Seguro diz que Passos tão depressa apela ao consenso como faz "oposição ao PS"
Líder do PS diz que primeiro-ministro só aposta na austeridade e não tem qualquer proposta para combater o principal flagelo do país, o desemprego.
O secretário-geral socialista afirmou que as novas medidas de austeridade anunciadas esta sexta-feira não há condições para haver diálogo entre o PS e o Governo. Seguro diz mesmo que mais do que um problema de diálogo, “é um problema de impossibilidade”. “Nós não podemos ter um primeiro-ministro que ontem apela ao consenso e que hoje zurze no PS. E amanhã se calhar apela outra vez ao consenso.”
“Aquilo que eu ouvi foi o primeiro-ministro a fazer oposição ao PS. O primeiro-ministro sabe e o país sabe que se ele procura o alto patrocínio do PS para fazer um corte de 4 mil milhões de euros, então não conta com o PS”, respondeu António José Seguro aos jornalistas em Barcelos, questionado sobre os apelos do primeiro-ministro para que a oposição faça propostas sobre outras medidas para substituir as anunciadas na sexta-feira.
Acerca da mensagem que o primeiro-ministro lhe fez chegar, por e-mail, 15 minutos antes da sua comunicação ao país na sexta-feira ao início da noite, Seguro diz que era apenas o texto que Pedro Passos Coelho leu. “O mail que enviou é precisamente igual ao que enviou para toda a gente: a comunicação que fez ao país.”
Acerca do facto de o parceiro de coligação, o CDS, só reagir ao anúncio das medidas de austeridade amanhã, domingo, António José Seguro considera que isso é um sinal da “profunda instabilidade” que existe na maioria e no Governo – e que se tem acentuado desde Setembro passado.
“O Governo e a maioria são um factor de instabilidade no país. Mas nós precisamos de um Governo que esteja concentrado em resolver o principal problema do país, que é o desemprego, e não em criar instabilidade.” Mais: o líder socialista diz mesmo não ter “nenhuma expectativa” sobre o que poderá dizer Paulo Portas.
Falando aos jornalistas, o secretário-geral do PS não se cansou de dizer que o chefe do Governo continua a apostar na austeridade e que não apresenta qualquer medida para atacar o desemprego. “O primeiro-ministro falou durante 22 minutos. Ouviram alguma proposta para baixar o desemprego?”, desafiou António José Seguro, acrescentando que o seu partido, pelo contrário, tem apresentado, desde há dois anos, várias medidas para combater o desemprego – e continuará a fazê-lo, prometeu. “Não para aumentar a austeridade”, mas para atacar os “problemas da economia”.
“Aquilo que nos separa do Governo é a política de austeridade. Nós queremos rigor, mas queremos apoio à economia, apoio ao emprego”, vincou Seguro, acrescentando que o resultado das medidas agora anunciadas será “mais desemprego, menos economia e mais défice”.
O PS, adiantou, defende que é necessário que “as pessoas tenham rendimentos para dinamizar a procura interna. Por isso propomos aumento do salário mínimo nacional e das pensões. E que as empresas possam beneficiar de um crédito fiscal.”
Questionado sobre os apelos para a negociação que o Governo tem feito ao PS, Seguro foi peremptório: “Nunca me sentei para negociar nada. Eu nunca negociei nada. Cada vez que o primeiro-ministro me convidou para ir a reuniões, que fui. O PS não recusa o diálogo, mas reafirma que a política de austeridade não serve. A nossa política é diferente. Nós defendemos a dinamização da economia.”
Sobre as medidas anunciadas pelo primeiro-ministro, Seguro considera que “a ideia da mobilidade é positiva se isso corresponder a que os funcionários públicos possam ser alvo de uma gestão melhor”. Porém “coisa completamente diferente é o que parece ir ocorrer: coloca-los na mobilidade para 18 meses depois os despedir”.
E em relação aos cortes nas reformas, o líder do PS lembra que essas pessoas “trabalharam toda a vida e contam com esse dinheiro para viverem” depois de se reformarem. Além disso, os pensionistas e reformados são hoje “o sustento de muitas famílias, ajudando os filhos desempregados e os netos”. A que acresce o facto de os reformados serem pessoas que “não têm mais recursos”, além da sua pensão, a que recorrer. “É de uma enorme insensibilidade social”, apontou Seguro.
“Há dois anos [o primeiro-ministro] dizia que tinha feito as contas e que não ia despedir nenhum funcionário público nem baixar salários. Agora só precisa de cumprir o que prometeu”, realçou Seguro.
“Eu quero a substituição do Governo, já o disse”, afirmou Seguro. “Mas a maioria que o Governo tem na AR decidiu que o Governo deve continuar em funções. Tanto sirvo o país no Governo como na oposição”, rematou António José Seguro.