Mau tempo provoca derrocadas em Coimbra e cheias em Águeda

Acidente em stand de automóveis de Coimbra não provocou feridos. Em Barcelos, caiu parte de tecto de conservatória e Braga tem estrada de acesso ao Bom Jesus cortada. Douro já chegou ao bar do cais da Régua e prevê-se que o caudal continue a subir.

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A derrocada do stand em Coimbra provocou apenas danos materiais Adriano Miranda
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No início do ano, Coimbra sofreu muitos estragos por causa das cheias Adriano Miranda
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O Parque Verde do Mondego foi submerso pelo rio Adriano Miranda
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Só o urso do Parque Verde do Mondego parece deleitar-se com a subida das águas do rio Adriano Miranda

O deslizamento de terras ocorreu perto do final da manhã, no Bairro de São Miguel, junto à rotunda da Estrada de Eiras. Um dos responsáveis da empresa, a Ferreira Morais & Morais, esteve no local, mas escusou-se a falar aos jornalistas.

"São coisas que acontecem. Felizmente não houve vítimas", comentou o vereador Jorge Alves, que tutela os Sapadores de Coimbra, no local. O presidente da Junta de Freguesia de Eiras, Fernando Abel, obervou que aquela estrutura, com colunas na base, existia "há pelo menos 20 anos", sem que nada sugerisse que a derrocada pudesse vir a acontecer.

Segundo fonte dos Bombeiros Sapadores de Coimbra, houve outro desabamento em Eiras, na Rua 25 de Abril, que também atingiu uma viatura. A mesma fonte adiantou que, também neste caso, não se registaram vítimas. Já de madrugada, quatro pessoas foram desalojadas devido ao perigo de desabamento da habitação e, de acordo com a mesma fonte, um muro de grande porte ameaçava ruir sobre a Estrada da Beira (EN17), por causa do excesso de água acumulada. Por cima do muro, existe uma habitação que a Protecção Civil também considera em perigo.

Ainda em Coimbra, o rio voltou a galgar as margens do Parque Verde do Mondego, invadindo alguns dos bares da zona.

Em Águeda, o rio e as chuvas das últimas horas voltaram a deixar a cidade com ruas alagadas e alguns moradores retidos em casa. Não há, contudo, pessoas em risco, garantiu à Lusa Jorge Almeida, da Protecção Civil municipal. "Temos uma situação de cheia desde ontem [quinta-feira], à noite. Durante a noite as águas do Águeda desceram um pouco, mas já voltou a subir porque a madrugada foi muito chuvosa. Não há nenhuma situação que coloque pessoas em risco. Na zona baixa da cidade temos algumas ruas já inundadas, com cerca de meio metro de altura. Há estabelecimentos comerciais afectados e um ou outro morador retido em casa e estamos a promover que chegue lá alimentação e outros bens", descreveu.

Segundo Jorge Almeida, que é vice-presidente da Câmara de Águeda, a situação é agravada pela obra que está a decorrer na ponte de Águeda, da responsabilidade das Estradas de Portugal. "Os cilindros metálicos de suporte à construção do novo tabuleiro estão a funcionar como barragem e a dificultar ainda mais. Uma das grandes operações que estamos a fazer permanentemente é retirar o que podemos de detritos que vêm rio abaixo, mas não conseguimos chegar ao meio do rio e acumulam-se ali lenhas, funcionando como um açude, o que aumenta a altura da água a montante, com repercussões na cidade. Se não fossem as obras na ponte, seria uma cheia normal", explicou.

Quanto às medidas anunciadas para controlar as cheias que ocorrem frequentemente em Águeda, nomeadamente o desvio do caudal para um canal secundário e a substituição de taludes por pilares, com o prolongamento do tabuleiro de duas pontes para que deixem de funcionar como barreiras, o autarca lamenta a demora do Ministério do Ambiente, que deveria co-financiar as obras. "O canal secundário não está concluído e ainda não está a fazer a função, e, nas duas pontes que se previa o alargamento das secções de vazão, ainda não começaram as obras porque o Ministério do Ambiente reteve essas obras tempo de mais, apesar de serem idealizadas e projetadas pelo então INAG e por técnicos do Estado que estudaram bem as cheias de Águeda", criticou.

