John McAfee, a lenda de Silicon Valley, estará louco ou está a ser perseguido?

As autoridades do Belize querem falar com o pioneiro dos antivírus informáticos por causa do assassínio de um seu vizinho.

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John McAfee Jorge Dan Lopez/Reuters

John McAfee, o criador da empresa que leva o seu nome, já está de volta aos Estados Unidos, como era o seu desejo, embora as autoridades do Belize queiram falar com ele devido ao homicídio de um seu vizinho naquele país.

A estratégia de fuga de McAfee – que hoje não tem nada a ver com a empresa, comprada pela Intel em 2010, por 7,68 mil milhões de dólares – foi no mínimo original. Sempre a enviar notícias, através do blogue http://www.whoismcafee.com, ou a falar com os mais conceituados jornais e conhecidos sites, foi contando a sua versão dos factos e dizendo que se sentia perseguido pelo Governo do Belize, por se ter recusado a pagar um suborno de dois milhões de dólares, e pelas autoridades, que suspeitavam de que ele produzia narcóticos, e que temia ser morto pela polícia se o apanhassem.

No entanto, não tinha havido acusações – e até agora também não. As autoridades apenas querem falar com ele como "pessoa de interesse" na investigação do homicídio de Gregory Faull, um norte-americano de 52 anos, que tinha uma propriedade ao lado da sua no cayo Ambergris, no mar das Caraíbas. Faull, com quem McAfee tinha desentendimentos frequentes, por causa dos muitos cães do milionário, foi encontrado morto numa poça de sangue, com um tiro na cabeça, a 11 de Novembro. McAfee jura ser inocente, mas não quer falar com a polícia.

Nos seus múltiplos contactos com jornalistas, e através do seu blogue, esta lenda de Silicon Valley, de 67 anos, um excêntrico com reconhecido gosto por pregar partidas, foi contando histórias rocambolescas das perseguições policiais de que diz ter sido alvo no Belize. O primeiro-ministro deste país da Commonwealth, uma ex-colónia britânica nas Caraíbas, diz simplesmente que o americano está "maluco".

Uma das actividades de McAfee no Belize foi iniciar uma empresa para desenvolver novos antibióticos com ingredientes encontrados na selva, associando-se a uma etnobotânica. Mas McAfee estava mais empenhado em descobrir um Viagra feminino à base de plantas, relatou o repórter Jeff Wise, num artigo para a revista Fast Company, em 2010. A cientista Allison Adonizio acabou por desligar-se do projecto, desgostada com McAfee.

Stuffmonger
O laboratório na selva, com uma série de "gringos" armados – muitos, nos relatos do New York Times e da revista Wired, que tinha há seis meses um repórter, Joshua Davis, a fazer uma reportagem de investigação sobre a actual vida de McAfee e publicou um e-book quando a história rebentou – despertou a curiosidade e a preocupação da Unidade de Supressão de Gangues do Belize, que fez um raide às instalações em Abril.

McAfee relata ainda que em Outubro viu homens fardados e armados na praia – e acordou na varanda de um promotor imobiliário seu conhecido, numa poça da sua própria urina, com um saco de plástico com um pó estranho ao lado.

Em Novembro, quando a polícia foi à casa dele para lhe falar por causa do homicídio do vizinho, fugiu, fez um buraco na areia da praia e pôs uns cartões por cima – e ficou assim enterrado durante horas, antes de se lançar em fuga com a actual namorada de 20 anos, Samantha.

Ele garante que desde 1983 não bebe nem consome drogas – depois de ter tomado tudo o que existe. Mas admite que são de sua autoria os posts feitos sob o nome Stuffmonger num fórum do site Bluelight, popular entre os que se interessam por drogas sintéticas e as consomem, em que relata experiências com uma droga psicoactiva que – garantia – permite atingir o nirvana sexual. Esta droga faz parte dos chamados "sais de banho", altamente tóxicos.

McAfee reconheceu no blogue a autoria dos posts. "Sou esse Stuffmonger", escreveu a 20 de Novembro. "No entanto, não tomo drogas, não sou químico. E gosto de pregar partidas, não me importo de investir meses numa determinada partida", afirmou.

McAfee mudou-se para o Belize há quatro anos, depois de anunciar que tinha perdido quase toda a sua fortuna na crise financeira de 2008. Restavam-lhe "quatro milhões de dólares", disse então – no que terá sido um grande exagero. No Belize comprou várias propriedades e teve um estilo de vida espampanante, rodeado de muitas jovens mulheres – fala-se mesmo num harém, com muitas jovens prostitutas –, rodeado de muitos seguranças armados. Envolveu-se também com membros de gangues – em particular, fala em querer justiça para uma amiga, Amy, cujo namorado, membro de um gangue, foi morto pelas autoridades.

Acabou por ser apanhado na Guatemala – país vizinho com o qual o Belize tem uma disputa territorial –, porque os jornalistas da revista electrónica Vice, com quem McAfee estava, colocaram online uma foto deles com o fugitivo com metadados que revelavam a sua localização.

Foi detido por ter entrado ilegalmente no país, mas, aparententemente, não é crime entrar sem visto na Guatemala, e acabou por ser enviado para país de origem, os EUA, onde não há mandado de captura activo contra ele.
 
 

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