E o Argentinosaurus voltou a andar 94 milhões de anos depois

Investigadores ingleses, em colaboração com um museu argentino, recriaram os passos de um dos maiores dinossauros herbívoros que alguma vez caminhou sobre o nosso planeta.

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Reconstituição do Argentinosaurus no Museu Municipal de Carmen Funes, na Argentina Bill Sellers/Universidade de Manchester

O Argentinosaurus huinculensis é um dos maiores saurópodes que alguma vez pisou a superfície da Terra, com pegadas de um metro de diâmetro nas patas dianteiras, e um metro e meio nas patas traseiras. Este herbívoro quadrúpede de pescoço e cauda bastante longos viveu durante o período Cretácico, há cerca de 94 milhões de anos. Deve o seu nome ao local onde foi encontrado – Plaza Huincul, uma cidade na Argentina.

Não existe, actualmente, nenhum animal com o qual os investigadores pudessem comparar os movimentos do enorme saurópode, mas os padrões de vários animais existentes podem ser testados para avaliar quais os que fazem mais sentido biológica e mecanicamente para este animal. Desta forma, é possível criar uma simulação por computador suficientemente fiável e que permita testar as hipóteses que forem sendo propostas.

“Se queremos descobrir como é que os dinossauros andavam, a melhor abordagem é através de simulações de computador”, afirma William Sellers, no comunicado de imprensa da universidade. “É a única forma de juntar todas as informações diferentes que temos sobre este dinossauro para conseguir reconstruir os seus movimentos.”

A primeira fase da construção do modelo baseou-se na digitalização de um esqueleto da espécie, uma reconstrução presente no Museu Municipal Carmen Funes, da cidade onde foi encontrado o fóssil. Apesar de a reconstrução do “Argentinosaurus huinculensis” se basear apenas em alguns ossos e fragmentos, foi calculado que teria um peso estimado entre as 60 e as 88 toneladas.

Definiram-se três segmentos de movimento para cada perna, e assumiu-se que a cauda, o pescoço e a cabeça teriam um comportamento semi-rígido, neste modelo. “É possível modelar cada osso como um segmento independente, mas fazê-lo aumenta bastante o tempo de cálculo”, referem os autores no seu artigo.
 
Passada tranquila
A recriação dos músculos também foi simplificada para reduzir o tempo de computação. “[Mesmo assim] usámos o equivalente a 30 mil computadores pessoais para que o Argentinosaurus desse os seus primeiros passos”, reforça Lee Margetts, investigador neste projecto. Os músculos foram reduzidos a cilindros ligados estrategicamente aos ossos, com indicação das possíveis acções funcionais e das articulações principais. O mais importante para a modelação do movimento é, neste caso, a massa muscular que existe no animal. O modelo tridimensional tinha uma massa estimada de 83 toneladas.

Com o dinossauro virtual pronto, os cientistas só precisavam de lhe dar o impulso inicial para o pôr em marcha. Apesar de não conseguir manter uma marcha contínua e de alguns parâmetros necessitarem de ser afinados, o certo é que este dinossauro voltou a andar. Para lá do andar robótico e das limitações da simulação (a cauda e o pescoço não mexem), podemos ver num vídeo como a caminhada do Argentinosaurus é tranquila. E como primeiro se mexem as patas do lado direito e depois as do esquerdo.

“Para conseguir uma melhor simulação, foi definido uma passada com cerca de três metros de comprimento, e o animal seguia a uma velocidade de sete quilómetros por hora”, revelou ao PÚBLICO William Sellers.

O software utilizado, o GaitSym, é de acesso livre e já foi usado na reconstrução de outros vertebrados, como grandes primatas (homem, chimpanzé e orangotango) e no dinossauro com bico-de-pato Edmontosaurus, garantindo um elevado nível de qualidade anatómica.

A equipa da Universidade de Manchester prepara-se agora para, utilizando este método, recriar os passos de outros dinossauros como o Triceratops, o Brachiosaurus e o Tyrannosaurus rex.

 
 
 
 

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