Green Day enchem Pavilhão Atlântico e dão um concerto "explosivo"

Foto
Um concerto explosivo e interactivo dos Green Day, que vieram apresentar o seu novo "21st Century Breakdown" Anirudh Koul

A noite começou, pontualmente, às 19h30. Subiram ao palco os norte-americanos Prima Donna, banda de rock’n’roll escolhida pelos Green Day para abrir o concerto em Portugal, que foi também o primeiro da digressão europeia. Tocaram pouco mais de meia hora, reféns da má acústica da sala de espectáculos do Parque das Nações: as guitarras estiveram desequilibradas, a bateria pouco pujante e um baixo cujas frequências ultrapassaram frequentemente o desejável, abafando os restantes instrumentos – nem o saxofone escapou. Mas a audiência não estava para aí virada, e o concerto dos Green Day começaria mesmo às 20h30, como previsto.

A banda norte-americana, cuja formação original conta apenas com Billie Joe Armstrong (vocalista e guitarrista), Mike Dirnt (baixista) e Tré Cool (baterista), apresentou-se em palco com mais de seis músicos. O concerto começou com as duas primeiras canções do último álbum (“21st Century Breakdown”, deste ano), podendo já antever-se um espectáculo frenético e de grande interacção com a plateia.

Em “Know Your Enemy”, o primeiro single do álbum e terceira canção do alinhamento, surgiu a primeira das muitas explosões que dominariam o concerto – a pirotecnia foi um dos recursos essenciais da banda para dinamizar a actuação, que incluiu as já referidas explosões, chamas que se erguiam no palco e faíscas a caírem da estrutura que encabeçava a actuação do grupo. Para além disto, as animações que se situavam nas traseiras do palco davam a contextualização própria para cada tema.

O que muitos não esperavam é que Billie Joe, o motor dos Green Day, fosse também um mestre-de-cerimónias exemplar que não hesitou em chamar jovens da audiência para subir ao palco. Ora para cantar, tocar guitarra, participar em encenações ou até para ajudar o líder dos Green Day a “regar” literalmente o público com bisnagas em formato de espingarda, foram muitos os que partilharam o palco com a banda norte-americana e que ajudaram a fazer deste um dos mais interactivos concertos a que já assistimos.

Quando chamou um rapaz de apenas 17 anos para o substituir na guitarra em “Jesus of Suburbia”, Billie Joe apenas precisou que o jovem lhe exemplificasse a primeira sequência de três acordes da música para que a guitarra lhe fosse parar às mãos. Um voto de confiança que se viria a revelar seguro, já que a prestação não deixou a desejar.

Em “East Jesus Nowhere”, o líder depressa se apressou a chamar uma criança ao palco para o ajudar na sua encenação do que seria uma crítica aos rituais da igreja evangélica. Combinaram como tudo deveria ser feito, ali, sem preparação, mais por gestos que por palavras (Tomás, era como se chamava, parecia não dominar o inglês que Armstrong lhe gritava ao ouvido com as indicações). Então, quando Billie Joe segurou a cabeça do jovem, surgiu de repente uma explosão que projectou Tomás para o chão. A plateia impressionou-se com aquilo, embora não passasse de uma improvisação teatral bem-sucedida. No final da música, Armstrong pegou no rapaz e chamou a segurança, num tom reprovador e irónico, para que o viesse buscar.

Houve também tempo para que Armstrong dissesse que Portugal era “melhor que a América” – as críticas que o grupo fez ao governo de Bush foram o tema do álbum “American Idiot”, de 2004, uma Ópera/rock que tem como alvos a política, religião e a sociedade americana em geral. Uma chuva de aplausos, como seria de esperar.

Um dos segredos das performances dos Green Day ao vivo – já o sabíamos desde “Bullet in a Bible”, concerto editado em CD e DVD – é a frequência com que Billie Joe recorre aos “eeehhh oohh”, entoados de seguida pelo público, bem como os “ei, ei, ei!”. A massa adere e a banda agradece.

Um dado novo foi a introdução, em “King For a Day” (claramente a música mais festiva e colorida da noite), de pequenos excertos de músicas como “Break on Through”, dos Doors e “I Can’t Get No Satisfaction” dos Rolling Stones. Aí, os membros da banda divertiram-se e divertiram, aperaltando-se com chapéus napoleónicos e soutien, como foi o caso do baterista Tré Cool.

Depois de rodar temas que os tornaram famosos na década de 90, a banda regressou do encore para tocar “American Idiot”, o principal single do álbum anterior. Era daquelas que o público tinha na ponta da língua: “And can you hear the sound of hysteria?/The subliminal mind fuck America" dava a entrada para o refrão, que o público uma vez mais se encarregou de entoar em alto e bom som para, novamente, receber a aprovação de Billie Joe Armstrong.

A actuação, que só terá sido marcada pela acústica que geralmente não favorece quem toca no Pavilhão Atlântico, terminou de forma mais introspectiva e intimista, com o tema “Good Riddance (Time Of Your Life)”, do álbum “Nimrod” (1997), tocado com guitarra acústica. Embora se esperasse três horas de actuação, o concerto durou pouco mais de duas. Só que o sorriso (não demos conta de um único fã insatisfeito) com que a maioria da audiência saiu do Pavilhão Atlântico foi o suficiente para provar que a missão estava cumprida. Terá valido a pena esperar.

Sugerir correcção
Comentar