Apesar da tragédia em Newtown, as escolas nos EUA estão mais seguras
A Escola Primária Sandy Hook, em Newtown, seguia as medidas de segurança convencionais dos estabelecimentos de ensino norte-americanos, mas, tal como tantas outras, não estava preparada para o massacre de sexta-feira.
Segundo dados do Departamento de Educação norte-americano, citados pela Bloomberg, no ano lectivo 2009/2010, 17 crianças e jovens com idades compreendidas entre os cinco e os 18 anos foram vítimas de homicídio em escolas, a caminho ou no regresso das aulas e em eventos escolares. Estas 17 mortes representam cerca de metade da média anual registada na década de 1990. Foi no final desta década, em 1999, que os Estados Unidos assistiram a um dos casos mais trágicos ocorridos numa escola, quando dois jovens armados entraram no liceu de Columbine, no Colorado, e mataram 12 colegas e uma professora.
Homicídios como este aumentaram a aposta das escolas na sua segurança nos últimos anos, através da colocação de seguranças à porta dos estabelecimentos de ensino, do reforço do controlo nas entradas nos recintos escolares ou ainda com o treino de professores e auxiliares para situações como a de Newtown, conflitos entre alunos ou bullying.
No entanto, esta aposta na segurança é mais consistente nas escolas secundárias. Nas primárias como a de Sandy Hook nem sempre a presença de um segurança é garantida durante todo o período de aulas. Há escolas onde estão colocados oito seguranças diariamente, como é o caso do Liceu Hamilton, em Chandler, Arizona, frequentado por 3600 alunos. Aos meios humanos junta-se um sofisticado sistema de passes que dão acesso à escola. Muitos estabelecimentos tentaram adquirir sistemas de detectores de metais, mas concluíram que, além de “dispendiosos”, “eram complicados para o pessoal da escola”, como contaram à Bloomberg especialistas em segurança.
Porém, há escolas que não cedem na segurança. É o caso da primária de Devonshire, em Chicago, que tem sempre todas as portas fechadas. Para entrar, é necessário tocar à campainha, mostrar uma identificação e passá-la por um scanner que regista o documento. Este é depois armazenado numa base de dados.
Stephen Brock, professor da Psicologia Escolar na Universidade da Califórnia e responsável pela formação de mais de quatro mil educadores para prevenir e responder a “situações de crise”, não tem dúvidas: “As escolas são seguras e são mais seguras do que eram”. Mas Stephen Brock admite que nem sempre são à prova de pessoas como Adam Lanza. “A não ser que transformemos as nossas escolas em prisões, não conseguiremos impedir que pessoas verdadeiramente motivadas entrem nos recintos escolares. Há coisas que devemos fazer, mas há limites”, defendeu à Bloomberg.
"Segurança psicológica"
Depois do massacre de Columbine, as escolas concentraram-se naquilo que Stephen Brock designa como “segurança psicológica”, através de medidas que fomentam a comunicação entre pessoal docente, pais e alunos. O objectivo é garantir o respeito entre alunos e professores e que os estudantes com problemas de comportamento sejam acompanhados e ajudados a controlar a sua agressividade.
Mas, apesar de todos estes passos, casos como o do Connecticut acontecem. A Escola Primária Sandy Hook tinha acesso controlado à entrada – os pais tocam à campainha e o pessoal, depois de fazer o reconhecimento do encarregado de educação, abre a porta –, bem como um plano de emergência, que previa que os alunos numa situação de risco fossem levados para salas de aulas interiores. Para garantir que este plano funcionava, eram feitos quatro exercícios de preparação por ano com alunos e professores.
Porém, apesar destas medidas preventivas, Adam Lanza conseguiu forçar a entrada na escola na última sexta-feira, disparando sobre uma janela para aceder ao interior. Para conseguir levar a cabo o seu massacre, atingiu mortalmente a tiro seis adultos, os que estariam mais bem preparados para situações de ataque como o que aconteceu.
“Muitas escolas acreditam que nada tão horrível como o que aconteceu no Connecticut vai acontecer-lhes. Querem ter uma comunidade escolar acolhedora, que seja segura, mas que não pareça uma prisão”, afirma Jillayne Flanders, directora da Escola Primária de Plains. A responsável reviu a forma de entrada no seu estabelecimento de ensino depois de verificar que para se ter autorização para aceder às salas de aula era necessário estar dentro do edifício.