Fladgate compra histórica Wiese & Krohn

Processo de concentração no sector do vinho do Porto continua. Empresas portuguesas de base familiar perdem mais uma marca.

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Fladgate reforça posições no Douro e no vinho do Porto Fernando Veludo/Arquivo

Com o negócio, a Fladgate, detentora de marcas emblemáticas do sector como a Taylor’s, a Croft e a Fonseca, reforça a sua posição no segmento alto do vinho do Porto, ficando a controlar um valioso acervo de vinhos com data de colheita. Ao mesmo tempo, a venda implica a saída do sector de mais uma família tradicional, os Falcão Carneiro, e o reforço da posição dos grandes grupos na produção e comercialização do vinho do Porto. Os valores do negócio não foram revelados, mas os stocks de vinho da Krohn estão avaliados em mais de 20 milhões de euros.

Para Adrian Brigde, director geral da Fladgate, “a aquisição desta firma especialista em colheitas irá permitir que o grupo possa continuar a acompanhar o aumento da procura de vinhos do Porto Tawny de idade no futuro”. Neste segmento, as marcas do grupo controlam já 30% do mercado. José Falcão Carneiro confia que “a marca Krohn continuará a prosperar sob a orientação dos novos proprietários” e congratula-se com o facto de o “comprador se ter comprometido a manter o emprego de todos os colaboradores da firma”.

Para a família Falcão Carneiro acaba assim uma ligação ao vinho do Porto que data de, pelo menos, da década de 1930, época em que adquiriu a pequena firma a Edmund e Frederick Arnsby. A empresa manteve-se nos últimos anos como uma produtora de vinho do Porto de alta qualidade, com as suas colheitas, algumas de anos tão remotos como 1863 e 1896, a serem colocadas no topo do ranking de qualidade do sector. No ano passado, a Wiese & Krohn, que possui a Quinta do Retiro Pequeno no vale do Douro, vendeu 140 mil caixas (de 12 garrafas) de vinho do Porto e menos de mil de DOC Douro. A maior parte deste volume de vendas foi feita com as marcas do importador, o que equivale à comercialização de vinhos de menor preço e qualidade.

Com os Falcão Carneiro fora do negócio, a presença das tradicionais famílias portuguesas no vinho do Porto reduziu-se ainda mais. Actualmente, permanecem activos os Silva Reis (Real Companhia Velha), os Poças, os Flores (da Andresen), os Vanzeller e os Vieira, que dominam a Borges (os Niepoort, sendo de origem holandesa, são geralmente considerados como nacionais pelos pares do sector). Uma fonte do sector lamenta a "perda da diversidade" que este processo está a provocar no vinho do Porto.

Para Isabel Marrana, secretária-geral da Associação das Empresas do Vinho do Porto, a alienação das pequenas companhias aos gigantes do sector é, no entanto, "uma inevitabilidade”. Em causa está, diz Isabel Marrana, “uma resposta à concentração que vem de jusante, ao nível das grandes distribuidoras”. Ou seja, num negócio cada vez mais determinado pelos grandes números, pequenas companhias como a Wiese & Krohn têm mais dificuldades em subsistir.

Para a Fladgate, a aquisição é mais um passo numa estratégia de crescimento desenvolvida nos últimos anos. Depois de comprar a Croft, uma das marcas históricas do vinho do Porto e de adquirir a Quinta da Eira Velha, a Fladgate reuniu trunfos para disputar o mercado das gamas superiores ao grupo Symington, que lidera na categorias especiais (em volume, a maior empresa do sector é a Gran Cruz, de capitais franceses). Mais recentemente, a Fladgate investiu 21 milhões de euros na compra da Quinta dos Barões para aí instalar uma moderna linha de engarrafamento. O grupo controla dez quintas no Douro com uma área de vinha de classe A que ronda os 750 hectares. No ano passado, o volume de negócios da área do vinho (a Fladgate tem também interesses no turismo) ascendeu a 53 milhões de euros.

Notícia actualizada: acrescenta valor estimado dos stocks da empresa e o nome de mais uma família portuguesa activa no negócio do vinho do Porto.
 
 

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