Investigadores portugueses dizem que canto das cigarras é gerador de novas espécies

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Só os machos emitem sinais sonoros, sendo as fêmeas silenciosas. Reuters

São os insectos com maior esperança de vida, com algumas espécies, como as americanas, a viver 17 anos, mas passam 99 por cento do seu tempo a alimentar-se e a crescer debaixo da terra, de onde saem na fase de ninfa por algumas semanas, durante o Verão, apenas para se reproduzirem e morrerem. Durante o pouco tempo que passam à superfície, toda a sua energia é investida no acasalamento e na deposição de ovos em plantas herbáceas, referem os cientistas.

Estes trabalhos foram realizados por investigadores do Centro de Biologia Ambiental do Departamento de Biologia Animal da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e da School of Biosciences da Universidade de Cardiff (Reino Unido), que contribuiu na parte genética dos estudos. "A investigação tentou comparar a evolução de algumas espécies de cigarras ao longo de várias gerações, a níveis morfológico, genético e comportamental", explicou à Lusa um dos responsáveis pela investigação, o professor José Alberto Quartau, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

"Um aspecto muito engraçado é que utilizam fundamentalmente a comunicação acústica na reprodução", afirmou. "É um exemplo muito bonito de como a comunicação acústica tem um papel muito importante na criação de novas gerações, ao servir de sinalização dos machos para atrair as fêmeas da sua espécie", acrescentou. Só os machos emitem sinais sonoros, sendo as fêmeas silenciosas.

Esta comunicação acústica implica um grande dispêndio de energia, já que os machos chegam a cantar horas seguidas nas horas de maior calor, o que é feito através da vibração de membranas, chamadas tímbalos, provocada pela contracção de músculos, sendo que as fêmeas só respondem aos chamamentos do machos da sua espécie. Ao constatarem que a evolução enveredou nestes insectos pela comunicação acústica, por lhes trazer grandes vantagens, os investigadores vão tentar agora demonstrar que o aparecimento de novos sinais acústicos poderá estar na origem da criação de novas espécies.

O mais recente dos três estudos - publicado no European Journal of Entomology e dedicado á cigarra do Norte de África e Mediterrâneo - mostra que estes insectos são morfologicamente idênticos, apesar da sua grande diversidade genética e acústica, e que os talentos acústicos evoluíram muito mais rapidamente do que qualquer outra das suas outras características.

Nos três estudos, Gabriela Pinto-Juma, Sofia Seabra e Paula Cristina Simões, sob a coordenação de José Quartau e Michael Bruford, tentam compreender melhor o relacionamento entre as cigarras mediterrânicas e a sua história evolutiva comum, bem como o seu processo de evolução.

Estes estudos inserem-se num projecto internacional de longa duração, que já decorre há mais de 20 anos, dedicado ao estudo em pormenor de um conjunto de espécies próximas do género Cicada na região mediterrânica, com ênfase na Península Ibérica e na zona oriental, nomeadamente na Grécia e na Turquia, e também um pouco no Norte de África.