Adolescente violada na Índia suicida-se sem ter conseguido apresentar queixa
Rapariga indiana foi aconselhada pela polícia a desistir do caso. Governo quer criar registo público de condenados por crimes sexuais.
A história, ao contrário do que seria habitual, teve direito a destaque na imprensa nacional, numa altura em que as autoridades não conseguiram calar a revolta desencadeada pela violação de dia 16 de Dezembro. A violação terá ocorrido durante um festival em Novembro, na região de Patiala, e, desde então, a adolescente, de 17 anos, tentou várias vezes apresentar queixa, sempre sem sucesso. “Um dos polícias tentou convencê-la a desistir do caso”, admitiu à AFP o general Paramjit Singh Gill, inspector da polícia local.
A jovem acabou por ser encontrada morta, na quarta-feira à noite, alegadamente depois de ter engolido veneno. A irmã da vítima, que não foi identificada, contou à televisão NDTV que “a polícia começou a pressioná-la a chegar a um acordo financeiro com os agressores ou a casar com um deles”.
Só depois do suicídio a queixa foi registada e foram feitas detenções: dois suspeitos da violação e uma alegada cúmplice. Gill confirmou que um polícia foi demitido e um outro está suspenso até à conclusão da investigação.
O caso é um dos muitos noticiados nos últimos dias e que expõe não só a violência sistemática contra as mulheres na Índia – segundo números oficiais, 228 mil dos mais de 256 mil crimes violentos registados no ano passado na Índia foram contra mulheres, mas os números reais serão muito maiores – como a indiferença com que os casos são tratados pelas autoridades.
Pressionado a agir, o Governo indiano desmultiplica-se em promessas. A última passa pela criação de um registo com os nomes, fotografias e moradas de quem foi condenado por crimes sexuais contra mulheres. A medida começará por ser aplicada em Nova Deli e o registo, garantiu o ministro do Interior, RPN Singh, será publicado no site da polícia da capital. Apesar de polémica, a medida conta com o apoio de activistas dos direitos das mulheres. “É verdade que há o risco de linchamento, mas, neste momento, é a vítima quem tem de sofrer a vergonha e o desprezo da sociedade”, disse ao Guardian Ranjana Kumari, directora do Centro para Pesquisa Social de Deli.
A jovem de 23 anos que também foi vítima de violação, na capital, há duas semanas, e que foi transferida para o hospital de Singapura, continua a “lutar pela vida”. Além dos múltiplos ferimentos e infecções, que poderão obrigar a transplante de órgãos, sofreu “danos cerebrais significativos”. A vítima, que apanhou o autocarro na companhia de um amigo, foi violada durante uma hora por vários homens dentro da viatura. Foram ambos espancados e atirados do veículo em movimento, acabando por ser encontrados por um transeunte. O Governo prometeu punições exemplares, mas nas ruas da capital indiana continua a exigir-se a pena de morte para os violadores.