Venda de cigarros electrónicos deverá movimentar 1500 milhões de euros em 2013
Não há certezas sobre os efeitos destes produtos na saúde e os mais críticos afirmam que se trata de vender “adição à nicotina” e dar glamour ao acto de fumar.
Só o mercado norte-americano poderá representar cerca de mil milhões de dólares (726 milhões de euros) deste volume de negócios, disse à Reuters uma analista do Wells Fargo Bank, em Nova Iorque. A expectativa é que em 2017 o mercado de cigarros electrónicos, que nos Estados Unidos são vendidos entre 30 a 50 dólares por unidade (entre 22 e 36 euros), já represente vendas de 10.000 milhões de dólares (7000 milhões de euros).
A analista do Wells Fargo Bonnie Herzog acredita que, daqui a quatro anos, as vendas de cigarros electrónicos já terão batido as vendas de cigarros normais, ainda que estas estimativas não tenham em conta eventuais impactos de medidas regulatórias aplicáveis à sua comercialização.
Nos Estados Unidos não existe qualquer enquadramento regulatório sobre a venda de cigarros electrónicos, os e-cigarettes, mas também não existem certezas quanto ao facto de serem isentos de prejuízos para a saúde. Apesar de aparentemente serem menos perigosos (e de permitirem aos consumidores reduzir substancialmente a despesa mensal em tabaco), as vozes mais críticas dizem que os cigarros electrónicos podem ter o efeito perverso de levar mais pessoas a fumar e de impedir que outras pura e simplesmente abandonem o vício.
“Essencialmente, as empresas de e-cigarettes estão a vender adição à nicotina”, disse à Reuters o director científico da Fundação Mundial do Pulmão, Neil Schluger, que defende a aplicação de restrições ao seu consumo. “Assim que as pessoas estiverem presas à nicotina, podem vender-lhes uma série de coisas, incluindo cigarros convencionais. Trata-se de um gigantesco cavalo de Tróia”, garante o médico.
Sabores variados, do bacon à pastilha elástica
A Organização Mundial de Saúde ainda não determinou os efeitos para a saúde deste produto que apareceu na China, em 2006, e que utiliza vapores de líquidos com ou sem nicotina, sem elementos tóxicos como o alcatrão. Mas, além de se considerar que podem ter o feito de manter ou criar a dependência da nicotina, teme-se que vulgarizem e atribuam glamour ao acto de fumar, atraindo ainda mais jovens para este vício e destruindo todo o investimento que se tem feito em prevenção e sensibilização para os perigos do tabagismo.
Na dúvida, há países como o Brasil, a Noruega e Singapura que os baniram do mercado. Por cá, espera-se que entre em vigor no próximo ano a nova lei do tabaco, mas não é certo que haja regulamentação específica sobre os cigarros electrónicos. A proposta de directiva aprovada em Outubro no Parlamento Europeu deixou cair a ideia de equiparar estes cigarros a medicamentos, de forma a tornar a sua venda mais controlada.
Nos Estados Unidos tem crescido o debate sobre a necessidade de regulamentar a venda destes produtos e espera-se que a Food and Drug Administration publique legislação sobre cigarros electrónicos ainda este mês. Uma porta-voz desta agência governamental norte-americana disse à Reuters que é necessária “mais pesquisa para se perceber os potenciais riscos ou benefícios para a saúde pública dos cigarros electrónicos e outros novos produtos de tabaco”.
E se há estados norte-americanos como o Utah, Dakota do Norte, Arkansas e New Jersey que já legislaram no sentido de proibir estes cigarros em todos os espaços onde é proibido fumar, em Nova Iorque tem-se verificado um aumento e, cada vez maior popularidade, dos chamados e-cigarette lounges, espaços com música, onde as pessoas podem experimentar cigarros com sabores que vão do bacon à pastilha elástica.
Ainda assim, segundo a Reuters, é provável que as autoridades de Nova Iorque proíbam já na próxima semana o uso de cigarros electrónicos em locais públicos. A cidade foi uma das primeiras a banir o consumo de tabaco em espaços públicos e quaisquer novas normas deverão influenciar outras urbes, como Chicago, que tem critérios de controlo semelhantes.