Duarte Lima diz-se vítima de “investigação por encomenda” no caso Rosalina
Numa entrevista publicada nesta quinta-feira, o advogado e antigo deputado do PSD recusa falar dos casos BPN e Monte Branco – em que o seu nome também aparece envolvido – por ainda estarem em segredo de justiça. Contudo, sobre a morte de Rosalina Ribeiro considera que chegou a altura de prestar alguns esclarecimentos, justificando que está a viver “uma experiência demolidora, pior do que a doença, pois a leucemia não deixa qualquer estigma”, e que “não pode haver uma imputação mais tremenda” do que aquela que lhe foi feita.
Segundo o Ministério Público brasileiro, Duarte Lima terá assassinado Rosalina Ribeiro em Dezembro de 2009, em virtude da recusa da companheira de Lúcio Tomé Feteira em assinar um documento no qual negaria ter depositado 5,2 milhões de euros na conta bancária do antigo líder parlamentar do PSD, que era seu advogado.
Inicialmente, Rosalina Ribeiro foi dada como desaparecida, acabando por ser encontrada morta com dois tiros em Saquarema, na região dos Lagos, no estado do Rio de Janeiro.
A poucos meses de saber se vai a julgamento pela acusação no Brasil, Duarte Lima, 56 anos, que se encontra em prisão domiciliária ao abrigo do caso BPN, diz que desde cedo percebeu que tudo o que dissesse no âmbito da investigação brasileira seria virado contra si, defendendo que a polícia agiu por “encomenda”, redigindo uma acusação “fértil em imaginação, deduções e especulações”, mas na qual “não existe um facto concreto” que o relacione directamente com o crime.
Questionado pela Visão sobre o móbil do crime apontado pela polícia brasileira serem os honorários pagos pela sua cliente, Lima nega o argumento e questiona: “Porque iria atentar contra a vida dela pelo facto de me ter pago honorários?”. Garante também que os honorários foram regularizados em termos fiscais em Portugal.
De testemunha a principal suspeitoDuarte Lima considera mesmo que existem várias provas que mostram que a investigação policial no Brasil não foi conduzida de forma séria, e assegura que “a polícia deturpou o facto principal da prova”, alterando nos relatórios periciais a hora e circunstâncias da morte de Rosalina Ribeiro para o colocar no lugar do crime.
Refere também que a carta rogatória enviada para Portugal pelas autoridades brasileiras para que fosse ouvido no processo diziam que seria interrogado na condição de testemunha e não de principal suspeito, como foi dito mais tarde.
O advogado explica que estavam no Brasil para tratar de negociações com duas pessoas para vender a posição de Rosalina na herança de Lúcio Tomé Feteira e que foi nesse âmbito que na véspera da morte da sua cliente se deslocou ao local do crime. Nega ter voltado ao local depois disso e garante que as multas de trânsito de que foi alvo foram na auto-estrada da zona e não na localidade do crime. “O ódio de Olímpia era tal que ela só queria ver Rosalina sem nada”, diz, para justificar a venda da posição da sua cliente, que queria evitar mais conflitos judiciais.
Lima afirma, ainda, que num primeiro telefonema com as autoridades brasileiras referiu que não se lembrava da marca do carro e do stand onde o alugou por lhe terem dito que a conversa era informal mas depois apercebeu-se de que estava a ser gravada. Nega também ter feito chamadas para uma loja de armas a partir do hotel onde estava hospedado, dizendo que todos os telefonemas que fez foram dos seus telemóveis e que a loja em questão é de campismo e não de armas.
O antigo deputado social-democrata estava em prisão preventiva desde Novembro de 2011 por suspeita da prática dos crimes de burla qualificada, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais, num caso relacionado com a compra de terrenos em Oeiras com dinheiros do Banco Português de Negócios, estando em prisão domiciliária desde 18 de Maio.
No âmbito da operação Monte Branco, foi identificado como um dos principais clientes das duas maiores redes de branqueamento de capitais e fraude fiscal em Portugal e que eram lideradas por ex-funcionários do UBS. Na mesma entrevista à Visão Lima fala da sua relação com Michel Canals, antigo gestor de fortunas do UBS, banco para o qual alegadamente foram feitas as transferências da sua cliente.