O Harpa é um edifício que deu a volta à crise

Membro do júri que atribuiu o prémio Mies van der Rohe à sala de concertos e conferências em Reiquejavique destaca o simbolismo do projecto em plena recessão.

Foto
O Harpa, em Reiquejavique Nic Lehoux

São “projectos muito diferentes e todos tinham algo a dizer sobre o contexto da arquitectura e da Europa”, com programas a responder a questões “cada vez mais importantes quando temos uma Europa a envelhecer”, diz Gadanho ao telefone ao PÚBLICO, referindo-se ao projecto dos Aires Mateus para o Lar de Idosos de Alcácer do Sal. Ou ao projecto do atelier BIG - Bjarke Ingels Group para um parque urbano intercultural em Copenhaga, um espaço público que reflecte “a realidade multicultural europeia, em que os elementos simbólicos englobam” signos “que vêm de todo o mundo”.

Para Pedro Gadanho, o projecto do Harpa em Reiquejavique não é tanto marcado pela sua ligação ao passado e à tradição islandesa, como frisava o júri em comunicado, mas “por ser um edifício feito com bastantes dificuldades e num contexto bastante adverso”. Lehman Brothers, final de 2008, o princípio da recessão e “a Islândia foi o primeiro país a sofrer os efeitos da crise”, recorda o arquitecto, crise essa que “apanhou o projecto em plena construção e convulsão”. O Harpa “passou de ser um símbolo da crise para ser um símbolo da recuperação face à crise”, postula o curador.

Mas o Harpa não é só um símbolo económico: é também testemunho vibrante de “uma arquitectura nova, com novas referências e com um programa muito desejado pelos islandeses – ter uma sala de música e concertos”. Gadanho destaca a colaboração dos arquitectos com Olafur Eliasson na “construção da fachada”, as “salas de concertos de uma escala e espacialidade muito importantes”, os “jogos de luz e a colocação junto ao mar” numa estratégia de “crescimento da cidade”, que se está a reinventar na zona portuária.

O Harpa, sala de concertos e de conferências, é feito por islandeses, arquitectos (Henning Larsen Architects, Batteríið Architects) e artistas (Olafur Eliasson) em colaboração transdisciplinar. Outros projectos, como o espaço comercial e cultural Metropol Parasol, em Sevilha, saem das mãos alemãs do atelier Jürgen Mayer-Hermann para as ruas espanholas, o que perfaz, como procurou o júri que Gadanho integrou, projectos que funcionem como “símbolo da união da Europa”. Que estabeleçam “a arquitectura como activo para a projecção cultural da Europa”.

E a noção de espaço público é também essencial na lista de finalistas – três deles são ideias já concretizadas em espaços públicos. O que “é muito importante na lógica tradicional dos prémios”, mostrando que “a arquitectura pode ser valorizada como elemento dos espaços públicos”, remata o curador e membro do júri do Mies van der Rohe 2013.
 
 

Sugerir correcção
Comentar