Segundo o site da Cinemateca Brasileira, data de 1913 a primeira tentativa de adaptar Amor de Perdição, no Rio Grande do Sul, numa produção dirigida por Francisco Santos, que ficaria por concluir. Mas, quatro anos depois, José Vianna concretizou a primeira adaptação cinematográfica do romance, que se estreou a 11 de Junho de 1917, no Rio de Janeiro.
O Brasil voltaria mais duas vezes a Amor de Perdição: em 1924, na cidade de João Pessoa, pela mão de Rodriguez Walfredo, num projecto que também ficaria pelo caminho; e em 1965, numa série da TV Cultura, com realização de Lúcia Lambertini.
Foi, no entanto, naturalmente em Portugal que a obra de Camilo deixou marca mais impressiva (também) no cinema. Começou com uma produção da Invicta Film, em 1921, assinada por Georges Pallu. O realizador francês, membro da equipa de técnicos estrangeiros contratados pela produtora portuense, fez Amor de Perdição logo a seguir a Os Fidalgos da Casa Mourisca (1920), de Júlio Dinis, que se tinha afirmado o maior sucesso do cinema mudo português. Explorando o mesmo filão, a Invicta apostou numa "superprodução" camiliana, que custaria 95 contos (algo equivalente a um milhão de euros actualmente). Mas o filme - apesar de ter sido a primeira produção portuguesa a ser exportada para os Estados Unidos, segundo Manoel de Oliveira - não correu tão bem como o esperado, tanto estética como comercialmente. "O cuidado posto em todos os pormenores, a veracidade dos ambientes, a estranha psicologia das personagens, a força dos conflitos, tudo isto dá ao filme uma certa qualidade, mas que não ultrapassa a ilustração, o convencionalismo das formas teatrais, dos quadros estáticos", escreveu em 1986 o historiador de cinema Luís de Pina.
Duas décadas depois, António Lopes Ribeiro, que era então uma espécie de cineasta do Estado Novo, quis também experimentar a adaptação literária. O seu Amor de Perdição abre com Camilo a entregar-se na Cadeia da Relação, onde meio século antes estivera Simão Botelho. Desenvolve-se, depois, como "um fascinante jogo de correspondências" entre a expressão literária e a linguagem cinematográfica, escreveu o crítico José de Matos-Cruz.
No final dos anos 1970, Manoel de Oliveira consegue finalmente levar ao ecrã a obra de um dos seus escritores de cabeceira. Mas é obrigado a fazê-lo simultaneamente para cinema e televisão. A estreia da série, em 1978, numa RTP ainda a preto e branco, foi recebida com críticas violentas e generalizadas. E só a distribuição internacional da versão cinematográfica no ano seguinte viria a resgatar a importância desta adaptação radical do texto de Camilo, na qual Oliveira eleva ao limite a sua tese de que o cinema não era mais do que a fixação audiovisual do teatro - e, por intermédio deste, da literatura. O Amor de Perdição de Oliveira teve críticas entusiásticas na imprensa especializada francesa (Cahiers du Cinéma e Positif), mas também chegou à primeira página do diário Le Monde. Quando "regressou" a Portugal, já na versão para cinema e a cores, o filme abriu uma nova era para a obra de Oliveira.
Já no final do milénio, Mário Barroso (director de fotografia de vários filmes de Oliveira, e actor em O Dia do Desespero, onde incarnou a própria figura de Camilo) realiza também o seu Um Amor de Perdição. É uma adaptação muito livre da tragédia camiliana aos dias de hoje - na sequência do que o australiano Baz Luhrmann tinha feito com o Romeu e Julieta (1996) de Shakespeare -, e que resultou bem do ponto de vista cinematográfico, mesmo que não tenha tido a mesma correspondência nas bilheteiras