Governo discute novo uso para o futuro Museu dos Coches
"A minha preocupação neste momento é encontrar uma solução global para a frente Tejo", disse ontem ao PÚBLICO Miguel Relvas, ministro Adjunto dos Assuntos Parlamentares, que tem a seu cargo o processo de extinção da empresa criada em 2008 pelo então primeiro-ministro José Sócrates para a requalificação da zona ribeirinha de Lisboa (o desaparecimento da Frente Tejo SA foi anunciado em Julho). O novo Museu Nacional dos Coches era apresentado pelo anterior governo socialista como uma peça-chave desta revitalização.
Para contribuir para o debate sobre a zona, Relvas levou para uma reunião que teve há um mês com o presidente da câmara de Lisboa, António Costa, e o secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, uma pergunta: "Por que não ponderar a hipótese de dar ao edifício outro uso?" Nada está, no entanto, decidido, disse ontem fonte do governo. Por isso, vão realizar-se mais reuniões.
Segundo várias fontes ligadas à Cultura ouvidas ontem pelo PÚBLICO, que preferiram manter-se anónimas, em cima da mesa estará a eventual criação de um museu da viagem e da língua, uma proposta que já antes fora avançada para outros edifícios daquela zona: o Mosteiro dos Jerónimos (onde está o Museu Nacional de Arqueologia, MNA) e o Museu de Arte Popular.
A ideia de um museu com base na Expansão começou por ser defendida pelo escritor Vasco Graça Moura (que foi eurodeputado pelo PSD e presidente da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses) e, mais recentemente, pela historiadora de arte Raquel Henriques da Silva, que foi também directora do instituto dos museus.
Num cenário de profunda contenção orçamental, as mesmas fontes defendem que na origem do debate deverão estar também os elevados custos de manutenção dos coches no espaço criado pelo Pritzker de 2006 (o mais alto prémio que um arquitecto pode desejar). E dizem que é a mesma falta de dinheiro que leva a Secretaria de Estado da Cultura (SEC) a ter ainda em análise a transferência do MNA para a Cordoaria Nacional.
Obra continuaContactado pelo PÚBLICO, Paulo Mendes da Rocha, 82 anos, preferiu não prestar declarações, remetendo qualquer esclarecimento sobre o assunto para o Governo português. A SEC não se pronunciou, nem o Turismo de Portugal, entidade de onde parte o financiamento da obra (31 milhões de euros provenientes da concessão do Casino de Lisboa, embora os últimos custos divulgados ascendam a 38,8 milhões). João Brigola, director do Instituto dos Museus e da Conservação, que tutela os Coches, disse ontem que não tinha recebido "qualquer informação oficial sobre a questão".
Apesar dos atrasos iniciais, a obra está a decorrer como previsto, disse ontem António Capinha, do gabinete de comunicação da Mota Engil, empresa responsável pelos trabalhos.
A confirmar-se a mudança de finalidade, o projecto de Mendes da Rocha deverá ter grandes alterações, uma vez que os coches têm especificidades de exposição muito concretas e exigem, por isso, um edifício à sua medida: basta pensar que ganham em ser vistos de todos os lados e no espaço que é preciso para que dêem a volta sempre que for preciso restaurá-los ou mudá-los de lugar.
O museu que está planeado, e cuja conclusão foi anunciada para o fim deste ano, prevê a exposição de 80 coches da colecção portuguesa, uma das melhores do mundo. com Ana Henriques