Estudo conclui que existem traços ligeiros de autismo em raparigas com anorexia

Através da medição de três quocientes, investigação concluiu existirem semelhanças quando à obsessão por sistemas e detalhes.

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Os autores do estudo defendem que a proporção de mulheres com autismo pode estar a ser negligenciada ou mal diagnosticada Eva Carasol

Para esta investigação foram analisados dois grupos de adolescentes. Um com 66 raparigas com anorexia confirmada clinicamente, com idades entre os 12 e os 18 anos. Um segundo grupo era formado por 1609 adolescentes sem o distúrbio alimentar, com o mesmo intervalo de idades. Ambos foram submetidos a testes de medição dos quocientes do espectro de autismo, de sistematização e de empatia.

Quando comparadas com raparigas sem qualquer perturbação no quociente do espectro de autismo, as adolescentes anorécticas mostraram um número de traços autistas acima da média. O mesmo se passou ao ser analisado o seu interesse em repetição de padrões e sistemas com regras previsíveis. Ficaram, no entanto, abaixo da média quanto à empatia, uma característica semelhante, ainda que menos pronunciada, ao verificado em pessoas com autismo.

Segundo o estudo, divulgado esta terça-feira, estas conclusões sugerem que as duas disfunções podem ter em comum traços subjacentes.Simon Baron-Cohen, citado no comunicado publicado pela Universidade de Cambridge, sublinha que “tradicionalmente, a anorexia tem sido vista apenas como um distúrbio alimentar”. O especialista em autismo diz tratar-se de uma conclusão “razoável”, uma vez que “o perigo do baixo peso e o risco de malnutrição ou mesmo morte tem que ser a principal prioridade” em casos de anorexia.

Mas Baron-Cohen argumenta que há novos dados que podem mudar a forma como deve ser abordado um determinado caso de anorexia. “Esta nova investigação sugere que subjacente ao comportamento superficial, a mente de uma pessoa com anorexia pode partilhar muito com a mente de uma pessoa com autismo”.

Semelhanças
O investigador realça depois algumas semelhanças encontradas no estudo, nomeadamente o facto de na anorexia e no autismo existir “um forte interesse em sistemas”. No caso das raparigas com anorexia, estas adoptam sistemas rotineiros centrados no peso, alimentos ingeridos e estrutura do corpo. Surgem assim traços semelhantes quanto à existência de comportamentos e atitudes rígidas ou a obsessão com os detalhes.

Bonnie Auyeung, um dos elementos da equipa que realizou o estudo, sublinha outra das conclusões que podem ser retiradas deste trabalho. A especialista, que trabalha no Departamento de Psiquiatria da Universidade de Cambridge, realça que o autismo é “diagnosticado mais frequentemente nos homens” mas que a “proporção de mulheres com autismo pode estar a ser negligenciada ou mal diagnosticada, por serem casos que chegam às clínicas com sendo de anorexia”.

E de que forma o estudo agora apresentado pode ajudar? Tony Jaffa, outro dos responsáveis pela investigação, explica que, por exemplo, nas anorécticas pode tentar alterar-se os seus interesses obsessivos pelo peso e dietas para uma forma equilibrada de trabalhar o modo como vêem o corpo. “Reconhecer que alguns doentes com anorexia podem também precisar de ajuda com competências sociais e de comunicação e na adaptação à mudança, também nos dá um novo ângulo de tratamento”, defende.

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