Letónia não quer falar russo
Com uma taxa de participação que ultrapassou os 69% – muito acima do registado em eleições anteriores e para lá das expectativas para este referendo – mais de três quartos dos eleitores rejeitaram a proposta, de acordo com dados da Comissão Eleitoral, já com 90% dos boletins contados.
O referendo, lançado pelo movimento russófono Língua Nativa, expõe uma profunda divisão social e tensões étnicas, com os letões da etnia russa (cerca de um terço da população) há muito a reclamarem serem vítimas de discriminação no país, que se tornou independente da Rússia em 1991 após mais de 50 anos sob o domínio soviético.
Aprender a língua letã tornou-se um requisito para a aquisição de cidadania nos anos que se seguiram à separação da União Soviética, mas ao fim de mais de duas décadas muitos letões russófonos continuam a resistir – 300 mil dos quais ainda não receberam o estatuto de cidadão e, por isso, não podem votar nas eleições, nem desempenhar cargos públicos ou trabalhar para quaisquer instituições do Governo.
Para muitos letões a iniciativa de referendo não passou de uma tentativa para desestabilizar a independência do país, membro da União Europeia desde 2004. O Presidente avaliou-o mesmo como “absurdo”, sublinhando que a maior parte da população está “mais preocupada é com a recuperação da grave recessão”.
Berzins deixou claro ser um defensor do “não” no referendo, afirmando que “não há necessidade nenhuma de uma segunda língua”: “Quem queira pode usar a sua língua em casa ou até mesmo na escola”, defendeu, evocando que o Governo financia as escolas dos grupos minoritários populacionais, nas quais é usada a sua própria língua.