Cidades francesas proíbem espectáculo do humorista Dieudonné
Autor do já famoso gesto quenelle, considerado anti-semita, anuncia que vai processar ministro do Interior por difamação.
O último a anunciar a decisão foi o prefeito do Loire-Atlantique, departamento no Oeste de França que inclui a cidade de Nantes, onde a tournée do Le Mur deveria arrancar na quinta-feira. “Após proceder à análise das circunstâncias particulares do espectáculo, decidi assinar em consequência a decisão de interdição”, anunciou Christian de Lavernée.
Antes dele, já o presidente da Câmara de Tours (Oeste), o socialista Jean Germain, tinha decidido proibir o espectáculo agendado para sexta-feira na cidade, seguindo a decisão anunciada na véspera por Alain Juppé, dirigente da UMP (direita) e actual autarca de Bordéus. Decisões idênticas são esperadas em Orleães, Nancy ou Estrasburgo, onde Dieudonné conta já com lotações esgotadas para o espectáculo de stand-up que estreou em Paris, sempre com casa cheia.
As proibições acontecem depois de o ministro do Interior, Manuel Valls, ter enviado na segunda-feira uma circular aos responsáveis das cidades por onde passará a tournée, recordando-os que poderiam invocar “riscos de perturbações graves à ordem pública” para impedir a realização do espectáculo. Associações judaicas francesas tinham anunciado a intenção de se manifestar à porta do Zénith de Nantes, dando argumentos aos que anteviam a possibilidade de confrontos antes ou depois do espectáculo.
O Presidente francês, François Hollande, juntou-se também à pressão contra o humorista, ao apelar aos representantes do Estado para se mostrarem “vigilantes e inflexíveis” face “ao anti-semitismo, às perturbações da ordem pública suscitadas por provocações indignas e face à humilhação que representam as discriminações”.
Dieudonné, filho de um camaronês e de uma francesa, foi condenado várias vezes por incitação ao ódio racial e está habituado a provocar polémica com declarações sobre os judeus, Israel e os Estados Unidos. Mas a polémica nunca foi tão grande como agora, alimentada pela popularidade que ganhou a quenelle, um gesto que diz ser anti-sistema e anti-sionista, mas que os seus detractores, incluindo organizações judaicas, interpretam como uma saudação nazi invertida.
O humorista defende-se com a liberdade de expressão e insiste que a denúncia que faz nada tem a ver com anti-semitismo, mesmo que muitos dos que lhe imitam o gesto o façam com outras intenções. Os seus advogados anunciaram nesta terça-feira que Dieudonné vai recorrer das interdições e apresentar queixa contra Valls, a quem acusam de proferir “acusações atentatórias à honra” do humorista.
O Le Monde noticiou entretanto que Dieudonné, com dívidas superiores a 800 mil euros ao erário francês, está a ser investigado pela procuradoria de Orleães por suspeitas de branqueamento de capitais relacionadas com o envio, desde 2009, de 400 mil euros para os Camarões.