Secretário de Estado “não vai deixar cair” novo Museu dos Coches
Fechado e vazio, o novo museu projectado pelo arquitecto brasileiro Paulo Mendes da Rocha deverá custar até ao final do ano 300 mil euros. Se estivesse aberto, explicou no Parlamento Barreto Xavier, custaria três milhões. O polémico "caso Crivelli" voltou a estar em cima da mesa, mas sem novidades.
Barreto Xavier, que fala esta quarta-feira na Comissão de Educação, Ciência e Cultura, no Parlamento, garantiu ainda assim que o Governo não vai “deixar cair uma situação entretanto assumida”. Isto apesar dos seus custos, que o secretário de Estado comparou com os do actual Museu dos Coches: “hoje o museu custa menos de um milhão de euros por ano e tem receitas inferiores a 500 mil euros/ano”. “Onde se vai buscar os dois milhões que falta?”, perguntou-se Barreto Xavier quanto à forma como operacionalizaria o edifício do Prémio Pritzker Paulo Mendes da Rocha. “Estamos a trabalhar nisso”, disse, defendendo que a situação financeira do país condiciona as escolhas da tutela. “Não vou pôr lá dinheiro que preciso de gastar na Cinemateca…”, exemplificou, tocando num tema muito falado na comissão.
“Perante esta situação, o investimento no Museu dos Coches não é prioritário”, repetiu o secretário de Estado, depois de ter sido questionado pelo tema por um deputado da coligação governamental que apelidou o edifício de “mamute branco” e “uma obra de regime”. Jorge Barreto Xavier contrapôs, ainda assim, que Paulo Mendes da Rocha é um arquitecto “notável” e que “uma obra dele em Lisboa é obviamente um valor a ter em conta”.
O edifício em Belém, cuja construção foi orçada em 35 milhões de euros e está sob a tutela da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), encontra-se terminado desde o final de 2012 e parte das suas reservas já estão na nova estrutura, onde também já estão depositados os materiais do centro de documentação e biblioteca do actual museu. Há ainda trabalhos de operacionalização do edificado, como a electricidade ou telecomunicações, que foram recentemente terminados.
Ainda o "caso Crivelli"
A sessão na comissão parlamentar ainda está a decorrer e muitos são os temas em agenda. O polémico "caso Crivelli" não podia estar afastado de mais uma ida de Barreto Xavier a S. Bento. O PCP e o Bloco de Esquerda (BE) quiseram saber em que pé está a situação da pintura Virgem com o Menino e Santos (século XV), do mestre renascentista Carlo Crivelli, que terá sido vendida no estrangeiro pelo seu proprietário, o empresário Miguel Pais do Amaral, depois de a sua exportação definitiva ter sido autorizada pelo anterior secretário de Estado da Cultura (SEC), Francisco José Viegas, gerando grande controvérsia.
Catarina Martins, deputada e dirigente do BE, perguntou simplesmente onde é que está, afinal, a obra de Crivelli - em Portugal ou fora? -, insistindo numa questão que o comunista Miguel Tiago levantara intantes antes. "A DGPC está a desenvolver procedimentos para dar resposta a questões como essa", disse apenas Barreto Xavier, não dando quaisquer pormenores.
De recordar que em Julho, falando na mesma comissão, o SEC informara os deputados de que tinha decidido “revogar” a autorização de venda definitiva no estrangeiro da pintura do artista representado em alguns dos melhores museus do mundo e ausente das colecções públicas portuguesas. Na altura, acrescentou ainda que seria a DGPC a conduzir a reabertura do delicado processo envolvendo Pais do Amaral.
O deputado do PCP Miguel Tiago confrontou também o secretário de Estado com um possível corte de 56 milhões de euros no orçamento para a Cultura nos compromissos a assumir pelo Governo com a troika, mas Barreto Xavier respondeu: "Não comento aqui documentos de negociação entre a troika e o Governo."
Notícia corrigida: Até ao momento, o novo museu custou ao Estado 189 mil euros e não 182 mil.