Desempregados são os que mais abandonam a Internet
Porém, pela primeira vez, o observatório recolheu dados sobre o abandono: 3,9% da população já teve Internet e acabou por desistir.
O grupo que mais deixou de usar a Internet é o dos desempregados: 8,4% deixaram de ser utilizadores, ao passo que 49,6% utilizam e os restantes 42% nunca o fizeram
Entre os que mais abandonaram, seguem-se os trabalhadores manuais não especializados por conta de outrem: 8,3% desistiram, num grupo em que apenas 34,6% são utilizadores. A faixa etária com mais desistências é a dos 35 aos 44 anos.
“Com um ordenado mínimo inferior a 500 euros, com as pessoas a terem de pagar pela TDT, não é displicente neste contexto que tenham de cortar [na Internet]”, observa o investigador do ISCTE Gustavo Cardoso, um dos coordenadores do estudo. “Se a crise durar mais anos, vamos assistir a um crescimento [da adopção da Internet] próximo do zero ou a uma regressão.”
O académico, porém, frisa serem concebíveis motivos não financeiros para algumas desistências. Por exemplo, pessoas que experimentaram e simplesmente não acharam a ferramenta útil.
A investigação não inquiriu sobre as razões para o abandono, mas lista os motivos que levam a população a não usar a tecnologia (e que se aplicam tanto ao grupo dos que desistiram, como ao dos que nunca utilizaram).
O preço do acesso vem num afastado quarto lugar: é a justificação dada por 8,5% das 1250 pessoas que foram inquiridas em Dezembro. A terceira justificação mais frequente é a falta de acesso a um computador: foi a resposta de 9,1% dos inquiridos. De longe, os principais motivos – com 38,9% e 34,9%, respectivamente – são a ausência de interesse ou utilidade e a falta de conhecimentos.
O estudo mostra também que subiu a percentagem dos não utilizadores que descartam a possibilidade de vir a aceder. Em 2010, ano dos dados anteriores, eram 56% os não utilizadores que afirmavam que “nunca” iriam usar a Internet. Agora, são 64% (o aumento percentual traduz também um aumento absoluto).
Crescimento “marginal”Porém, os que desistiram da Internet são mesmo os que mais reconhecem que o uso desta tecnologia “contribui para uma melhoria do nível de vida”: 89,6% dos ex-utilizadores concordam com esta afirmação, mais até do que os 85,2% de actuais cibernautas.
Portugal teve “uma taxa de crescimento muito rápida” no uso da Internet, observa Gustavo Cardoso, mas agora “é clara a tendência para um crescimento marginal” (os dados de 2010 apontavam para uma taxa de utilização de 44,5%, já próxima da actual).
O simples acesso à tecnologia não basta para continuar o caminho da informatização, argumenta o investigador. “Não se trata apenas de políticas públicas de dar equipamentos, é preciso dar formação e não apenas formação técnica.”
A adopção requer “os conhecimentos que permitem que as pessoas se posicionem perante o mundo” que a Internet lhes oferece. “Rudimentos de outras línguas, de história, economia e geografia” são necessários para funcionar na Internet. Sem eles, diz Cardoso, as pessoas “não conseguem sequer os raciocínios necessários para fazerem uma pesquisa que lhes seja útil”.