Maior acelerador de partículas do mundo vai fechar para obras

Durante dois anos, não haverá protões a circular no túnel subterrâneo do LHC, perto de Genebra. Enquanto o acelerador sofre um autêntico lifting técnico, os cientistas vão afinar a análise dos dados já produzidos.

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Mais de dez mil junções eléctricas entre os ímãs supercondutores vão ser abertas e consolidadas CERN

O acelerador, um complexo experimental situado a cem metros de profundidade na fronteira entre a França e a Suíça, vai entrar, durante cerca de dois anos, em obras de manutenção e renovação que deverão permitir quase duplicar a energia dos protões que nele circulam e se esmagam uns contra outros. São os efeitos das colisões entre essas partículas que, ao serem detectados por gigantescos e complicadíssimos dispositivos experimentais colocados no seu trajecto, servem para tentar confirmar a existência de fugidias partículas elementares previstas pela teoria. No ano passado, foi possível confirmar, no LHC, a existência de uma partícula em tudo parecida com o célebre bosão de Higgs, teorizado há cerca de 50 anos.

"As colisões vão ser interrompidas nesta quinta-feira às 6h da manhã [5h em Lisboa]", disse ao PÚBLICO Renilde van den Broeck, porta-voz do CERN. "A seguir, vai haver dois dias de testes com feixes de protões (sem colisões), devendo o último feixe ser cortado no sábado, pela mesma hora." Por seu lado, Joe Incandela, responsável pelo CMS – uma das duas grandes experiências montadas no LHC para detectar o bosão de Higgs –, acrescenta que "as operações de paragem [total] deverão ter início a partir de segunda-feira, dia 18 de Fevereiro".

Inicialmente prevista para acontecer na passada segunda-feira (11 de Fevereiro), o fim das colisões de protões acabou por ser adiado três dias, a pedido das equipas que gerem as diversas experiências em curso, "para ser possível obtermos alguns dados de calibragem adicionais", explica-nos ainda Incandela.

Esta será a primeira interrupção de longa duração do LHC, que tem funcionado em contínuo desde 2009. Os objectivos são vários. Um deles, explica a revista Nature, é corrigir "falhas na concepção original do acelerador" ao nível de certas ligações eléctricas. Pouco depois da inauguração do LHC, em 2008, essas falhas provocaram uma explosão que obrigou não só ao encerramento da máquina durante quase um ano como a uma redução drástica da energia máxima das colisões.

"O trabalho principal diz naturalmente respeito à consolidação das 10.170 junções eléctricas entre os ímãs supercondutores", refere Simon Baird, director adjunto do departamento de engenharia do CERN, em comunicado do laboratório. Se tudo correr como previsto, quando o LHC reentrar em actividade, os seus feixes de protões deverão poder atingir energias de colisão de 14 TeV (teraelectron-volts), contra os actuais 8 TeV.

A paragem também irá permitir, segundo a revista britânica, abrir os gigantescos detectores das experiências (o maior tem 46 metros de comprimento e 25 de largura), para reparar e substituir componentes. E em paralelo, os muitos computadores que recolhem e analisam, dia e noite, a astronómica quantidade de dados vindos das ditas experiências também vão ser actualizados. Milhares de técnicos vão participar neste autêntico lifting do LHC.

O trabalho dos milhares de cientistas que participam nas experiências de física também não vai parar. Como dizia o próprio Incandela em entrevista ao PÚBLICO, em finais de 2011, "[estes] dois anos vão permitir-nos fazer estudos aprofundados (...), juntar os resultados e apreciá-los de forma mais global". Em particular, para determinar se o bosão de Higgs é mesmo "o" bosão de Higgs previsto pelo Modelo-Padrão, a teoria que actualmente melhor descreve a física ao nível subatómico.

Quando é que o LHC estará pronto a funcionar? "Esta primeira longa paragem estava programada para durar até ao Outono de 2014", diz-nos Incandela. "É difícil dar uma data precisa, porque o calendário pode mudar. Mas a ideia é que a máquina fique pronta até finais de 2014 ou início de 2015. O mais provável é que as colisões de protões recomecem em 2015 a energias de 13 TeV."

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