Há mais um lince português a viver em terras de Espanha

Junípero é o nome do lince nascido em Silves há dois anos e libertado nesta quarta-feira na Andaluzia. A população desta espécie em risco de extinção aumentou em 2013.

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Junípero foi libertado nesta quarta-feira na zona de Guadalmellato DR

Nascido em 2012, filho da fêmea Fruta e do macho Fresco, Junípero é uma das crias bem-sucedidas no centro de Silves, que se revelou em 2013 a melhor maternidade para o lince-ibérico, com uma taxa de sobrevivência superior à dos centros de reprodução espanhóis. À semelhança dos outros linces-ibéricos já libertados, também Junípero tem um colar de radiotransmissão para que seja possível saber a sua localização.

O animal foi libertado na zona de Guadalmellato, na Andaluzia, Sul de Espanha, ao abrigo do projecto luso-espanhol LIFE Iberlince, que arrancou em 2011. Este projecto promove a reprodução em cativeiro como solução para reforçar as duas únicas populações existentes em estado selvagem, em Doñana e na Serra de Andújar, na região da Andaluzia – que é, por isso, a única onde até agora foram introduzidos indivíduos nascidos nos centros de reprodução. No entanto, o objectivo é também recuperar as populações que existiam em Portugal, na Extremadura espanhola e em Castela-La Mancha.

As próximas zonas de reintrodução da espécie serão definidas em Fevereiro, numa reunião que vai juntar todos os parceiros envolvidos no projecto, portugueses e espanhóis. Pela primeira vez, este ano poderá haver libertações em Portugal, como foi anunciado em Outubro pelo secretário de Estado do Ordenamento do Território e Conservação da Natureza, Miguel Castro Neto. Em estudo está a zona do vale do Guadiana, em Mértola (Alentejo). Do lado espanhol, estão a ser analisadas as as zonas do vale de Matachel (Badajoz), Guadalcanal-Valdecigüeñas (Sevilha-Badajoz), Montes de Toledo e Cabañeros (Toledo) e o Campo de Calatrava (Cidade Real).

"O lince-ibérico não conhece fronteiras, mas antes de fazermos a introdução dos animais nascidos em cativeiro é preciso fazer um estudo das condições, e tanto em Portugal como em Espanha esse estudo ainda está a ser concluído", afirma Eduardo Santos, da Liga para a Protecção da Natureza, coordenador do projecto LIFE Habitat Lince-Abutre, cujo objectivo é a promoção do habitat destas duas espécies no sudeste de Portugal.

Uma das condições obrigatórias para a libertação é garantir, por exemplo, a população de coelho-bravo, que está na base da dieta do lince-ibérico. "A reintrodução é apenas uma ferramenta para a conservação do lince, não é um objectivo em si. Por isso, e porque este é um esforço ibérico, os linces deverão ir para os locais com melhores condições, em Portugal ou em Espanha, na Andaluzia ou fora dela", explica.

População aumentou, mas pouco
Com a libertação de Junípero, aumenta para 37 o número de linces de cativeiro introduzidos na natureza. Desses 37, 12 nasceram no centro do Algarve, tendo seis sido soltos na zona de Guadalmellato (Córdoba) e os restantes seis na zona de Guarrizas (Jaén), também na Andaluzia, segundo o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF).

Nesta quarta-feira, a Junta de Andaluzia divulgou os resultados do censo de 2013 efectuado à população desta região, que apontam para um ligeiro aumento no número de indivíduos em relação a 2012: existem actualmente 319 linces-ibéricos, mais oito do que em 2012. A maior parte (169) habita nos parques naturais de Cardeña-Montoro (Córdoba) e a Serra de Andújar (Jaén), e 85 vivem na zona de Doñana-Aljarafe, segundo os dados divulgados pela Junta.

Estes números estão, porém, já desactualizados. Nas primeiras duas semanas de Janeiro foram encontrados os cadáveres de dois linces-ibéricos, segundo as notas divulgadas no site do projecto LIFE Iberlince: um macho de dois anos, encontrado a 6 de Janeiro após ter sido atropelado na zona de Azuel (Córdoba), e outro com quase dois anos, encontrado morto três dias depois na linha ferroviária Linare – Alcázar de San Juan, em Guarrizas (Jaén).

Além de um aumento populacional, a Junta de Andaluzia registou mais fêmeas territoriais, que representam o potencial reprodutor da espécie em liberdade. O número de fêmeas fixadas num território e em idade de reprodução aumentou para 92, mais sete do que em 2012. Apesar disso, o número de crias é menor: 54 indivíduos, menos 24 do que no ano anterior. Segundo o Conselho de Meio Ambiente e Ordenamento do Território da Andaluzia, a redução estará relacionada com a diminuição de alimento disponível em Andújar-Cardeña, devido à nova estirpe da doença hemorrágica do coelho-bravo.

O censo revelou ainda uma maior dispersão geográfica da espécie – ocupa agora uma área de 1093 quilómetros quadrados, sendo que em 2012 ocupava 1073 quilómetros quadrados.

Recorde de atropelamentos
Em 2013 houve também um aumento no número de atropelamentos. No total, morreram 24 indivíduos em liberdade, 14 por atropelamento (oito na Serra Morena e seis em Doñana) – o dobro das mortes registadas pela mesma causa no ano anterior. É a maior taxa de atropelamentos desde que há registos oficiais.

A Junta de Andaluzia acredita que este aumento se deve, por um lado, à diminuição da população de coelho, que obriga os linces a dispersar em busca de comida, e por outro lado, ao próprio aumento populacional que implica um alargamento da área onde se encontra a espécie.

A introdução dos linces na natureza começou em Fevereiro de 2011. Antes de serem libertados, os animais são submetidos a treinos de caça e sobrevivência para conseguirem sobreviver por meios próprios. O lince-ibérico é a espécie de felino mais ameaçada do mundo, classificada como criticamente em perigo de extinção na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza.
 

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