Presidente interino da República Centro-Africana demite-se
Além de Michel Djotodia, que assumiu a presidência em Março de 2013 após um golpe, foi anunciada a saída do primeiro-ministro Nicolas Tiangaye.
Além da demissão de Djotodia, o primeiro líder muçulmano do país, que assumiu a presidência em Março de 2013 após um golpe da sua aliança rebelde Seleka que derrubou o anterior Governo de Bangui, foi anunciada a saída do seu primeiro-ministro, Nicolas Tiangaye. Os dois eram duramente criticados há vários meses, pela sua alegada incapacidade ou incompetência no restabelecimento da ordem na República Centro-Africana RCA).
Num curto comunicado, os líderes da Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC), um bloco que agrega dez países, comunicaram a “demissão do chefe de Estado interino e do primeiro-ministro [da República Centro Africana], uma decisão altamente patriótica e que se felicita para que o país possa sair da paralisia”.
A cimeira, que arrancara na quinta-feira, tinha sido suspensa para que os 135 membros do Conselho Nacional de Transição, um órgão parlamentar provisório estabelecido após a deposição do Governo do antigo Presidente François Bozizé, pudessem viajar de avião até à capital do Chade, N’Djamena.
O afastamento de Michel Djoboti e dos seus aliados políticos no Governo era entendido como uma “condição essencial” para o arranque de negociações com vista à reconciliação nacional e o fim das hostilidades sectárias. “Claramente, a transição [de poder na RCA] não funcionou como se esperava. As autoridades que assumiram a responsabilidade pelo processo não foram capazes de responder às necessidades e às exigências dos centro-africanos e da comunidade internacional, nomeadamente na garantia da ordem e da segurança”, referiu o Presidente do Chade, Idriss Déby.
Segundo as agências, a responsabilidade de escolher um novo Governo para a República Centro-Africana recai agora sobre os legisladores do Conselho Nacional de Transição. “O Conselho Nacional de Transição deverá estabelecer rapidamente uma alternativa provisória [de Governo], com o objectivo de organizar eleições antes do fim do ano”, observou o ministro da Defesa da França, Jean-Yves Le Drian.
A antiga potência colonial fez deslocar um contingente militar de 1600 homens para a sua antiga colónia: nesta sexta-feira, os soldados franceses e as tropas de uma missão da União Africana montaram guarda ao palácio presidencial em Bangui e assumiram o controlo da segurança na capital – onde a notícia da demissão de Michel Djoboti foi celebrada com tiros.
Além da França e dos países vizinhos – que sentiam já o impacto da crise humanitária provocada pelos combates na RCA – também as Nações Unidas tinham feito duras críticas à aparente indiferença e passividade de Djoboti e do seu executivo perante o alastramento da violência entre milícias cristãs e rebeldes muçulmanos, que obrigou mais de um milhão de pessoas (cerca de 20% da população do país) a fugir de casa.
Desde Dezembro, já morreram mais de mil pessoas em ataques motivados por rivalidades étnicas mas sobretudo por divisões inter-religiosas, suscitadas pela tomada do poder pela rebelião muçulmana, concentrada no Norte da RCA e militarmente mais poderosa. As milícias anti-balaka, hostis ao presidente interino, assumiram o combate em nome da resistência cristã.