Portuguesas são das mulheres que mais trabalham sem receber

Novo relatório da OCDE sobre desigualdades de género revela que as mulheres ainda são prejudicadas pela maternidade.

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Cuidar dos filhos é ainda uma tarefa feita sobretudo pelas mulheres PÚBLICO

Em todos os 26 países analisados neste capítulo do relatório, as mulheres fazem mais este tipo de tarefas do que os homens. Porém, a média não chega a 150 minutos e as portuguesas destacam-se nos lugares de topo.

De acordo com o relatório, divulgado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) nesta segunda-feira em Paris e intitulado Closing de Gender Gap: Act Now, o tempo que é dedicado pelas mulheres ao “trabalho não pago” aumenta nos países onde os cuidados infantis são mais caros. E, segundo o relatório, há países como Portugal e a Grécia que ainda não exploram o modelo de part-time e onde “a presença de uma criança frequentemente leva uma mãe a abandonar o mercado de trabalho”.

As diferenças de género no “trabalho não pago” diminuem com o aumento da taxa de emprego feminina, constata o documento. “As mulheres assumem uma desproporcionada quantidade de trabalho não pago, independentemente do tipo de família. Independentemente da situação laboral da mulher, num casal os homens fazem menos trabalho deste género do que as suas companheiras. Em casais em que os dois elementos têm emprego, as mulheres passam mais de duas horas por dia a fazer trabalho que não é pago.”

No que diz respeito aos cuidados com os filhos, as diferenças são ainda mais gritantes: “As mães trabalhadoras dedicam cerca de 50% mais tempo aos cuidados com os filhos do que pais [homens] que não têm emprego”. 

O ponto de viragem mais óbvio, diz o relatório, acontece no nascimento da criança. “Cuidar de uma criança parece afectar negativamente a participação das mulheres no mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, o número de horas que dedicam ao emprego, uma vez que aumenta o tempo dedicado a trabalho não pago. No caso dos homens, a chegada de uma criança faz aumentar ligeiramente o tempo dedicado ao trabalho pago e não pago.”

 

Faltam apoios à maternidade

Os dados da OCDE reflectem uma realidade que pode ser alterada por políticas de apoio e incentivo ao papel dos pais nos cuidados das crianças (como licenças de paternidade obrigatórias) e, segundo apontam os especialistas, espelham também uma cultura de valores e tradições.

Num outro capítulo do relatório é possível constatar que Portugal é um dos países que mais acredita que “as mães devem estar preparadas para reduzir o trabalho em nome da família”. Quase 60% dos pais e das mães portuguesas de crianças entre os zero e os 15 anos concordam com este destino feminino. Na Dinamarca e na Suécia, por exemplo, essa percentagem não chega aos 20%. Apesar desta postura mais conservadora, o quadro da OCDE revela também que Portugal foi um dos países onde se notou uma maior quebra desta “crença” desde 2004, quando a percentagem ultrapassava os 70% das mães e chegava quase aos 60% dos pais.

Porém, apesar destes capítulos onde Portugal se destaca, o relatório da OCDE realça a falta de apoio à maternidade que prejudica as perspectivas de carreira das mulheres. Segundo é defendido no documento, as mulheres estão ainda a pagar um elevado preço pela maternidade. Os ganhos conseguidos no campo da educação contribuíram para um aumento de participação das mulheres na força de trabalho, mas há ainda muitas diferenças no que se refere a horas de trabalho, condições de emprego e salários.

“Nos países da OCDE os homens ganham, em média, mais 16% do que as mulheres em empregos idênticos”, nota o comunicado de imprensa, que indica ainda que a média da diferença salarial entre homens e mulheres aumenta para os 22% nas famílias com um ou mais filhos. Para os casais sem filhos, a diferença é de apenas 7%.

“Melhorar a política fiscal para os pais que trabalham ajudaria a atacar este problema”, defende o relatório, que faz as contas às despesas com impostos de uma família. Depois de contabilizadas as despesas com os cuidados de uma criança, mais de metade (52%) do segundo salário de uma família é efectivamente para impostos. “Se os cuidados com uma criança absorvem um salário, há pouca ou nenhuma vantagem em ter os dois pais a trabalhar, pelo menos a full-time”, pode ler-se.

O relatório também apresenta novos dados sobre o empreendedorismo, concluindo que os negócios que pertencem a mulheres nos países da OCDE representam 30% do total e que estas “líderes” ganham 30 a 40% menos do que os homens nas mesmas posições. De resto, voltam a confirmar-se tendências já conhecidas e que colocam as mulheres a superar os homens em alguns campos da educação, como a leitura, e, em contrapartida, os homens com melhores resultados a matemática. Fica mais uma vez um aviso para a necessidade de incentivar as mulheres a escolher carreiras nas áreas das ciências e tecnologias, ainda dominadas pelos homens.
 
 
 
 

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