Cientistas adiam sinais de envelhecimento em ratos

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As rugas da pele são uma característica do envelhecimento Adriano Miranda (arquivo)

Ao longo da vida as células multiplicam-se e envelhecem. Depois de uma célula se dividir algumas dezenas de vezes, o que depende de cada tecido, um sinal genético desliga esta capacidade, evitando que se torne, por exemplo, cancerígena.

Na juventude, estas células velhas ou senescentes, como os cientistas lhe chamam, vão sendo limpas pelo sistema imunitário. Mas com o envelhecimento, é provável que esta capacidade se vá perdendo e na velhice estas células perfazem entre cinco e 10% do corpo.

Já se tinha verificado que as células senescentes produziam proteínas imunitárias e segundo as teorias dos investigadores especialistas nesta área, estas moléculas provocam um envelhecimento dos tecidos ao redor. Mas nada fora comprovado até agora.

“Tem-se avançado uma hipótese: já que as células são encontradas em locais associados a patologias da idade, poderiam estar relacionadas com o desenvolvimento destas patologias”, disse Jan van Deursen coordenador da equipa que fez o estudo, citado num artigo da revista Science. A equipa, que trabalha na Mayo Clinic em Rochester, Minnesota, EUA, tentou eliminar estas células em ratos para testar esta possível explicação.

Para isso, produziu uma linhagem de ratos transgénicos com uma especificidade nas células mais idosas. Sempre que uma célula activa o gene P16lnk4, um sinal de senescência, os genes responsáveis pela morte celular passam a ficar disponíveis para entrar em acção, algo que não acontece naturalmente. Depois, os cientistas podem administrar um fármaco para activar esta via de morte celular e matar as células velhas.

“O nosso método permitiu olhar para as consequências de se remover células senescentes em fases diferentes do ciclo de vida do rato”, disse o investigador, explicando que não bloquearam o fenómeno de raiz.

A equipa testou primeiro a droga em ratinhos desde o desmame, administrando o químico de três em três dias. Apesar do tempo médio de vida não ter sido retardado, o começo das cataratas – uma doença de cegueira – foi adiado 100 dias, as fibras musculares eram duas vezes mais largas e a curvatura da espinha e a deposição de gorduras eram semelhantes aos ratinhos jovens.

Depois, os cientistas experimentaram a droga quando os ratinhos já estavam no correspondente à meia-idade humana. Apesar dos efeitos do envelhecimento não terem sido revertidos, os músculos e a deposição de gordura não mostraram sinais de envelhecimento.

“Ficámos muito surpreendidos pelo efeito profundo. Acho que isto é realmente significativo”, disse o cientista à BBC News.

Vários cientistas que não estiveram relacionados ao estudo dizem que esta descoberta pode ter um impacto grande na medicina que tenta travar o envelhecimento humano. “Isto é realmente uma tour de force técnica”, disse Norman Sharpless, geneticista da Universidade da Carolina do Norte, que não esteve envolvido na investigação. “Eles fizeram descobertas que são mesmo importante para compreender a ciência básica do envelhecimento”, disse citado pela Science.

As aplicações aos humanos não são directas, porque a experiência foi feita em ratos transgénicos, e antes é necessário perceber se há efeitos negativos nesta alteração da fisiologia humana. “Sim, talvez possamos melhorar as cataratas, mas será que isto vem com um risco acrescido de cancro e infecções?”, questionou o geneticista.

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