Combates na cidade de Bor põem em causa negociações para cessar-fogo no Sudão do Sul
Delegações que representam o Governo e os rebeldes confirmaram presença em reunião na Etiópia, mas mediadores temem que confrontos deitem tudo a perder.
A cidade foi tomada pelos rebeldes do chamado Exército Branco (uma milícia étnica), que de acordo com a descrição de um repórter da Al-Jazira, recorreram a drones para forçar os soldados do Exército a uma “retirada estratégica” e reclamaram o controlo do território. Bor é um ponto estratégico no centro do país, uma região rica em reservas petrolíferas. Segundo a CNN, os combates prosseguiam também em Bentiu, no estado de Unity.
Os acontecimentos em Bor deixavam no limbo o processo negocial para um cessar-fogo, marcado para Addis-Abeba, sob a mediação da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD, na sigla original) e a União Africana. “Esperamos que as duas delegações compareçam e comecem a conversar para resolver este conflito de uma vez por todas”, disse à Reuters o ministro etíope dos Negócios Estrangeiros, Tedros Adhanom. “Mas tememos que os combates em Bor possam deitar tudo a perder”, confessou.
Mais de mil pessoas já morreram nos confrontos que eclodiram a 15 de Dezembro em Juba, e rapidamente se estenderam a mais de metade do país, forçando mais de 200 mil pessoas a abandonar as suas casas, segundo a Agência das Nações Unidas para os Refugiados. Ontem em Bor, pelo menos nove mil pessoas foram buscar refúgio numa base da ONU – por todo o país, as instalações das Nações Unidas albergam já mais de 63 mil pessoas.
O Presidente Salva Kiir manifestou disponibilidade para declarar um cessar-fogo, mas exigiu que o seu adversário concordasse em depôr as armas para participar nas conversações de Addis-Abeba. No entanto, Machar diz que só aceitará as tréguas depois de negociar os mecanismos de monitorização do acordo. Apesar das diferenças, as duas partes confirmaram o envio de delegações para a reunião da Etiópia.
Os dois protagonistas deste duelo têm uma longa história de rivalidade pessoal e política – complicada pelas tensões étnicas que estão a alimentar o conflito. O Presidente, que pertence à maioria dinka, demitiu Riek Machar e dissolveu o Governo em Julho de 2013, acusando o antigo vice-presidente de tentativa de golpe de Estado em nome do grupo dos nuer, uma etnia minoritária.