António Arnaut denuncia "sombra tenebrosa e sufocante" que invade Portugal

Ex-ministro da Saúde classificou o Governo como "corja" na sessão "Em Defesa da Constituição, da Democracia e do Estado Social

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Para António Arnaut (à dta.) a questão que se está a pôr ao Estado Social é, acima de tudo, ideológica Adriano Miranda

Portugal está a ser invadido por uma “sombra tenebrosa e sufocante” que não tem “regras nem açaimes”, afirmou esta terça-feira, em Coimbra, o antigo ministro e ex-deputado do PS, António Arnaut.

O fundador do Serviço Nacional de Saúde (SNS) falou no auditório da reitoria da Universidade de Coimbra (UC), na “sessão cívica em defesa da Constituição, da democracia e do Estado social”, promovida por um grupo de cidadãos de Coimbra, “de todos os quadrantes políticos”. “Anda pelo país uma sombra tenebrosa e sufocante que invade todos os pontos cardeais”, alertou António Arnaut, considerando que essa mesma sombra não tem “regras nem açaimes”, sendo como “um vómito asqueroso e repulsivo”.

A Constituição da República "foi escarnecida" e, enquanto a pobreza, o medo e o desemprego “aumentaram”, os “bilionários multiplicaram-se”, sublinhou o fundador do SNS. António Arnaut referiu que, ao mesmo tempo, assiste-se no país a “uma gestão danosa e à corrupção” por parte de governantes “incompetentes e submissos ao grande capital”.

Governantes esses que apelidou de “corja”, palavra que António Arnaut diz ter-se lembrado no dia 01 Janeiro de 2014, data em que escreveu o seu discurso, quando viu duas crianças a gritar de “fome e de frio” enquanto remexiam no lixo à procura de comida, como contou, emocionado.

“O dinheiro é um Deus supremo e este sistema [financeiro] deve ser condenado por todos os homens livres”, defendeu o também antigo ministro de Mário Soares e deputado à Assembleia Constituinte.

António Arnaut afirmou, indignado, que [os governantes] “amarraram os escravos até à exaustão da esperança”, frisando que “há fome nas bocas e nas almas” dos portugueses.

Na sessão, em que participaram cerca de meio milhar de pessoas, também falaram José Dias (independente), o antigo deputado do CDS Ferreira Ramos, a bloquista Catarina Isabel Martins, o comunista Jorge Gouveia Monteiro, o antigo candidato à Presidência da República Manuel Alegre e o social-democrata Jaime Ramos.

Jaime Ramos, antigo deputado e ex-governador civil de Coimbra, falou em substituição do antigo presidente da Assembleia da República António Barbosa de Melo, que não participou na sessão por razões de saúde, segundo explicou António Arnaut, que presidiu à iniciativa.

O encontro reuniu pessoas de “todos os quadrantes políticos, desde a área da democracia cristã à área comunista”, como sublinhou a organização, referindo, no entanto, que os oradores falavam em nome pessoal.

Na sessão participaram, entre outros, Manuel Machado (presidente da Câmara de Coimbra), Helena Freitas (vice-reitora da UC), Leal Pedrosa (vigário geral da Diocese de Coimbra), Rosário Gama (presidente da APRE), Rui Alarcão e Seabra Santos (antigos reitores da UC), José Reis (director da Faculdade de Economia da UC), os professores universitários Joaquim Gomes Canotilho, Abílio Hernandez, José Manuel Pureza, Luís Reis Torgal e Agostinho Almeida Santos os sindicalistas Fátima Carvalho e Ricardo Pocinho, a antiga deputada e ex-presidente da Misericórdia de Lisboa Fernanda Mota Pinto e os antigos deputados Teresa Alegre Portugal e António Campos.