David Santos é o novo director do Museu do Chiado em Lisboa

O novo director já estava na segunda-feira no Museu do Chiado. Foi aliás para este museu que fez o seu primeiro trabalho de curadoria em 2000.

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A nomeação foi conhecida na segunda-feira ao fim da tarde através de um comunicado da Direcção-Geral do Património Cultural e, ao PÚBLICO, o novo director explicou que um dos seus objectivos será retomar uma “grande atenção à arte que se faz hoje”, enquadrando-a com “trabalho historiográfico, através de grandes exposições antológicas e retrospectivas”.  

David Santos conhece tanto o museu como a sua equipa. Formado em História da Arte pela Universidade Nova de Lisboa, com um mestrado em História Política e Social pela Lusófona e, hoje, doutorando em Arte Contemporânea no Colégio das Artes, da Universidade de Coimbra, fez o seu primeiro projecto de curadoria precisamente para o Museu do Chiado: a exposição retrospectiva que, em 2000, o museu dedicou ao pintor surrealista Marcelino Vespeira. Ainda para o museu, foi responsável por quatro das mostras que o Chiado fez no Museu Tavares Proença Júnior de Castelo Branco, tendo trabalhado obras da colecção de entre 1900 e 1960.

Pedro Lapa, hoje director do Museu Colecção Berardo, era então responsável pelo Chiado, onde esteve entre 1998 e 2009, e diz que este novo nome é uma “excelente escolha”: “Um historiador de grande qualidade e provas dadas.”

Sublinhando uma já “vasta experiência curatorial”, Lapa acrescenta: “O David Santos conhece muito bem toda a produção nacional do século XX, mas também a arte contemporânea dos séculos XX e XXI”. Isto, refere, é “muitíssimo importante” num museu cuja missão entende ser mostrar a evolução da arte portuguesa de meados do século XIX até hoje. “É fundamental que um director do Chiado tenha uma visão transversal e não esteja só vinculado ao passado ou ao presente.”

Apesar de há um ano e meio ter dito que seria candidato ao Chiado, contactado ontem pelo PÚBLICO, Paulo Henriques, de 56 anos, explicou que, para além de não se ter apresentado a concurso, decidiu ainda pedir aposentação antecipada face à actual falta de condições de trabalho no sector da Cultura. “Não há perspectivas positivas”, disse.

“Esforçamo-nos, mas quando deixamos de acreditar não vale a pena esforçarmo-nos.”

O historiador de arte Paulo Henriques, que no último ano e meio assumiu interinamente este cargo, juntou-se à já pesada lista de nomes de topo no sector da Cultura demissionários ou que não se apresentarão aos novos concursos obrigatórios para cargos de direcção no Estado, incluindo Maria João Seixas, da Cinemateca Portuguesa, Silvestre Lacerda, da Torre do Tombo, José Pedro Ribeiro, do Instituto do Cinema e do Audiovisual, e Samuel Rego, da Direcção-Geral das Artes.

Depois de dirigir instituições como o Museu José Malhoa, o Museu Nacional do Azulejo, e o Museu Nacional de Arte Antiga, Paulo Henriques aponta as “grandes dificuldades” gerais e, no caso concreto do Museu do Chiado, “a dependência absoluta dos eventuais mecenas”, devido à falta de apoio directo do Estado.

David Santos, que na segunda-feira estava já no Museu do Chiado, escusou-se a comentar o orçamento de 2014 previsto para o museu e que deverá ser anunciado no princípio do ano. Em vez disso, e apesar das dificuldades de captação de apoios mecenáticos vivida pela generalidade das instituições portuguesas, sublinhou a importância deste tipo de apoios. “Há alternativas que estão já a ser trabalhadas.”

 Desde 2007 que David Santos acumulava as suas funções como director do Museu do Neo-Realismo de Vila Franca de Xira com outros cargos nesta autarquia, entre eles a coordenação do Centro Cultural do Bom Sucesso, em Alverca do Ribatejo (2009-2012), a direcção do Departamento de Cultura, Turismo e Actividades Económicas da Câmara de Vila Franca de Xira (Agosto de 2012-Maio de 2013) e, até agora, a direcção do Departamento de Educação e Cultura também de Vila Franca de Xira (em regime de substituição).

O escritor António Pedro Pita, ex-responsável pela Direcção Regional de Cultura do Centro, professor da Universidade de Coimbra e especialista no neo-realismo, elogia o trabalho de David Santos no Museu do Neo-realismo, que foi acompanhando de perto. “Conseguiu uma coisa muito importante, que foi impor o neo-realismo como objecto cultural, para lá da questão memorial e existencial, e fazer do museu o lugar onde esse objecto é estudado com rigor.”

Acrescenta que conseguiu também “dar uma espécie de posteridade à preocupação realista, mostrando que essa preocupação, que o neo-realismo concretizou à sua maneira, se prolongou nas práticas artísticas até aos dias de hoje”.

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