Portas tenta apagar imagem de caprichoso e apresenta 2014 como ano da viragem

No primeiro dia do XXV Congresso, o líder do CDS justifica-se perante os militantes e deixa críticas aos "excessos" da troika.

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Portas ouviu o velho amigo Luis Nobre Guedes acusá-lo de ter falhado Fotos de Paulo Pimenta
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No primeiro dia do XXV Congresso do CDS, Paulo Portas esforçou-se por apagar uma imagem de um político volátil. “Deixo de lado aqueles que acharam que era um capricho ou um enfado, não conhecem o meu sentido de missão, mas o meu partido conhece-o”, afirmou o vice-primeiro-ministro.

“O partido deve apenas saber que actuei em último e exclusivamente em último recurso, por entender que se nada fosse feito a coligação poderia deteriorar-se e isso poria em risco aquilo que é um bem essencial para todos: termos governo que chegue para vencer o resgate ”, acrescentou.

Sem nunca pronunciar a palavra irrevogável (que utilizou na sua demissão em Julho), Portas somou outro argumento. Era preciso “equilibrar o económico e o financeiro” na coligação e virar o Governo para um novo ciclo económico, que fosse de crescimento”.

O balanço da remodelação que promoveu o líder do CDS a vice-primeiro-ministro é positivo.“O que teve de ser teve muita força, a crise foi superada e a meu ver o Governo está mais forte, concluiu, num tom apaziguador mas também “pedagógico”, como fez questão de dizer.

Com um discurso optimista para Portugal em 2014, Paulo Portas apontou o fim do programa de resgate, a 17 de Maio, como a prioridade do país e do partido. “Há vida para além da troika, há vida com crescimento, em 2014 recuperaremos a autonomia, retomaremos a economia, em 2014 cessa o protectorado, embora não desapareçam os constrangimentos, em 2014 há um moderado lugar para a esperança, 2014 será na verdade será o primeiro ano em que se pode falar de Portugal depois da troika e da economia depois da recessão”, sustentou.

No pós-troika, Portas vê uma margem de liberdade do Governo para escolher as suas políticas, embora sem perder os objectivos orçamentais. E sublinhou-o com um tom crítico. “O credor impõe o objectivo e tem um poder excessivo para alcançar essas políticas”, censurou, desejando que “não mais suceda um co-Governo com os credores”.

Poucos dias depois de o Governo ter aprovado mais uma penalização para os reformados, o líder do CDS não perdeu de vista um dos seus eleitorados alvos, precisamente os idosos. “Em tempos de excepcionalidade não há óptimos sociais, mas há fronteiras: o contributo do CDS foi sempre salvaguardar e proteger”, defendeu, numa alusão à rejeição da TSU dos pensionistas e ao agravamento da Contribuição Extraordinária de Solidariedade.

Sem críticas directas ao Tribunal Constitucional, Paulo Portas falou do princípio da confiança – que o tribunal considera estar em causa na convergência das pensões – para defender que não são apenas os pensionistas actuais que têm direitos. Defendeu a criação de um sistema de Segurança Social de capitalização para assegurar as futuras reformas dos mais jovens.

PS criticado, PSD poupado
Se o PSD foi poupado nas críticas, já o PS esteve debaixo de fogo. Portas acusou os socialistas de serem incoerentes ao pretender uma saída limpa do resgate e ao mesmo tempo “defendem que o Tribunal Constitucional deite abaixo as medidas que inviabilizam que Portugal termine o programa de assistência financeira em Maio”.

O partido liderado por António José Seguro esteve na mira de muitas críticas ao longo da tarde de ontem do congresso. Telmo Correia, que apresentou a moção global do presidente do partido, não perdoou: “É pena que o maior partido da oposição tenha escolhido quase sempre o caminho da demagogia, mas lá aprovou a reforma do IRC, menos mal”.

Num congresso em que existia a expectativa que, desta vez, Filipe Anacoreta Correia, do Movimento Alternativa e Responsabilidade (MAR) fosse a jogo, o principal opositor interno de Portas não se definiu de forma clara, embora tenha assumido disponibilidade para ir a votos. “Ninguém me condiciona, sou dono e senhor dos meus actos e se há coisa de que não tenho medo é de perder”., declarou o líder do MAR perante o Congresso, acrescentando: “Darei a cara, irei a votos. Chamo-me Filipe Anacoreta Correia, tenho 41 anos. Se for preciso sou candidato à liderança do partido”.

Num discurso repleto de críticas à liderança de Paulo Portas, Anacoreta Correia disse que o “Congresso é o momento de se mostrar ao país o que se pensa”. Depois pediu mudança e insurgiu-se contra o “conformismo” do partido no Governo.

O tema das eleições europeias foi lançado para o debate e o líder da tendência crítica à direcção declarou que “o Congresso deve ser livre”, desafiando Paulo Portas a dizer se existe liberdade para os militantes se pronunciarem sobre as eleições europeias, sobre as quais há um compromisso de coligação pré-eleitoral com o PSD.

Nobre Guedes acusa Portas de falhar
A resposta por parte da direcção não se fez esperar. Nuno Melo, vice-presidente, levantou o Congresso ao afirmar que o CDS é um partido de gente livre”. “Filipe, se pensas que só quem te apoia é gente livre no CDS, para começo de conversa eu não sou cativo de ninguém, nem me parece que Paulo Portas tenha sido eleito por cativos”, declarou o eurodeputado, depois de afirmar: “O fogo amigo também mata. E o fogo amigo, para ser amigo, tem que ser involuntário. E o teu muitas vezes não o parece”.

José Manuel Rodrigues, líder do CDS-Madeira, uma das vozes críticas das posições do CDS no Governo, foi ao congresso justificar o voto contra do deputado eleito por aquela região autónoma relativamente ao Orçamento de Estado de 2014. E curiosamente argmentou com uma frase que está inscrita na moção de Paulo Portas quando disse que nas medidas desse OE governou contra as suas próprias convicções”.

Apontado como um trunfo dos críticos de Portas para liderar a lista à mesa do Conselho Nacional, Luís Nobre Guedes também deixou palavras críticas ao sistema e desafiou Portas a reformá-lo. “Há 25 anos o doutor Paulo Portas, eu próprio e uma geração tivemos um sonho de construir um Portugal diferente. Não fomos capazes”, disse o antigo ministro do Ambiente do anterior governo PSD/CDS, acrescentando que Portugal continua a ser um país “clientelar, cheio de estruturas inúteis, só servem para a voragem das clientelas partidárias”.

Mas não ficou por aqui. E desafiando directamente Portas, rematou: “Meu caro Paulo, aquilo que decidires a maioria do congresso vai seguir. A questão é muito simples. Queremos apenas ser melhores que os outros a gerir este sistema ou queremos mudar o sistema”. 
 

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