Há um novo mapa do genoma humano

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O genoma está "pejado de 'interruptores'" Reuters

Os cerca de 20.000 genes que permitem fabricar todas as proteínas do nosso organismo ocupam apenas 2% da molécula de ADN humano. E o resto? O que fazem as carradas de “letras” de código genético situadas entre os genes propriamente ditos? Até agora, a ideia mais geralmente aceite era a de que se tratava sobretudo de “ADN-lixo”, feito de sequências genéticas que na sua maioria não serviam para nada. Mas o panorama que pintam os mais de 30 artigos hoje tornados públicos pelo consórcio internacional ENCODE (Enciclopédia de Elementos de ADN) nas revistas Nature, Science, Genome Biology e Genome Research (e acessíveis online a todos em www.nature.com/encode) é radicalmente oposto.

Em particular, nesses 98% do genoma que não codificam proteínas, os cientistas encontraram agora milhões de “interruptores” que servem para ligar e desligar os genes conforme o tipo de célula (em cujo núcleo o ADN está alojado) e da fase do desenvolvimento dos órgãos e tecidos. Por outras palavras, escondido no ADN, dissimulado entre os genes até agora considerados “nobres”, por assim dizer – os genes que fabricam proteínas – há todo um megapainel de controlo, distribuído por toda a extensão do genoma, que dita quando, onde e em que quantidades os genes “nobres” devem fabricar essas proteínas. Sem esses controlos, sem esses elementos reguladores da actividade genética, os nossos 20 mil genes não mais seriam do que fragmentos inertes. E também não serviriam para nada.

“O nosso genoma está verdadeiramente pejado de ‘interruptores’”, diz em comunicado Ewan Birney, do Laboratório Europeu de Biologia Molecular – Instituto Europeu de Bioinformática, no Reino Unido, um dos principais coordenadores do projecto ENCODE. “Conseguimos ver que cerca de 80% do genoma está activamente a fazer qualquer coisa (...) e está de facto envolvido no controlo de onde e quando as proteínas são produzidas e não apenas no seu fabrico.”

Este primeiro mapa dos bocadinhos de ADN que, apesar de não fabricarem nada, estão activos e são essenciais à execução do programa genético contido no nosso genoma, é o fruto de cinco anos de trabalho de centenas de cientistas (incluindo portugueses) em dezenas de instituições no mundo inteiro, que juntaram os seus esforços com o objectivo, justamente, de perceber como o genoma faz para, a partir da sua sequência de “letras” de base, gerar a nossa complexidade biológica.

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