Fecho de salas da Castello-Lopes deixa Açores, distrito de Viana e cinco cidades sem cinema

O encerramento de cerca de metade das salas da distribuidora afectará cinemas em Viana, São João da Madeira, Covilhã, Leiria, Loures, Seixal, Guia e Ponta Delgada.

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No centro comercial 8.ª Avenida, em São João da Madeira desaparecem 750 lugares Rui Farinha

A decisão afectará oito complexos de cinema localizados em centros comerciais do grupo Sonae Sierra [do mesmo grupo a que pertence o PÚBLICO] em Viana do Castelo (quatro salas, as únicas no distrito), São João da Madeira (cinco ecrãs, os únicos da localidade), Covilhã (quatro salas, as únicas no concelho, restando um cinema multiplex na sede do distrito de Castelo Branco), Leiria (sete salas), Loures (o fecho das sete salas da Castello-Lopes faz com que a cidade fique sem cinemas), Seixal (fica também sem cinemas, fechando a exploração destes sete ecrãs), Guia (nove salas que ficam sem exploração) e Ponta Delgada (quatro salas, as únicas do arquipélago dos Açores).

“Não conseguimos chegar a acordo [com a Sonae Sierra] para dar continuidade à exploração de cinema. Eram condições impossíveis de continuar, dada a quebra no sector”, justificou à Lusa João Paulo Abreu, da administração da exibidora. Questionado pelo PÚBLICO quanto a essas condições e às negociações com a Sonae Sierra, João Paulo Abreu indicou apenas que "os preços estipulados" eram incompatíveis com "as quebras significativas" sofridas pela Socorama-Castello Lopes Cinemas em termos de receitas provenientes das bilheteiras. A Sonae Sierra confirmou entretanto em comunicado "não ter chegado a acordo com o operador dos cinemas Castello-Lopes para a continuidade de exploração dos cinemas nos centros comerciais da empresa onde este operador está presente, pelo que o encerramento das salas deverá acontecer em breve".

Na mesma nota enviada ao PÚBLICO, a Sonae Sierra adianta que, "durante anos de contrato, a Sonae Sierra apoiou regularmente a Castello Lopes com o intuito de viabilizar a operação dos cinemas. No entanto, e apesar do apoio dado, a Castello Lopes acumulou uma dívida de valor muito elevado e não reuniu outras condições necessárias à viabilização da operação dos cinemas", sem precisar o valor da dívida. "Estão em análise diferentes opções de exploração destes espaços, que esperamos se traduza numa abertura dos mesmos a curto prazo", indica a empresa.
O despedimento colectivo abrangerá 55 trabalhadores, devendo a empresa não renovar contrato a outros 20 funcionários. João Paulo Abreu afirmou à Lusa que os trabalhadores serão informados da decisão até quinta-feira. O administrador lamentou o encerramento das salas, pelos despedimentos e pela redução de oferta cinematográfica em algumas localidades - como Viana do Castelo e Ponta Delgada - e afirmou que a empresa “tentará reunir as condições para manter as outras salas”. Ao PÚBLICO João Paulo Abreu adiantou que a Socorama-Castello Lopes vai "sofrer uma reestruturação profunda" para "continuar com os outro oito complexos em funcionamento", que incluem cerca de 40 ecrãs de cinema.

Conforme informa no seu site, a Socorama - Cinemas, SA "opera na área de exibição de cinema sob a insígnia Castello-Lopes Cinemas. Esta empresa resultou da fusão de duas das mais antigas empresas de exibição de cinema a operar em Portugal e que foram adquiridas pelo grupo JRP em 1998".

A Socorama Castello-Lopes detém 106 salas de cinema e em 2012 registou 12,6 milhões de euros de receita bruta de bilheteira. Apesar de ser a segunda maior exibidora, atrás da Zon Lusomundo Cinemas (recorde-se que a Zon está em processo de fusão com a Optimus, da Sonaecom, empresa do grupo Sonae), a Castello-Lopes registou uma quebra de 1,7 milhões de euros em relação a 2011. Quanto ao número de espectadores, de acordo com dados do Instituto do Cinema e Audiovisual de 2012, a empresa registou também quebras - por retracção do consumo dos portugueses - de cerca de 375 mil bilhetes vendidos.


