Renamo rompe tratado de paz de 1992 em Moçambique
A antiga guerrilha acusou Forças Armadas de terem cercado base onde está o seu líder.
"A atitude irresponsável do comandante geral das forças de segurança põe fim ao tratado de paz", afirmou à AFP o porta-voz do partido em Maputo, Fernando Mazanga. "A responsabilidade é do Governo da Frelimo porque não quis ouvir as queixas da Renamo", declarou ainda, citado pela Reuters.
Após confrontos na área, as Forças Armadas tomaram a base Sathunjira da Renamo, na Gorongosa (província de Sofala), a cerca de 600 quilómetros a norte de Maputo, onde Afonso Dhlakama se tinha aquartelado, há cerca de um ano.
Fernando Mazanga tinha dito na tarde desta segunda-feira à RDP África que Afonso Dhlakama tentou entrar em contacto com o Presidente moçambicano, para saber por que estavam a ser bombardeados. Adiantou também que estavam a decorrer saques e que a população da zona procurava refúgio.
A Reuters cita também Mazanga, dizendo que Dhlakama lhe telefonou a contar que tinha conseguido fugir da base e que estava bem de saúde.
O porta-voz do Ministério da Defesa, Cristovão Chume, disse que forças do Governo assumiram o controlo da base da Gorongosa em resposta a um ataque da Renamo contra uma posição do exército moçambicano. Disse ainda que Dhlakama tinha fugido, juntamente com outros ocupantes da base.
A Renamo recusa-se a participar nas eleições autárquicas marcadas para 20 de Novembro, por discordar da composição dos órgãos eleitorais que, considera, favorecerem a Frelimo, o partido que tem a maioria no Parlamento. As eleições presidenciais e legislativas estão marcadas para 15 de Outubro de 2014, e Dhlakama diz que também não participará nesta votação, se não for corrigido o que ele diz serem distorções na lei eleitoral que desfavorecem o seu partido..
Escalada da tensão
O episódio é mais um passo na escalada da tensão político-militar em Moçambique, onde um acordo de paz foi assinado em 1992, pondo fim a 16 anos de guerra entre a antiga guerrilha da Renamo e o Governo da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique). Nos últimos meses multiplicaram-se os casos de tensão e escaramuças entre as partes.
O Governo de Armando Guebuza acusa a Renamo de estar a tentar desestabilizar o país e levá-lo de volta à guerra. Enviou um reforço de tropas para Sofala para proteger o tráfego automóvel e as vias-férreas, que a Renamo ameaçou cortar. Raides da Renamo em Abril e Junho resultaram na morte de, pelo menos, 11 soldados e polícias e seis civis, e obrigaram a uma suspensão temporária das exportações de carvão. O turismo foi também afectado.