Dez anos depois do rapto, Amanda deu o alerta e a polícia descobriu três mulheres numa casa de Cleveland

Amanda Berry tinha 16 anos quando desapareceu. Foi ela que ligou para a polícia, depois de fugir com a ajuda de um vizinho. Na mesma casa estavam Gina DeJesus, que tinha 14 anos quando foi vista pela última vez, e Michelle Knight que tinha 21 anos.

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Amanda Berry (à esquerda) e Gina DeJesus têm hoje 27 e 24 anos respectivamente Reuters

A morada: 2207 Seymour Avenue. De lá de dentro não se ouviam vozes de mulher nem gritos, até esta segunda-feira, quando um homem saiu de casa. Pouco depois, Amanda Berry aproveitava o momento e pedia ajuda. Os seus gritos surpreenderam um vizinho, Charles Ramsey, que ouviu Amanda Berry, desesperada, dizer que tinha de sair da casa e pedir-lhe que ligasse por ela para a polícia. Ele arrombou a porta, tirou-a lá de dentro, com uma criança de seis anos nos braços. 

De seguida, era a própria Amanda Berry, há dez anos procurada, há dez anos notícia de jornais, que falava aflita com a polícia. “Chamo-me Amanda Berry… Fui raptada e dada como desaparecida durante dez anos. E estou aqui, estou livre agora.” A chamada para o número de emergência 911 foi feita de casa de Charles Ramsey.

"A polícia irá buscá-la assim que houver um carro livre", dizem-lhe. Amanda Berry pede urgência, diz que tem de ser levada antes que o homem que a raptou regresse. "Como se chama ele?", perguntam-lhe do outro lado da linha. Ariel Castro. Tem cerca de 52 anos. Amanda responde às perguntas a custo. Na gravação da polícia, é perceptível o choro de uma criança. Amanda, ela própria, está ofegante e confessa, mais do que uma vez, estar "em pânico". Não está longe da casa de onde fugiu.

Foi quando entrou na casa que a polícia encontrou as duas outras mulheres. A polícia de Cleveland confirma a detenção de três suspeitos, diz que são irmãos e anuncia uma conferência de imprensa para esta terça-feira. “Os três homens são hispânicos, de 50, 52 e 54 anos”, cita a AFP a partir da página do Facebook da polícia.

Michael McGrath, chefe da polícia, e o seu adjunto Ed Tomba admitiram como provável que as três mulheres tenham vivido na mesma casa durante todo o tempo em que estiveram desaparecidas, escreve a Reuters, que adianta ainda que Ariel Castro, proprietário da casa, foi motorista de autocarros escolares. O seu tio Caesar Castro, proprietário de uma mercearia na mesma rua, também falou aos media para dizer que sempre vira Ariel Castro como "um bom homem" e que este era músico e tocava baixo.

Alegria e comoção
Um clima de júbilo invadiu a rua nesta segunda-feira, descrevem os media locais, como o jornal Plain Dealer, que mostra fotografias de familiares e amigos emocionados já noite dentro a aguardar notícias das três mulheres recolhidas num centro médico. O jornal lembra o dia em que deu a notícia do desaparecimento de Amanda Berry, que "deixara o trabalho em part-time às 19h30 num carro com um condutor não identificado", segundo o FBI e a polícia de Cleveland que desde o início trataram o caso como um rapto.

Uma recompensa foi então oferecida para quem fornecesse informações que ajudassem a encontrar a adolescente. Mais tarde, o FBI também se juntou às investigações ao desaparecimento de Gina DeJesus.

Vários vizinhos foram entrevistados para as televisões. Zayda Delgado disse à ABC conhecer uma das mulheres encontradas: Amanda Berry. "É inacreditável... Ainda estou em choque. Foram encontradas juntas e para o Dia da Mãe... É muito bom."

Ramsey, transformado em herói por ter salvo Amanda Berry, ficou pasmado quando a polícia lhe disse quem ele tinha acabado de resgatar da casa. Via o vizinho "todos os dias" desde que se mudara para esta pacata rua há um ano. 

Os dramas das famílias de Amanda e Gina DeJesus foram durante muito tempo seguidos pelos moradores mais antigos do bairro. A mãe de Amanda, Louwana Miller, não sobreviveu ao desgosto, disse Dona Brady, amiga da família Berry. "Ela morreu de desgosto, literalmente", disse à Reuters. "Tenho pena que a mãe de Amanda tenha morrido sem saber que a filha estava viva", acrescentou Zayda Delgado à ABC.

Amanda Berry tinha sido vista pela última vez a 21 de Abril de 2003, ao princípio da noite, quando saía do Burger King onde trabalhava, a poucas centenas de metros da casa onde acabou por ficar cativa. Nesse fim de dia, véspera de fazer 17 anos, ligara à irmã a dizer que tinha arranjado uma boleia. Nunca mais ninguém a viu até esta segunda-feira.

Um ano depois, a 2 de Abril de 2004, Gina DeJesus desaparecia à saída da escola. Tinha 14 anos. Uma prima, Sheila Figaro, disse à CNN que a mãe de Gina sempre acreditou que um dia a filha seria encontrada.

Michelle Knight tinha 21 anos e foi vista pela última vez perto da casa de um primo a 23 de Agosto de 2002. O seu desaparecimento não chamou a atenção dos media, na altura, porque alguns familiares se convenceram de que que tinha fugido de casa. Mas a mãe Barbara Knight, que vive na Florida, disse ao Plain Dealer de Cleveland que nunca acreditou que a filha tivesse desaparecido por vontade própria sem deixar rasto e que nunca tinha desistido de a procurar: "Se for mesmo ela, rezo para que venha até mim para eu a ajudar a recuperar daquilo por que passou", afirmou. Hoje, Michelle tem 32 anos.

Mulheres bem de saúde
As três mulheres e a criança encontrada com elas estavam, nesta segunda-feira, sob observação num centro médico de Cleveland. Uma fotografia mostra Amanda Berry sorridente com a irmã emocionada e, ao lado, a criança que se pensa ser filha de Amanda.

Todas estão bem, disse o responsável médico Gerald Maloney. "Não é o final que costumamos ter em histórias como esta. Por isso, estamos muito felizes. Estamos felizes por elas", afirmou numa conferência de imprensa.

Também o presidente da câmara de Cleveland, Frank Mayor, se disse "agradecido por Amanda Berry, Gina DeJesus e Michelle Knight terem sido encontradas com vida". E acrescentou: "Temos muitas questões ainda sem resposta neste caso. A investigação vai prosseguir."

O caso do desaparecimento de Amanda Berry ressurgiu nas notícias em Janeiro deste ano, lembra a Associated Press, quando um prisioneiro foi acusado e condenado por obstrução à justiça e falso depoimento, depois de ter, uns meses antes, dito à polícia para procurar os restos mortais de Amanda Berry num terreno de Cleveland. A busca foi feita sem resultados e Robert Wolfrod acabou por admitir que tinha prestado falsas informações.

Em 2004, dois homens foram detidos e mais tarde presos por suspeita de envolvimento no desaparecimento de Gina DeJesus. A polícia investigou o caso, mas não encontrou provas e os dois homens foram libertados dois anos depois. 
 
 
 
 
 

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