Piolhos da roupa indicam que humanos começaram a vestir-se há 170 mil anos
O berço da humanidade é a África. Há 800 mil anos, as populações de hominídeos aventuraram-se pela primeira vez para fora do continente e tiveram que enfrentar o frio da Europa e da Ásia. Este movimento aconteceu várias vezes. A última foi feita pelo homem moderno, que evoluiu há cerca de 200 mil anos, e saiu de África há menos de 100 mil anos, substituindo as outras populações.
“As coisas que nos fizeram ter muito mais sucesso nessa aventura foram tecnologias como o uso controlado de fogo, a utilização de roupa, novas estratégias de caça e novas ferramentas de pedra”, disse em comunicado David Reed, último autor do estudo publicado agora na revista Molecular Biology and Evolution.
Os tecidos são materiais que se degradam rápido e a datação do uso de roupa tem limitações. Os utensílios mais antigos para cortar tecido têm 780 mil anos, mas este tecido poderia servir na construção de casas. As mais antigas agulhas com buraco encontradas - uma prova irrefutável do uso de vestuário - têm 40 mil anos, são muito mais recentes.
Determinar a data em que se deu a separação evolutiva entre os piolhos do cabelo e os piolhos da roupa, pode contornar o problema. Sabe-se que os humanos perderam o pêlo do corpo há 1,2 milhões de anos. A utilização da roupa terá sido posterior.
A equipa de cientistas identificou o grau de divergência evolutiva entre alguns genes das duas subespécies de piolhos. A partir desse valor datou quando é que a divergência começou a acontecer - ou seja, quando é que os nossos antepassados vestiram-se e este parasita pôde colonizar o novo habitat. Em 2003 outra equipa tinha datado com esta técnica o uso de roupa há 107 mil anos. Mas os novos resultados mais robustos mostram que o uso é muito anterior à saída de África. Uma explicação pode ser a aproximação da Idade do Gelo, há 120 mil anos, que fez diminuir a temperatura dos climas fora dos trópicos.
“É interessante pensar que os humanos foram capazes de sobreviver em África durante centenas de milhares de anos sem roupa e sem pêlo corporal e que só depois de usarem roupa é que saíram de África para outras partes do mundo”, disse Reed.