Árvore escolhida para a sequenciação do genoma do sobreiro é de Montargil

O projecto que vai sequenciar a árvore mais importante para a silvicultura portuguesa já está em andamento e poderá encontrar indicadores para melhorar a produção de cortiça.

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O sobreiro escolhido para ser sequenciado ainda vai viver mais algumas décadas DR

“A importância deste projecto é muito grande. Poderão vir a encontrar-se soluções para os problemas que afectam os montados”, explica João Pereira Lopes, que desde 1983 é responsável pelo montado do distrito de Portalegre, e que já teve visitas internacionais como a de um congresso da Organização da ONU para a Alimentação e Agricultura (FAO), em 1960, sobre floresta mediterrânica. O próprio Joaquim Vieira Natividade, engenheiro silvicultor e o mais importante especialista português de sobreiros do século XX, intervencionou nesta herdade na década de 1940.

Contas feitas, o sobreiro escolhido é bem mais velho do que estes acontecimentos, nasceu no século XIX, mas viveu o suficiente para passar a fazer parte da espécie que é a árvore nacional em 2011. Poderá ainda ter mais algumas décadas de vida produtiva – o Quercus suber (nome em latim do sobreiro) pode estar em produção até aos 180 a 200 anos –, e cumpre os objectivos que a equipa do projecto definiu. Era necessário encontrar um exemplar saudável, com uma esperança de vida de 20 ou 30 anos e com cortiça de qualidade. A árvore tinha de estar suficientemente isolada de espécies como a azinheira, para não haver um perigo de ser um híbrido - algo que acontece frequentemente entre estas espécies de Quercus. Além disso, é uma árvore suficientemente pura a nível genético para facilitar o trabalho de sequenciação.

Esta é a primeira vez que uma equipa totalmente portuguesa vai sequenciar um organismo superior. "A ideia da sequenciação do genoma do sobreiro já é bastante antiga", diz Sónia Gonçalves, investigadora principal do projecto e chefe do grupo de Genómica Agronómica do Centro de Biotecnologia Agrícola e Agro-Alimentar do Baixo Alentejo e Litoral (CEBAL), em Beja. "Somos os maiores produtores mundiais em cortiça e também devemos ser o país que detém o maior conhecimento da espécie, e estar na vanguarda da investigação."

O conhecimento de todos os genes do sobreiro estabelecerá um patamar novo na investigação desta espécie. Será possível olhar para genes específicos e procurar por marcadores genéticos que revelem se um sobreiro vai dar boa cortiça, aumentando assim a produtividade de um montado. Outro objectivo é procurar por genes que se activam quando a árvore luta contra infecções. Um dos problemas com que a indústria se depara é o declínio do sobreiro. As causas parecem ser muitas: as alterações climáticas, o mau uso do solo, ou um fungo que se encontra quando o sobreiro já está a morrer. Mas a questão está longe de ser inteiramente compreendida.

Líderes mundiais
Os sobreiros são uma das árvores que definem o Centro e o Sul do país, responsáveis pelas paisagens do montado, juntamente com a azinheira, e dos sobreirais – menos conhecidos e mais frequentes no Sul do país. As condições climáticas mediterrânicas típicas conjugadas com a influência do atlântico que não deixa os Verões serem demasiado quentes, tornam Portugal ideal para o crescimento do sobreiro que sobrevive a solos pobres e é muito resistente aos incêndios.

Por isso, os dados do 6.º Inventário Florestal Nacional, de Fevereiro de 2013, não surpreendem: a espécie cobre 737 mil hectares do país, o que representa 23% da área florestal portuguesa, só ficando atrás do eucalipto, e possibilita que Portugal seja responsável pela produção de 52% da cortiça do mundo.

"Existe um único produto sustentável e renovável em que somos líderes, que é a cortiça", explica por sua vez José Matos, que faz parte do projecto e é investigador principal do grupo de Biologia Molecular do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), em Oeiras, onde nesta quarta-feira se deu a apresentação da árvore. Por isso, o sobreiro "é uma árvore que merece toda a nossa atenção", diz o biólogo.

Em Outubro de 2012 foi assinado o projecto de 30 meses que vai custar 1,13 milhões de euros: 85% virão do Quadro de Referência de Estratégia Nacional (QREN), a Corticeira Amorim vai garantir 7,5% do montante. O resto do dinheiro ainda é necessário angariar. Outras instituições envolvidas são a empresa BIOCANT, o Instituto de Tecnologia Química e Bioquímica, o Instituto Gulbenkian de Ciência e o Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica, os três em Oeiras.

Competências novas
Os trabalhos arrancaram em Janeiro deste ano com a procura do sobreiro. O ADN vai ser retirado de folhas desta árvore cultivadas em laboratório. A sequenciação será feita no estrangeiro, através de contratos com empresas. As equipas portuguesas vão receber milhares de pequenas sequências de ADN que terão de montar como um puzzle de muitas peças. O genoma do sobreiro tem 24 pares de cromossomas.

Esta informação que em bruto vai exigir competências novas de bioinformática para ser tratada. A equipa  vai ter de contratar cinco profissionais que vão ter treino especial para fazer esta análise. Este é um dos objectivos colaterais deste trabalho, sublinham tanto Sónia Gonçalves como José Matos, criar uma massa de profissionais capazes de analisar este tipo de dados e que poderão trabalhar em futuros projectos se sequenciação de genomas.

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