São João da Madeira fica sem 750 lugares
A notícia chegou pelo PÚBLICO online, seguiu-se um telefonema para marcar uma reunião para o final da tarde e os receios adensaram-se. Susana Moreira, que faz parte da gerência do cinema do centro comercial 8.ª Avenida em São João da Madeira, ficou abalada com a possibilidade do fecho das cinco salas Castello-Lopes do shopping e o despedimento dos oito funcionários - três homens e cinco mulheres, a maioria na casa dos 20 anos. “Penso que não será uma decisão acertada, que se justifique, embora não tenha acesso às contas. São João da Madeira ficará sem salas de cinema, não haverá cinema num raio de 40 quilómetros... só no Porto ou em Aveiro”, referia ao início da tarde de terça-feira. Às cinco salas correspondem 750 lugares.

Daniela Silva, 19 anos, atendia os clientes. Foi apanhada de surpresa pela decisão que lhe parece uma coincidência. “O meu contrato termina na quinta-feira, supostamente não o actualizaram porque o cinema ia fechar”, comenta. Os colegas têm contratos mais extensos, o seu foi feito para apenas seis meses naquele que é o seu primeiro emprego, um part time de quatro horas por dia. “Não estava à espera e fico triste pelos meus colegas.” O colega que a substituiu no turno de ontem, funcionário efectivo, não quis falar do assunto.

O casal Maria Gracia e Carlos Aguiar compra bilhetes para a sessão da tarde e escuta a novidade. “Se houver um abaixo-assinado a contestar a decisão, também assino”, promete Maria Gracia. O marido concorda e comenta: “Se quisermos ver cinema, temos de ir para o Porto... cada vez é mais longe.” “E ficará mais caro”, acrescenta Maria Gracia.

"Enorme retrocesso" nos Açores

Deixaram de funcionar as quatro salas dos Açores, no Centro Comercial Parque Atlântico, em Ponta Delgada. Inauguradas em 2003, eram o único cinema comercial em funcionamento no arquipélago, pois tanto as duas salas do Centro Solmar, em Ponta Delgada, como as do Teatro Faialense, na Horta, e do Centro Cultural, em Angra do Heroísmo, mantêm uma actividade esporádica, com ciclos de cinema e actividade cultural dependente da política autárquica.

Na última reunião da Câmara Municipal de Ponta Delgada, realizada a 21 de Janeiro, os vereadores eleitos pelo PS alertaram para o “enorme retrocesso da oferta cultural” que se verificará com o encerramento das últimas quatro salas que exibem cinema em permanência em Ponta Delgada”. Os socialistas afirmaram que, “apesar da transformação tecnológica que alterou o padrão de consumo de cinema e mesmo considerando a austeridade que vivemos, não se pode aceitar passivamente o eventual fim de uma oferta cultural tão importante num concelho com 67.000 pessoas”.

O PS conseguiu ainda que toda a vereação aprovasse por unanimidade o “reconhecimento do retrocesso cultural” que constituirá o encerramento da exibição de cinema em permanência em Ponta Delgada. Também por proposta do PS, a câmara irá contactar a empresa que presta o serviço em causa com o intuito de “equacionar” possíveis soluções para o problema.

Os socialistas declararam ainda: “Embora, nas actuais circunstâncias, sejamos contra a subsidiação da actividade comercial em causa, nós não excluímos a possibilidade de apoios indirectos que possam evitar o encerramento das referidas salas de cinema.” 

Na Madeira, as salas da Castello-Lopes no Madeira Shopping, inaugurado em 2001, deixaram de projectar cinema logo no início do ano. Na cidade do Funchal funcionam apenas as seis salas do Fórum Madeira, abertas em 2007, cuja concorrência terá sido determinante para o encerramento daquele multiplex. Sem regularidade, no Teatro Municipal têm sido promovidos ciclos de cinema, com o apoio do departamento cultural da câmara.
 
 

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