Múmia de dinossauro revela que pele do réptil era igual à das aves e dos crocodilos
“Isto é a experiência mais próxima que se pode ter de tocar num dinossauro extinto”, disse em comunicado o paleontólogo Phillip Manning, da Universidade de Manchester, em Inglaterra, um dos autores do artigo publicado hoje na revista “Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences”.
A múmia pertence a uma das espécies de hadrossauros, os famosos dinossauros com a boca em forma de bico de pato. O fóssil foi descoberto nos Estados Unidos, na formação rochosa sedimentar de Hell Creek, uma cadeia montanhosa rica em fósseis que atravessa os estados de Dacota – que deu o nome ao exemplar – e Montana.
As razões que levaram dakota a cair num leito de um rio, há mais de 65 milhões de anos – pouco antes da extinção em massa dos maiores répteis que caminharam na Terra – são desconhecidas. Mas as circunstâncias permitiram que os sedimentos envolvessem rapidamente o animal criando uma espécie de cimento. O corpo acabou por estar muito pouco tempo em contacto com o oxigénio, impedindo a degradação.
A estrutura celular que ficou está impecavelmente conservada. “Estamos a olhar para produtos alterados que eram originalmente proteínas do animal que ficaram aprisionados na pele mineralizada”, explicou o investigador à BBC News.
A pele de dakota é igual às aves e aos crocodilos, os descendentes actuais dos dinossauros, e está dividida em duas camadas: a epiderme, mais à superfície, e a derme. Apesar de a estrutura ser o que se esperava, Manning apelidou o achado de “ciência limpa”. “Se se tem uma hipótese e não se pode testar, continuará a ser uma hipótese. Agora temos um dinossauro excepcionalmente conservado que permite pela primeira vez pôr a hipótese e respondê-la”, disse.
Pele às riscasO dinossauro tinha cerca de 7,5 metros. Através dos ossos da pélvis e do peito, os investigadores presumem que a múmia pertença a uma das espécies do género Edmontosaurus, um dos maiores tipos de hadrossauros. O tamanho da secção de pele encontrada foi considerável, abrangendo a região da cauda, membros inferiores e parte dos membros posteriores.
A investigação permitiu concluir que apesar de não se ter descoberto a cor da pele, confirma-se que o hadrossauro apresentava riscas, como estudos anteriores previam. A análise complexa, baseada em microscopia, espectroscopia por infravermelhos, utilização de raio-x, garantiu a autenticidade da pele e permitiu tirar ilações que vão desde a forma como as proteínas se degradam com o passar do tempo até à ecologia da espécie.
Os investigadores notaram que a pele que se situa nos flancos – entre a cauda e as ancas – é mais fina do que no resto do corpo, e que poderia ser, segundo Manning, o “calcanhar de Aquiles” do hadrossauro. Aliás, fósseis que se encontraram deste tipo de réptil mostravam marcas de dentadas nesta região. “Ao conhecer-se a distribuição das estruturas da pele de uma presa, pode-se compreender algo sobre a interacção entre o predador e a presa, o que ajuda a explicar alguns dos fósseis de hadrossauros que apresentam estas marcas de dentadas”, disse Phillip Manning.
A pele também ajudou aos investigadores medirem com mais segurança a massa muscular do réptil, “o que pode ajudar a calcular a energia muscular e a sua velocidade e força”, explicou Manning. De acordo com as estimativas deste estudo o hadrossauro batia os 45 quilómetros por hora.
A análise de dakota ainda não está terminada, garante o investigador, que não omite o prazer que a investigação lhe tem dado. “Enquanto a maioria de nós tem que trabalhar com frases dissonantes e ocasionalmente com palavras partidas ao meio para reconstruir um registo fóssil, aqui temos todo um capítulo onde é possível percorrer as páginas ao nosso ritmo”, concluiu.