MEC quer "exterminar professores", acusa director

Professores dizem-se enganados pelo ministério na sequência do anúncio de que a mobilidade especial também se aplicará aos docentes.

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"As metas curriculares para o ensino básico são a última pérola de um Nuno Crato convertido ao 'eduquês'" Rui Gonçalves/nFACTOS

“Há coisas que não se fazem, mas muito menos nesta altura do ano”, criticou Filinto Lima, referindo-se ao anúncio da possibilidade de os professores com horário zero passarem à mobilidade especial e à proposta de redução dos quadros de zona pedagógica, hoje avançados pelo secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar, Casanova de Almeida.

Dizendo-se completamente “apanhado de surpresa”, Filinto Lima previu, em declarações ao PÚBLICO, que “estas notícias vão provocar a desestabilização total nas escolas”.“Vai ser terrível, terrível. Fico sem palavras para expressar até que ponto”, afirmou. Voltou a usar o termo para classificar os reflexos que estas medidas terão na vida dos professores, quer dos que venham a ser colocados a centenas de quilómetros de casa (devido à redução dos QZP) quer dos que venham a ser colocados em mobilidade especial. "Ninguém contava com isso. O ministro da Educação, Nuno Crato, e o secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar, Casanova de Almeida, sempre garantiram que não se aplicaria aos professores”, comentou.

A mesma garantia foi recordada pelo dirigente da Associação Nacional dos Professores Contratados (ANVPC), César Israel Paulo, que acusou ministro e secretário de Estado “de terem usado uma mentira vergonhosa para descansar os professores, quando disseram que estes não seriam colocados em mobilidade especial”. “Esta medida, aliada à da redução dos quadros de zona pedagógica e às outras tomadas ao longo do tempo fazem da antiga ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues, que tão diabolizada foi, uma verdadeira santa, com direito a ser canonizada”, comentou Israel Paulo.

Também contactado pelo PÚBLICO, Israel Paulo disse que “os professores não poderão, nunca mais, sentir-se descansados. Fica provado, até à exaustão, que com este Governo o que ontem era verdade hoje é mentira e que o que hoje consideramos verdade será mentira amanhã”, criticou, considerando que “tudo isto faz parte de uma estratégia para pôr os professores a andar, para os desgastar e fazer desistir e fugir da escola”.

Manuel Pereira, presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), reagiu afirmando que a actual situação “é verdadeiramente catastrófica e angustiante não só para os professores mas para o sistema educativo e para o país, em geral”. “Tenho 35 anos de carreira e nunca vi nada que se parecesse – como é que se vive num país em que os governantes dizem hoje uma coisa e amanhã o seu contrário com a tranquilidade de quem acha isso legítimo? Como é que se vive num país em que já nem no Estado os professores, e todas as pessoas, em geral, podem confiar? Em que o Estado não parece ser uma pessoa de bem?”, questionou.
Ao PÚBLICO, Manuel Pereira disse só não ficar mais surpreendido por “já acreditar que tudo pode acontecer”. “O tempo em que confiávamos que, com maiores ou menores diferenças de opinião em relação a cada um de nós, o ministério agia em defesa daquilo que pensava ser os interesses da Escola acabou. Hoje não há um porto seguro, é assustador”, insistiu.


 
 
 
 

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