Cresce coro de críticas a declarações polémicas de António Borges
Do lado do PSD, António Capucho – ex-ministro, dirigente e autarca social-democrata – criticou as palavras de António Borges, que disse sábado, num fórum repleto de empresários em Faro, que aqueles que contestaram as alterações que o Governo queria introduzir na taxa social única (TSU) eram “ignorantes”. “Não passariam no primeiro ano do meu curso na faculdade”, acrescentou.
Capucho classificou as palavras de Borges como “disparates”, rejeitando que os empresários, tal como disse o consultor do Governo, estejam a “perturbar a estabilidade”. “Quem está a perturbar a estabilidade nem sou eu, que faço de facto declarações críticas em relação ao Governo, é o doutor António Borges, com a sua presença continuada no Governo e a dizer estes disparates”, afirmou, citado pela agência Lusa.
Mira Amaral, presidente do banco BIC Portugal e ex-ministro do PSD, não comentou directamente as declarações de António Borges, mas justificou o descontentamento dos empresários com as mudanças que o Governo queria na TSU. “Os empresários sentem-se desconfortáveis quando na sua empresa um trabalhador lhes diz ‘é o meu salário que está a financiar a empresa’”, disse Mira Amaral, sublinhando que os políticos “têm que perceber esse desconforto”.
No sábado, já Luís Filipe Menezes, conselheiro de Estado e presidente da Câmara Municipal de Gaia criticara as palavras de Borges. “São declarações muito insensatas, que colocam em causa a imagem do PSD e do Governo e que são completamente inaceitáveis e condenáveis porque são de uma insensatez absoluta”, afirmou Menezes em declarações à agência Lusa.
Da parte do CDS-PP, António Pires de Lima, presidente do Conselho Nacional do partido, e o eurodeputado Diogo Feio, também criticaram as palavras de António Borges. Diogo Feio escreveu na sua página do Facebook que as declarações de Borges “são o contrário daquilo que o país precisa”. O eurodeputado sugeriu “mais recato” ao consultor do Governo.
“Atacar empresários que tanto fizeram e de que tanto precisamos é um caminho errado”, acrescentou o eurodeputado. “Pessoalmente, parece-me óbvio que são os empresários que geram riqueza, investem e criam emprego, pelo que o Governo só teria vantagem em tê-los como aliados estratégicos”, concluiu o eurodeputado centrista.
Já António Pires de Lima, presidente do Conselho Nacional do CDS-PP, citado pela Rádio Renascença, classificou as palavras de António Borges como “tão infelizes” e “tão arrogantes” que “nem merecem comentários”.
O líder do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, falou por sua vez em “anedota”. “Eu acho que o consultor António Borges, que é o ministro extranumerário do Governo, se transformou numa espécie de gato escondido com o rabo de fora. Ele propõe o que Passos Coelho apresenta, Passos Coelho recua, António Borges insulta o país, é uma anedota”, declarou Francisco Louçã.
Também o líder do PCP, Jerónimo de Sousa acusou António Borges de falar “de barriga cheia”. “Se percebesse os dramas e as dificuldades da maioria dos trabalhadores e do povo português, ele nunca diria aquilo”, afirmou, nos Açores, onde está para participar na campanha para as eleições regionais.
“O senhor António Borges conseguiu chamar ignorantes aos pequenos e médios empresários que vivem particularmente do mercado interno”, acrescentou Jerónimo de Sousa. “Há uma reacção de parte do patronato que é compreensível”.
No sábado, vários empresários insurgiram-se contra as declarações de António Borges. Filipe de Botton, presidente da Logoplaste, disse que Borges tem “uma atitude que demonstra total ignorância do que é o tecido empresarial português”.
O presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, João Vieira Lopes, disse que Borges não tem “perfil para o lugar público que ocupa”.
O empresário e ex-ministro Murteira Nabo disse que Borges “não foi feliz”, enquanto Luís Onofre, do sector dos calçados, manifestou-se “pasmado”, afirmando que o consultor do Governo foi “extremamente deselegante”.
O deputado socialista Miguel Laranjeiro desafiou, sábado, o primeiro-ministro a esclarecer “se subscreve ou não” as declarações do consultor do Governo António Borges.
Notícia actualizada às 14h40: Acrescenta declarações de António Capucho, Mira Amaral e Francisco Louçã