As aventuras de David Pogue
David Pogue, um guru especialista em tecnologia, cronista do New York Times, é um homem dos tempos modernos. Tem blogue, site oficial, página no Facebook e mais de 1 milhão de seguidores no Twitter. Faz tudo: é apresentador e actor, produtor e realizador de vídeos, e até autor de manuais da célebre colecção “para Totós”. Entrevistámo-lo por email e confessou que nunca desmontou um computador.
Com a ajuda das coordenadas que lhe apareciam no Find My iPhone – que permite visualizar num mapa o sítio exacto em que se encontra o iPhone, desde que essa função tenha sido activada pelo seu dono – e com a ajuda de todos os que se envolveram online nesta busca, percebeu que o telemóvel estava num bairro de má fama. E depois de algumas peripécias, a aventura em busca do telemóvel de Pogue acabou bem: a polícia recuperou o aparelho no quintal de uma moradia.
“Sou incrivelmente sortudo. Sortudo por ter tantos seguidores no Twitter. Sortudo por se preocuparem o suficiente para se envolverem. Sortudo porque a polícia não baixou os braços e até foi revistar o quintal daquela casa. Sortudo, e agradecido. Muito agradecido”, escreveu na altura no seu blogue, o premiado “Pogue’s Posts”.
Antes de ser conhecido por explicar coisas tecnologicamente complicadas a pessoas que não são especialistas, David Pogue, que nasceu em Ohio, nos Estados Unidos, em 1963, era músico. Licenciou-se em Música na Universidade de Yale, onde também estudou ciências computacionais. Fez carreira como compositor e maestro de musicais da Broadway, em Nova Iorque, e é doutorado em música pelo Conservatório Shenandoah.
Começou por escrever manuais que explicavam programas de sofware destinados a compositores e músicos e, mais tarde, a ensinar os colegas da Broadway a usarem os computadores. Daí passou às celebridades – escritores e actores de Hollywood – e, em 1988, foi convidado para escrever na revista Macworld, onde teve uma coluna, The Desktop Critic, até se mudar para o The New York Times, em 2000. Tem um site onde se pode ficar a conhecer todo o seu trabalho.
Já disse várias vezes que é um “recém-chegado ao mundo dos computadores”, no sentido em que chegou às novas tecnologias tarde e acredita que não ser um nativo digital – como o são os seus três filhos – lhe dá “uma grande vantagem” no dia-a-dia. “Lembro-me do que é uma pessoa sentir-se intimidada pelas novas tecnologias. Lembro-me de ficar perplexo. Lembro-me do medo”, diz ao PÚBLICO numa entrevista por email.
Especializou-se em tornar fácil, aos olhos dos outros, aquilo que à primeira vista parece ser muito complicado. Escreveu sete livros da colecção “For Dummies”, que em Portugal se chama “Para Totós” (sobre os mais diversos assuntos), e criou a colecção “Missing Manual”, manuais dedicados a assuntos específicos (desde sistemas operativos a aparelhos como o iPhone) que é editada pela O’Reilly. “Na brincadeira as pessoas chamam-me ‘techie’ ou ‘geek, mas na realidade não sou um. Nunca desfiz um computador e voltei a montá-lo. Nunca soldei nada. Nunca criei uma aplicação. Represento o leigo, o cidadão normal. Para os meus livros e para a minha coluna no jornal, é uma vantagem: eu falo a língua dos leitores”, acrescenta o jornalista de 49 anos.
Desde que começou a usar a Internet, o que o surpreendeu mais foi a Web 2.0 e o crescimento de “sites” em que os utilizadores fornecem o material e o dono do site só cria um template. Está a referir-se ao Facebook, ao Craigslist, ao YouTube e ao Flickr. “Todos são histórias de sucesso da Web 2.0”, afirma.
Ao longo destes anos, além de escrever, David Pogue tem feito vídeos que misturam humor e tecnologia e em que ele faz tudo: é produtor, actor, editor, etc. “60 segundos com Pogue” é a sua mais recente novidade no site do The New York Times e, uma vez por mês, escreve sobre ciência na revista Scientific American. É também o anfitrião de uma série sobre tecnologia no programa “Nova” da PBS. “Apresento agora três mini-séries de ciência na PBS, o programa ‘Nova’, e adoro fazê-lo. Acabei de assinar um contrato para mais três séries, por isso vão ver-me muito na TV. Comecei outra vez a fazer vídeos para o site do New York Times, depois de ter parado dois anos. Chamam-se ‘60 segundos com David Pogue’, e demoram exactamente um minuto. Não levam mais do que um dia a fazer”, explica ao PÚBLICO.
Foi, aliás, por causa de um vídeo que David Pogue se meteu em outra aventura no Verão passado. E fez algo que esperaríamos mais de uma celebridade: tornou pública a proposta de casamento que fez à sua namorada Nicki Dugan, que vive em São Francisco, na Califórnia. Não era uma proposta de casamento qualquer. Teve a ajuda dos três filhos do primeiro casamento (divorciou-se o ano passado), que vivem com ele em Connecticut. Primeiro realizaram um “trailer” de um falso filme que conta a história de amor entre David e Nick. E que começa assim: “Num mundo onde a vida pode mudar num minuto a única coisa que importa é o amor...”
Depois foi preciso arranjar maneira de ter a família toda numa sessão de cinema em que passaria esse vídeo e onde estavam instaladas câmaras que filmariam a reacção de Nicki, a futura noiva, ao ver o “trailer” pela primeira vez. A seguir, Pogue saltou para o meio da sala e fez-lhe a proposta com a sala de cinema inteira a olhar para eles. Tudo foi filmado. Para mais tarde recordar e para ser um vídeo de sete minutos.
David Pogue partilhou esse vídeo na página do Facebook e no YouTube, e os seus leitores começaram a emocionar-se ao vê-lo. Outros criticaram-no sem dó nem piedade. Tornou-se viral. E o fenómeno serviu para que David Pogue escrevesse, no seu blogue do New York Times, um texto a explicar passo a passo como tudo se passou, que tecnologia usou e como é possível fazer uma coisa parecida com pouco dinheiro. “Claro, que houve ‘haters’ que não gostaram que eu publicasse o vídeo. Mas sabe que mais? Até a Madre Teresa tem ‘haters’. Jesus teria tido ‘haters’. O que nós podemos fazer é o nosso melhor, e celebrar o facto de a maior parte das pessoas aprovar o que fazemos.”