Tuberculose está a estabilizar em Portugal, mas casos resistentes ainda são elevados
Relatório da OMS estima que em 2012 tenham existido 8,6 milhões de casos em todo o mundo. Em Portugal, foram notificadas 2402 novas infecções.
De acordo com o documento, devido à doença, morreram no ano passado 140 pessoas (sem contar com os doentes que também estavam infectados pelo vírus da imunodeficiência humana), quando em 2011 tinham sido 150 e no ano anterior 130.
O problema é que, ao mesmo tempo que se parece estar a controlar a infecção, começam a crescer os casos que preocupam mais os profissionais de saúde: a chamada tuberculose extrapulmonar, que registou 670 casos em 2012, o que corresponde já a 28% do total. Em 2011, tinham sido 629 casos, mas no ano anterior tinham sido mais: 679.
Além disso, assistiu-se também a um grande número indesejável de casos de tuberculose multirresistente, com um total de 1219 casos a merecerem teste laboratorial e 12 a darem positivo, o que representa cerca de 1,5% do total – um número que baixou ligeiramente em relação aos anos anteriores, mas que, mesmo assim, está um pouco acima das médias europeias. China, Índia e Rússia são os países com piores resultados internacionais.
Mau uso de antibióticos
A infecção por tuberculose, uma doença que afecta os pulmões, é causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis. O problema é que, ao mesmo tempo que se tem conseguido reduzir o número de novos casos de tuberculose em todo o mundo, estão a aumentar as situações em que os doentes não respondem aos antibióticos que existem – e que são praticamente os mesmos há várias décadas.
O número de casos anuais de pessoas com tuberculose multirresistente já ultrapassa os 450 mil e os clínicos falam mesmo numa tuberculose extensivamente resistente, isto é, ainda mais difícil de tratar, e que corresponde a 9% destes casos. A OMS reconhece também as duas situações distintas de estirpes resistentes: a tuberculose multirresistente, que não reage aos dois principais antibióticos de primeira linha, mas que é susceptível aos antibióticos de segunda linha; e a tuberculose extensivamente resistente, que também não reage a um dos três antibióticos de segunda linha.
Aliás, em Março, no Dia Mundial da Tuberculose, tinham precisamente sido divulgados dados da Direcção-Geral da Saúde (DGS) e do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças que indicavam que, em Portugal, enquanto os novos casos da doença diminuíram, as formas mais raras, as extrapulmonares, estavam a aumentar.
Esses dados davam conta de que a incidência da tuberculose em geral diminuiu cerca de 6% em 2012, face ao ano anterior, mas as formas raras da doença, mais difíceis de diagnosticar, eram superiores à média europeia. A fasquia da baixa incidência é de 20 casos por 100 mil habitantes e o país ainda está longe dela.
Quanto às tuberculoses raras, extrapulmonares – como as pleurais, linfáticas, gastrointestinais ou ósseas –, representavam 30% dos casos, mais 8% do que a média europeia, segundo o relatório do centro europeu divulgado nessa altura. Além disso, no país existem cada vez mais casos de doentes com tuberculose e infectados com VIH/sida.
Um dos problemas do país está precisamente no mau uso e no abuso de antibióticos, o que faz com que os doentes ganhem resistência a este tipo de medicamentos e que não consigam debelar as infecções, nomeadamente nos casos da tuberculose multirresistente. Por isso mesmo, o Governo atribuiu, no passado mês de Fevereiro, o estatuto de programa nacional prioritário ao combate às infecções e às resistências aos antibióticos que, desta forma, passaram a integrar a lista das áreas prioritárias sob a responsabilidade da Direcção-Geral da Saúde.
Mortalidade mundial caiu 45% desde 1990
No relatório desta quarta-feira, em termos globais, a Organização Mundial da Saúde estima que o número de novos casos de tuberculose tenha vindo a cair – em linha, aliás, com o que estava inscrito nos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Desde 1990, a mortalidade associada à doença caiu 45%, pelo que a barreira dos 50% está perto, considera a OMS. E, desde 1995, as estimativas apontam para que se tenha tratado cerca de 56 milhões de pessoas e salvo 22 milhões de vidas.
Ao todo, em 2012, o número de doentes caiu para 8,6 milhões e o número de mortos para 1,3 milhões. Ainda assim, a organização mostra-se preocupada com o número de doentes que ainda não têm acesso a cuidados de saúde, sobretudo no caso da tuberculose multirresistente, o que facilita que a doença se espalhe.
A forma multirresistente da doença duplicou desde 2011, com 450 mil casos em 2012. Além disso, nas contas da OMS, uma em cada três pessoas que têm a doença não chegam a ter um diagnóstico, apelando-se a que se aloquem mais recursos para os programas dedicados à doença – sobretudo nos países em desenvolvimento, já que se estima que 75% dos casos não diagnosticados sejam em apenas 12 países.
Em 2012, cerca de 20% dos casos que já existiam de tuberculose eram multirresistentes e 3,6% dos novos também. Porém, em 2010, só 48% dos doentes chegaram ao fim do tratamento com sucesso, o que justifica os números negativos. É nestes casos que a OMS se quer centrar nos próximos anos, sobretudo quando há outras patologias associadas, nomeadamente populações mais vulneráveis como os doentes com VIH/sida.