Só no Porto, os Sapadores registaram mais de 50 ocorrências devido ao mau tempo
PÚBLICO acompanhou Sapadores do Porto desde as 06h. Central da corporação ficou sobrelotada de pedidos de auxílio.
Pelas 11h00, uma árvore de grande porte caiu em frente ao Hotel Infante de Sagres, na Praça Dona Filipa de Lencastre, bloqueando parcialmente a saída de algumas lojas e do hotel. Cerca de 20 elementos dos Bombeiros Voluntários do Porto estiveram no local e tiveram de recorrer a motosserras para remover a árvore caída.
Entre as 20h00 de ontem e as 08h00 de hoje, o BSB do Porto registou um elevado volume de ocorrências. “Costumamos ter cerca de quatro a cinco ocorrências por noite, mas hoje estamos a ultrapassar isso em larga medida”, disse o chefe Manuel Monteiro que liderou o turno da noite e foi acompanhado por uma equipa de reportagem do PÚBLICO. De madrugada, os Sapadores foram chamados para 24 situações.
Após as 08h00, a intempérie parecia ter acalmado, mas por pouco tempo. Cerca das 9h30, a central dos Sapadores do Porto quase entupiu com os múltiplos pedidos de auxílio, pelo que teve de ser reforçada. Os 36 Sapadores de piquete foram poucos para tanto serviço. “Temos 30 serviços pendentes. Logo que seja possível vamos aí, prometo”, dizia um dos operadores de central a uma mulher que pedia ajuda ao telefone.
“Para estas situações que são menos graves temos de tentar fazer compreender que há casos piores”, explicou ao PÚBLICO. A lista de serviços pendentes continuava, contudo, a crescer no papel. O colega, Rui Massa, salienta que “há muita gente que liga, sem qualquer urgência, apenas por ter ouvido barulhos na casa e estar assustada”.
Na Foz, o vento deixou marcas em várias árvores caídas e contentores do lixo virados. Nem o anúncio identificativo do Bar “Praia dos Ingleses” resistiu à intempérie, curvando-se. “Vamos ter de tirar isto daqui o mais rápido possível. É de ferro, está na via pública e representa um perigo para quem está a passar. Pode cair a qualquer momento”, disse ao PÚBLICO o responsável pela segurança do bar, Artur Correia.
Já no Bairro do Regado, na Rua das Magnólias, uma árvore de grandes dimensões cedeu pelas 5h30 e caiu sobre o telhado de uma casa. “Parecia uma bomba em cima de nós. Ficamos muito assustados. Partiu telhas e danificou o terraço”, explicou, ainda comovida, Maria Oliveira, 54 anos, quando já os Sapadores tinham retirado a árvore. “Esta noite está a ser particularmente mais difícil do que o habitual”, confessou o subchefe sapador Henrique Monteiro enquanto entrava para a viatura para mais um serviço.
Em Campanhã, na Rua da Estação, uma caleira em ferro que ficou pendurada do topo de uma habitação devoluta depois de derrubada pelos ventos fortes, obrigou a polícia a vedar a zona e a fechar a rua. Pelas 09h15, os sapadores ainda tentavam retirar a caleira com a ajuda de uma auto escada.
Na zona de Paranhos, junto ao Hospital de São João, os ventos conseguiram arrastar por largos metros um pequeno abrigo antes usado por operários de uma obra próxima. O mau tempo conseguiu ainda derrubar cerca de uma dezena de semáforos na cidade do Porto. Na Rua Alexandre Herculano, na Batalha, os automobilistas abrandavam de manhã cedo a marcha surpreendidos pelo semáforo caído no chão.
Por todo o distrito, sucederam-se os problemas. Uma das situações mais aparatosas, felizmente sem qualquer vítima, aconteceu na Ponte da Arrábida. Segundo o Jornal de notícias, um autocarro da STCP que seguia para Valadares, Gaia, às 5h30, para iniciar o serviço, foi levantado por uma rajada de vento e, literalmente, empurrado contra os rails da via, segundo o Jornal de Notícias. O autocarro ficou com os vidros partidos e teve de regressar ao parque de recolhas no Porto.
No distrito do Porto registaram-se este sábado, até ao final da manhã, 365 ocorrências relacionadas com o mau tempo, a maior parte devido a queda de árvores, que obrigaram ao corte do metro, disse à Lusa fonte do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS).
“Entre a meia-noite e as 12h tivemos 365 ocorrências relacionadas diretamente com o mau tempo, 142 foram quedas de árvores, 60 quedas de estruturas, 30 inundações e pequenos deslizamentos”, disse à Lusa o comandante operacional distrital, José Teixeira Leite.
Entre as situações mais complicadas destaca-se duas árvores que caíram na linha do metro, em Gaia e perto do Hospital de São João, e que obrigaram ao corte da linha nesses locais. “As árvores estão a ser removidas e não há feridos”, disse.
José Teixeira Leite referiu também o desabamento de um telhado na Maia, que fez também um ferido e deixou dois desalojados, entretanto acolhidos por familiares. Destacou ainda um carro que ia a passar a ponte em Valongo e foi apanhado pela água do Rio Ferreira que galgou a estrutura. “Foi necessário resgatar o condutor que ficou preso no rio, mas não teve ferimentos”, disse.