Grécia vai pedir mais dois anos para cumprir o programa da troika
A intenção do Governo grego de pedir um alargamento de dois anos para cumprir o Memorando de Entendimento – que, tal como Portugal, o seu país subscreveu com a Comissão Europeia, o BCE e o FMI – já tinha sido noticiada, sem que fossem conhecidos os termos da proposta. Hoje, o Financial Times (FT) faz manchete com o assunto, depois de ter tido acesso a um documento sobre o plano de extensão de prazos.Atenas tem a braços a difícil tarefa de cortar 11,5 mil milhões de euros (o equivalente a cerca de 5% do PIB grego) na despesa pública em 2013 e 2014, conforme lhe é exigido nos termos do actual plano de resgate, o segundo a que se submeteu para não cessar pagamentos e poder permanecer no euro, no meio de forte contestação social e de um terramoto eleitoral nas últimas legislativas. Depois de ter sido conhecida a notícia do FT, o Governo alemão já veio dizer que a Grécia terá de cumprir o programa de austeridade acordado com a
troika para continuar a receber as parcelas do empréstimo.
O novo prazo que o primeiro-ministro de centro-direita, Antonis Samaras, vai pedir pressupõe que o actual plano termine em 2016, em vez de 2014, com o ajustamento anual de défice público de 1,5% do PIB. De acordo como o mesmo documento, isso significaria que a Grécia necessitaria de um financiamento adicional de 20 mil milhões de euros, que o actual Governo de coligação se propõe obter sem recorrer aos seus parceiros da zona euro – utilizando um empréstimo já existente do FMI, emitindo bilhetes do tesouro e com um adiamento do início do pagamento do seu primeiro empréstimo da troika de 2016 para 2020, relata também o Financial Times.
O pedido grego deverá ser apresentado na próxima semana durante os encontros de Samaras com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e com o Presidente da França, François Hollande, previsto para o dia 24. Antes deverá encontrar-se em Atenas com o presidente do Eurogrupo, o luxemburguês Jean-Claude Juncker.
O jornal grego Kathimerini adiantou terça-feira que Samaras poderá conseguir fornecer a Merkel e Hollande os detalhes também dos cortes de despesa que pretende realizar, depois de os líderes dos outros partidos da coligação (Evangelos Venizelos, do Pasok, e Fotis Kouvelis, da Esquerda Democrática) os terem aprovado.
Os encontros da próxima semana serão os primeiros com os líderes europeus desde que Samaras é primeiro-ministro, devido a se ter submetido a uma cirurgia ocular que o impediu de viajar desde Junho, e as datas ainda não estão confirmadas.
Nas últimas semanas, vários líderes alemães têm dados sinais de impaciência para com a situação da Grécia, o que culminou com o vice-presidente da coligação do governo alemão, Michael Fuchs, a sugerir na segunda-feira que a Grécia deve sair da zona euro voluntariamente, caso falhe na adopção das reformas exigidas pelos credores internacionais.
E hoje, numa aparente reacção à notícia do Financial Times, um porta-voz de Angela Merkel veio reafirmar que a Grécia deve cumprir o programa de austeridade acordado e que o Governo alemão mantém inalterada a sua posição sobre as reformas que a Grécia tem de fazer. “Claro que a chanceler irá ouvir o que Samaras tem para dizer sobre a situação na Grécia e sobre a aplicação do programa”, disse o referido porta-voz, Steffen Seibert, citado pela Lusa. E sublinhou que, até final de Setembro a
troika apresentará um relatório sobre os progressos gregos.
Os juros implícitos às transacções das obrigações da Grécia a dez anos (prazo de referência nos mercados) estavam a subir ligeiramente pouco depois das 15h, para mais de 24,5%, segundo dados da Reuters. Em Itália, Espanha e Portugal a tendência era de queda ligeira, tal como vem acontecendo há alguns dias.
Espanha hesita?A dramática situação grega irrompe assim novamente na crise existencial do euro, depois de várias semanas em que a Espanha esteve no epicentro do furacão, com juros em alta e o Governo de Madrid a acusar o Banco Central Europeu (BCE) de se portar como um banco clandestino por não actuar nos mercados de dívida.O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, anunciou esta terça que se encontrará com Angela Merkel a 6 de Setembro, e disse que não tomará nenhuma decisão até que o BCE defina os moldes em que poderá intervir nos mercados de dívida soberana dos países que peçam empréstimos aos fundos europeus de resgate e se acordem programas de austeridade.
Depois de ter rejeitado categoricamente a possibilidade de um pedido de resgate ao Estado (depois de já ter pedido uma linha de crédito para os seus bancos cujo valor pode ascender aos 100 mil milhões), o Governo espanhol parece agora hesitar. Também ontem, o Comissário Europeu da Economia e Finanças, o finlandês Olli Rehn, disse que o Governo espanhol está “de espírito aberto” quanto à possibilidade de pedir uma nova linha de crédito à UE.