Grande coligação de centro-direita sob pressão de pequenos partidos na Áustria

Partido de extrema-direita é uma das formações que pode baralhar contas nas legislativas de hoje na Áustria, mas eleitores devem renovar mandato do bloco central liderado pelo social-democrata Werner Faymann.

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O pouco carismático Faymann exclui a entrada do FPÖ na coligação Petr Josek/Reuters

As sondagens ainda dão a liderança nas intenções de voto ao Partido Social Democrata (SPÖ) do actual chanceler Werner Faymann, a força maioritária na política austríaca do pós-guerra. Com os seus parceiros conservadores do Partido do Povo Austríaco (ÖVP), controlavam 70% da Assembleia Nacional que agora cessa funções: essa confortável maioria já exprimia, porém, o pior resultado eleitoral de sempre dos dois partidos.

Não se espera que a votação de hoje resulte num corte radical com o passado, mas é possível que leve a uma redistribuição dos assentos no Parlamento e, consequentemente, a um realinhamento político no governo do país. À semelhança da vizinha Alemanha, a Áustria tem sobrevivido sem traumas à crise do euro: com estabilidade política, prosperidade económica e uma taxa de desemprego baixa, não há motivos óbvios para os eleitores castigarem os seus governantes nas urnas.

Os últimos números do instituto OGM colocam o SPÖ à frente com 27 a 28%, e o ÖVP logo atrás, com 22 a 25%. Mas apesar de garantir a manutenção do seu partido no poder, Werner Fayman, um político pouco carismático, poderá ter de negociar a formação de um novo governo com mais do que um partido: uma coligação a três seria absolutamente inédita na história da Áustria.

Desde 1945, as grandes coligações, que juntaram os moderados, conservadores e liberais, foram responsáveis por mais de metade dos governos austríacos. Até ao fim da década de 70, os dois grandes partidos representavam mais de 90% do eleitorado. Mas a sua hegemonia eclipsou-se e, nos últimos cinco anos, uma miríade de pequenos partidos, dos eurocépticos, aos ecologistas, ultra-liberais e nacionalistas, passou a assumir maior protagonismo na cena política.

Durante a campanha, os sociais-democratas estiveram debaixo do fogo dos seus parceiros de coligação mais à direita: a ferocidade dos aliados de governo não tem apenas a ver com o desejo do ÖVP de catapultar o actual vice Michael Spindelegger para o cargo de chanceler. É também um sintoma da intensa pressão da extrema-direita: Heinz-Christian Strache, o homem que tomou conta do Partido da Liberdade (FPÖ) mas não gosta de ser comparado ao seu polémico antecessor Jörg Haider, é o candidato que mais ameaça o (precário) equilíbrio da coligação – e que pode introduzir um elemento de incerteza nas negociações pós-eleitorais.

As sondagens mostram que um em cada cinco austríacos está disponível para dar o seu voto ao técnico dentário de 44 anos, que pede para ser tratado por HC: o seu impacto eleitoral poderá ser semelhante ao de Haider no ano 2000.

Um partido eurocéptico e anti-imigração

Há 13 anos, a ascensão vertiginosa do líder da extrema-direita “furou” a grande coligação: Haider, que morreu em 2008 num acidente de viação, levou o seu partido para o Governo (na altura liderado pelo ÖVP), causando calafrios aos aliados europeus, que impuseram sanções temporárias à Áustria por causa da sua declarada simpatia por políticas nazis, por exemplo em termos de emprego.

Mas antes da sua morte, Haider já se tinha tornado uma irrelevância eleitoral, com discórdias internas a provocarem uma cisão nas bases do partido. A Aliança para o Futuro da Áustria (BZÖ) que fundou em 2005, não deverá chegar aos 4% de votos que garantem a entrada no parlamento.

Com um sorriso imaculado e slogans vagamente bíblicos, HC Strache redefiniu a plataforma nacionalista do FPÖ, identificado como o partido eurocéptico e anti-imigração. Os seus cartazes apelam ao “amor pelo vizinho”, mas Strache esclarece sempre que “para mim isso quer dizer ama os austríacos”, a quem promete um aumento das pensões e o estabelecimento de um salário mínimo. As sondagens dão-lhe 20%, o que a confirmar-se coloca os dois partidos maioritários numa situação difícil – tanto Fayman como Spindelegger afastaram a possibilidade de chamar o FPÖ para o Governo.

No entanto, avisou o analista político e líder do instituto de sondagens OGM, Wolfgang Bachmayer, “essas posições de princípio podem ser ajustadas em função dos resultados finais, particularmente a atitude do ÖVP em relação ao partido de Strache, que poderá ser bem diferente”.

Se os dois líderes mantiverem a sua palavra, o cenário fica aberto para os Verdes, conduzidos por Eva Glawischnig, e que segundo as pesquisas também deverão reforçar a sua representação na Assembleia Nacional (14-15% dos votos). Ao contrário dos seus principais adversários, nenhum dos candidatos do partido, mais virado para a esquerda, viu o seu nome envolvido ou associado a casos de corrupção ou favorecimento político.

Uma outra campanha que surpreendeu foi a do milionário austríaco radicado no Canadá Frank Stronach, que aos 81 anos, e depois de fazer fortuna como fabricante de peças para a indústria automóvel, regressou ao país e lançou um movimento populista. A “Equipa Stronach”, como lhe chamou, ultrapassa alguns partidos tradicionais nas sondagens das intenções de voto: debaixo do slogan “Verdade, Transparência, Justiça – Novos Valores para a Áustria” , poderá ultrapassar os 6% e impedir que os também novos ultra-liberais do Partido da Nova Áustria (NEOS) cheguem ao Parlamento.

Stronach tem disputado o prémio da fotogenia com Strache, posando em tronco nu e posição atlética para convencer os austríacos de que apesar da idade está apto a governar. Entre as suas ideias mais controversas estava uma proposta de revisão do código penal para inscrever a pena de morte para os “assassinos a soldo” ou a criação de uma moeda nacional que circularia em simultâneo com o euro.

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