Jorge Almeida referia-se aos projectos de prolongamento das pontes de Óis da Ribeira e do Campo, e de um novo canal, para controlar as cheias do rio Águeda na Baixa da cidade, obras que, no seu conjunto, ultrapassam 2,6 milhões de euros. A diferença do nível da água a montante e a jusante das duas pontes, nas grandes inundações de 2001, levou o então Instituto Nacional da Água a projectar o alargamento da sua secção de vazão, substituindo por pilares os aterros que foram feitos para as estradas, para facilitar a passagem da água.

A intervenção para fazer face às cheias cíclicas na cidade comporta também a construção de um canal artificial com 22 metros de largura e 800 metros de extensão, destinado a recolher as águas e a devolvê-las ao rio, a jusante das pontes, o qual também ainda não está aberto.

No Minho, uma parte do tecto da Conservatória do Registo Civil de Barcelos ruiu na manhã desta sexta-feira, na secção de atendimento ao público, mas não atingiu funcionários nem utentes, informou fonte daquele organismo. Segundo a fonte, a derrocada deu-se cerca das 9h30, numa altura em que estavam vários utentes na sala.

A conservatória continua aberta ao público, estando o atendimento a funcionar com a "normalidade possível". Um buraco no tecto e baldes no chão é o cenário com que se depara quem ali se desloca. A derrocada terá sido provocada pelas chuvadas dos últimos dias. A Lusa contactou a responsável pela conservatória, que se escusou a prestar declarações, por questões de hierarquia.

Na mesma região, um acesso ao Bom Jesus, em Braga, está condicionado devido a uma derrocada causada pelo mau tempo da madrugada, que levou ao corte do trânsito em Tenões, na área de acesso aos elevadores do santuário, informa a autarquia. Segundo um comunicado enviado nesta sexta-feira à Lusa pela Câmara de Braga, o referido acesso encontra-se cortado para que a Protecção Civil possa remover árvores que "oferecem risco à população". "Ainda não há previsão para a conclusão" dos trabalhos. A autarquia recorda que é possível aceder ao Bom Jesus pela Estrada de São Pedro de Este ou pela Falperra.

Douro já chegou ao cais da Régua
Na Régua, o nível do Douro subiu cerca de "metro e meio" nas últimas horas, atingindo o cais fluvial da cidade e obrigando à retirada dos equipamentos dos dois estabelecimentos comerciais ali instalados, disse fonte dos bombeiros. O comandante dos Bombeiros da Régua, António Fonseca, disse à Lusa que os voluntários estão no local a ajudar à retirada dos equipamentos e mobiliário do bar instalado no cais, que já foi atingido pelo rio. "Faltam cerca de 30 centímetros para atingir o bar", referiu o responsável.

Entretanto, foram também já retirados os materiais da loja de artesanato da associação Amigos Abeira Douro. "Já tirámos as coisas com os pés na água", afirmou à Lusa Manuel Mota, presidente da associação, que acrescentou que a subida das águas "foi repentina" e de certa forma surpreendente, uma vez que havia a indicação de que o nível do rio "iria descer". Manuel Mota teme que a situação se possa complicar nas próximas horas, até porque continua a chover neste território. António Fonseca, por seu lado, salientou que o rio "subiu cerca de um metro e meio" desde quinta-feira. No local estão 16 voluntários, que contam com o apoio de três viaturas.

Também o responsável pela Protecção Civil municipal, Manuel Saraiva, admite que a situação pode piorar nas próximas horas, prevendo uma subida de caudal do Douro até um metro acima do cais fluvial da Régua. "O Douro prega-nos algumas partidas porque temos alguns afluentes que não são controlados pelas barragens, como por exemplo o Corgo e o Varosa. O conhecimento que nós temos é que a bacia hidrográfica de todo o rio Douro está muito, muito sobrecarregada", salientou Manuel Saraiva, em declarações à Lusa.

Mais a Norte, também o Rio Ave transbordou, e a zona do Parque das Azenhas, na Trofa, ficou submersa. Os prejuízos deverão ser "elevados", embora ainda não estejam quantificados. De acordo com o relato feito à agência Lusa pelo responsável da Polícia Municipal (PM) da Trofa, Vítor Pinto, a subida do caudal do rio Ave, que ocorreu a partir das 20h de quinta-feira, está a causar "grandes estragos" no concelho da Trofa, desde estradas fechadas à circulação a zonas submersas e intransitáveis.

