estarem “conscientes da concordância” que já existe “sobre os pontos fundamentais de doutrina e prática baptismal” e ainda por constatarem que na prática esse “reconhecimento mútuo da validade” já existia. O documento exclui assim a possibilidade do rebaptismo nos casos de passagem de membros de uma igreja para outra e aceita como válidos os certificados de baptismo emitidos por estas igrejas.

Sandra Reis diz que a assinatura pública do documento é “um passo” que torna “visível” a unidade entre estas igrejas: “É um contributo para a caminhada ecuménica em Portugal”, nota, acrescentando que é uma mensagem de diálogo e entendimento que importa passar aos crentes e ao público em geral.

“Começa a ficar claro que não é pelo facto de termos posturas diferentes em termos doutrinais que não há diálogo. Pelo contrário, isso deve promover o diálogo e o diálogo já o estamos a fazer. Não quer dizer que não haja diferenças. Se fossemos iguais não precisávamos de dialogar”, nota ainda Sandra Reis.

Processo longo

Apesar de as reuniões preparatórias para a criação deste documento remontarem há mais de uma década – há cerca de doze anos –, o conteúdo só foi aceite pelas diferentes igrejas em 2006 e aprovado no ano passado pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP). A assinatura ficou marcada para este ano, no contexto da celebração nacional da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.

O pastor da Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal, José Leite, que foi presidente Conselho Português de Igrejas Cristãs e um dos mentores e defensores desta ideia, sublinha que se trata de um documento “relevante” em termos de diálogo ecuménico – entre as igrejas cristãs: “Não basta dizer que temos unidade. É preciso fazer algo visível para que o público veja a unidade e este é um desses actos”, diz, notando que gostava que o próximo passo fosse o reconhecimento de uma eucaristia comum. “O baptismo e a eucaristia são comuns às igrejas cristãs. Mas o ponto da eucaristia já não é para o meu tempo, é mais delicado”, ressalva José Leite.

Também José Jorge, bispo da Igreja Lusitana, entende que a assinatura do documento é “acima de tudo um sinal de reconhecimento e união que as igrejas dão à sociedade”: “Pela primeira vez, as igrejas assinam a concordância em relação à validade do sacramento do baptismo”, diz, acrescentando que o documento também é “importante” por esclarecer “o pensamento, a doutrina e a prática relativa ao baptismo”.

O padre Manuel Morujão, porta-voz da CEP, salienta que "é um passo que se dá numa linha que é a da procura da unidade entre as diversas confissões cristãs": "Está a seguir-se o caminho certo que é o da união", diz, frisando que o acto vai acontecer numa igreja lusitana onde marcarão presença representantes de "várias confissões", incluindo o patriarca de Lisboa e presidente da CEP, Manuel Clemente, em representação da Igreja Católica. "É um gesto concreto de aproximação, e não uma simples declaração de intenções, com vista à unidade entre várias igrejas cristãs", sublinha Manuel Morujão.

O documento não é subscrito por todas as igrejas cristãs que existem em Portugal. José Leite nota, a título de exemplo, que, entre outras, não estão incluídas as que pertencem à Aliança Evangélica, as Testemunhas de Jeová nem as Igrejas Adventistas. “Dentro da grande variedade de igrejas que existem em Portugal, há umas mais envolvidas na caminhada ecuménica e outras não, mas no futuro poderão vir a fazê-lo também”, acrescenta José Jorge que acredita que este documento vai “abrir uma nova etapa no diálogo ecuménico”, entre as igrejas cristãs em Portugal.
 
 

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