Já está no mar a maior expedição científica dos últimos 20 anos às Berlengas
A campanha é promovida pela Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC) e envolve cerca de 80 pessoas, entre mergulhadores, investigadores e estudantes universitários de diversas universidades, centros de investigação e laboratórios associados, nacionais e internacionais. Estes, repartidos em dois grupos, vão fazer a cartografia e caracterização de espécies e habitats.
“Nas Berlengas há muito por conhecer. Têm sido feitos estudos muito localizados, mas não existe um conhecimento extensivo do que existe”, disse Frederico Dias, coordenador do projecto M@rbis na EMEPC. Na sua opinião, há “falta de informação relativamente a um território tão rico em biodiversidade como as Berlengas”.
Segundo a EMEPC, o objectivo da expedição é fazer "a cartografia e caracterização de espécies e habitats marinhos da área envolvente das Ilhas Berlengas, de modo a colmatar as lacunas de informação identificadas para a informação marinha do local".
O investigador lembrou que o arquipélago das ilhas das Berlengas é onde se concentra a maior diversidade de espécies da costa atlântica portuguesa, por causa da proximidade ao Canhão da Nazaré e por estar na fronteira entre as águas mais frias e mais quentes.
“O melhor que poderá acontecer, e há uma probabilidade elevada, é descobrirmos uma nova espécie para a ciência ou, pelo menos, observar espécies já conhecidas pela ciência mas que nunca foram observadas nas Berlengas”, explicou.
As três ilhas, que compõem o arquipélago, albergam cerca de 400 espécies diferentes, entre peixes, esponjas, algas, gorgónias (espécie de corais) e outros organismos, como ouriços e estrelas-do-mar. “Finda a expedição, estamos à espera de aumentar esse número”, frisou.
Os estudos vão ser feitos através de mergulhos a 35 metros de profundidade, sendo os cientistas acompanhados por mergulhadores para garantir todas as condições de segurança. Os dados recolhidos através de censos visuais, registo de imagem e amostragem serão carregados no sistema M@rBis, permitindo armazenar informação detalhada da biodiversidade daquelas áreas que será utilizada pela comunidade científica.
A comitiva vai estar até ao dia 30 a bordo do navio Creoula, um antigo bacalhoeiro, que entre 1937 e 1973 participou em campanhas à Terra Nova, reconvertido pela Marinha nos anos 80 como navio-museu e de apoio ao treino militar.
A EMEPC tem vindo a realizar expedições idênticas desde 2010, ano em que o território a ser estudado foi as ilhas Selvagens (Madeira), enquanto em 2011 foram as Desertas, também nas regiões autónomas, no âmbito do M@rbis, um sistema que reúne informação georeferenciada da biodiversidade marinha nacional, destinada a cumprir os objectivos da União Europeia de alargar a Rede Natura 2000 ao meio marinho, nas águas sob jurisdição portuguesa.