Na freguesia de S. Romão do Coronado permanecem fechadas duas estradas devido à derrocada de terra. Já na freguesia de Santiago há registo, neste momento, do fecho de "três a quatro estradas secundárias". Vítor Pinto explicou que o primeiro alerta de emergência, devido à subida das águas do rio e à forte precipitação, foi dado às 20h de quinta-feira, tendo, "de imediato" sido encerradas duas estradas nacionais: a EN14, que só foi reaberta às 12h de sexta-feira, e a EN104, que reabriu às 8h.

"Ambas as estradas estão já transitáveis, mas é necessária e aconselhável muita cautela. Estas estradas estão a ser vigiadas e alvo de muita preocupação por parte dos serviços de emergência da Trofa. Devido à muita chuva, o piso está saturado e não consegue absorver as águas. É necessário esperar que o rio vaze para o mar", descreveu Vítor Pinto.

No distrito de Coimbra, na Praia de Mira, a subida das águas nos terrenos em redor do edifício da Obra do Frei Gil obrigou à retirada de 15 crianças, que foram acolhidas temporariamente na Casa Sagrada Família, uma unidade de alojamento e colónia de férias, junto à Barrinha de Mira. Os menores foram realojados "apenas como medida de precaução", por decisão da Protecção Civil Municipal de Mira, tendo em conta que, devido à chuva, o nível das águas da Barrinha continuava a subir.

À tarde, pelas 16h45, o trânsito foi cortado por precaução na Estrada Nacional 109, na zona da Figueira da Foz, devido ao desabamento de uma habitação. A fachada de um prédio devoluto caiu para a via, sem causar vítimas, na povoação do Outeiro, arredores da Figueira da Foz, disse à agência Lusa a fonte do CDOS de Coimbra.

Mau tempo no fim-de-semana
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) emitiu nesta sexta-feira avisos meteorológicos para o fim-de-semana devido à agitação do mar, rajadas de vento até 100 km/h e precipitação, que será de neve nas terras altas. Segundo a última actualização do IPMA, os distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Leiria e Lisboa estão sob aviso laranja, o segundo mais grave de uma escala de quatro, entre as 12h desta sexta-feira e as 6h de domingo, devido à agitação marítima, com ondas de noroeste entre cinco e sete metros de altura.

O aviso laranja, que implica uma situação meteorológica de risco moderado a elevado, vigora também para os distritos de Setúbal, Beja e Faro, entre as 6h de sábado e a mesma hora de domingo, devido à agitação do mar, com ondas de noroeste entre os cinco e os seis metros de altura.

Ao longo desta sexta-feira e madrugada de sábado, estes distritos estão sob aviso amarelo, o terceiro mais grave da escala, devido à agitação do mar, com ondas de noroeste entre quatro e cinco metros de altura.

O IPMA colocou sob aviso amarelo, que significa risco para determinadas actividades dependentes da situação meteorológica, os distritos de Bragança, Braga, Aveiro, Guarda, Vila Real, Viseu e Coimbra, devido ao vento forte, com rajadas de 100 km/h nas terras altas e 80 km/h nas faixas litorais, entre as 3h e as 9h de sábado. O mesmo aviso vigora para Porto, Viana do Castelo e Leiria, com rajadas de 80 km/h no litoral e 100 km/h nas terras altas, entre as 3h e as 12h de sábado, e para Lisboa, Setúbal e Beja, entre as 6h e as 12h de sábado, com rajadas de 80 km/h no litoral e de 100 km/h no mesmo horário nas terras altas de Portalegre.

O aviso amarelo foi ainda emitido devido a precipitação, com aguaceiros por vezes fortes de granizo acompanhados de trovoada e rajadas fortes, entre as 0h e as 13h de sábado, no Porto e em Aveiro. O mesmo aviso devido à precipitação está também em vigor, no mesmo horário, em Viana do Castelo, Braga, Vila Real e Viseu, onde, acima dos 800 metros, é esperada queda de neve.

Guarda e Bragança estão sob aviso amarelo, entre as 0h e as 13h de sábado, devido à queda de neve em cotas acima dos 800 metros.

Também a Marinha Portuguesa emitiu um aviso para toda a comunidade marítima, em particular para a comunidade piscatória e a náutica de recreio, para "redobrar a atenção no cumprimento escrupuloso de todos os procedimentos e regras de segurança no mar” durante o fim-de-semana.
 
Notícia actualizada às 20h15 com novos informações de outros pontos do país