Europol desmantela rede que manipulava jogos de futebol
Jogos da Liga dos Campeões e de qualificação para Europeu e Mundial entre os encontros manipulados. Ligas turca, alemã e suíça são as mais afectadas. Mais de 380 jogos sob suspeita na Europa.
Rob Wainright, director da Europol, revelou que foram identificados 425 oficiais (árbitros, dirigentes, membros das organizações futebolísticas, etc.), jogadores e outros suspeitos em 15 países. Ao todo, foram já detidas 50 pessoas.
"Temos provas em mais de 150 casos. As operações eram dirigidas a partir de Singapura, com subornos superiores a 100 mil euros por jogo", disse Friedhelm Althans, chefe de investigação da polícia de Bochum, na Alemanha.
Segundo a BBC, esta rede de manipulação de resultados gerou lucros de oito milhões de euros só na Alemanha, tendo utilizado 15,8 milhões de euros para corromper os envolvidos. O maior pagamento individual foi de 140 mil euros.
A maior parte dos jogos viciados realizaram-se nos campeonatos turco, alemão e suíço, disseram os responsáveis da polícia europeia, citados pela AFP.
Os responsáveis da Europol não revelaram quais os jogos em causa, mas adiantaram que um dos encontros da Liga dos Campeões se realizou em Inglaterra nos últimos três a quatro anos.
Esta rede de corrupção estará relacionada com apostas no mercado asiático, levando à manipulação de jogos principalmente na Europa, mas não só. O suborno a jogadores, árbitros ou dirigentes era realizado com o objectivo de conseguir um determinado resultado, que traria lucros no sistema de apostas.
Laszlo Angeli, procurador húngaro, deu um exemplo de como o esquema funciona: "Um húngaro, que estava imediatamente abaixo do líder [da rede] em Singapura, mantinha contacto com árbitros húngaros, que depois tentavam viciar os jogos que dirigiam um pouco por todo o mundo."
"Um jogo manipulado pode envolver 50 suspeitos em dez países de continentes diferentes", explicou Althans, sublinhando a importância da cooperação policial. "Há mesmo dois jogos de qualificação para o Mundial, em África, e outro na América Central, que estão sob suspeita", acrescentou o mesmo investigador.
"Parece-nos claro que esta é a maior investigação de todos os tempos sobre alegada viciação de resultados", salientou Rob Wainright, citado pela AFP, numa conferência de imprensa, em Haia. Os investigadores, no entanto, temem que este caso seja apenas “a ponta do icebergue”.
A investigação foi iniciada pela Europol há 18 meses, centrando-se inicialmente na Alemanha, Finlândia e Hungria, antes de ser alargada à Eslovénia, Áustria e outros países.
As autoridades policiais analisaram 700 jogos em 30 países, concluindo que mais de 680 foram viciados – 380 na Europa e 300 em África, Ásia e América Central e do Sul. Nesta investigação, que ainda decorre, foram analisados 13 mil emails.
O PÚBLICO já contactou a Polícia Judiciária, para saber se há ramificações desta rede em Portugal e se há suspeitas sobre jogos envolvendo equipas portuguesas, mas ainda não obteve resposta.
Este caso surge depois de já terem sido investigados casos de jogos viciados na Europa de Leste e em Itália.