Ydreams: À espera da explosão
António Câmara, presidente executivo e um dos cinco fundadores da tecnológica, admite que é um "luxo" ter 150 trabalhadores, que se adaptam rapidamente às mudanças no rumo do negócio (ver "Perguntas e Respostas"). Dos jogos para telemóveis baseados na localização dos jogadores, aos tapetes interactivos com mensagens que "perseguem" quem os pisa, passando pelos livros mágicos cujas páginas mudam ao gesto do leitor e, agora, às tintas que fazem o futuro da impressão electrónica.
A resposta, diz, está na formação internacional dos recursos humanos e na capacidade de procurar as parcerias certas em empresas exemplares no avanço tecnológico. Foi por isso que, quando a unidade de negócio dedicada aos jogos para telemóveis encerrou, em 2007, foi possível evitar despedimentos. Analistas e especialistas apontavam as aplicações móveis como o caminho a seguir. "Foi uma grande ilusão. Todos os nossos competidores faliram", recorda. O negócio era sedutor, tal como a projecção internacional. O jogo "Cristiano Ronaldo Underworld Football" conseguiu colocar a Ydream sob os holofotes.
No mesmo ano em que a unidade do negócio móvel foi dissolvida (sustentava a empresa desde, pelo menos, 2002), a Ydreams também saiu da China, depois de um divórcio amigável com o NDD Group, com quem (entre outros projectos) lançou no mercado local o jogo onde Cristiano Ronaldo era herói. A empresa chinesa tinha interesses dispersos e não terá prestado atenção ao negócio.
A diversidade de telemóveis, e a consequente necessidade de fazer adaptações, também dificultou o trabalho à tecnológica. "Há um número infinito de adaptações para fazer e esse esforço não era comportável. Só para fazer uma aplicação global, o custo à partida e à cabeça era de 200 mil euros", explica António Câmara.
Os grandes "players" do sector descobriram as potencialidades das aplicações móveis e, ao mesmo tempo, os modelos foram-se tornando sofisticados, obrigando a mais investimentos. "O nosso erro foi acreditar que íamos ser competitivos nesse mercado. Depois de um ano e meio, percebemos que o melhor que tínhamos a fazer era sair", recorda o professor da Universidade Nova de Lisboa.
A Ydreams encerrou o escritório em Xangai e decidiu apostar nos Estados Unidos, o mais duro e competitivo mercado. "Fomos para Austin, no Texas, porque nos associámos a grandes empresas", explica, acrescentando que é lá que têm acesso a informação e percebem as tendências.
Recursos humanos flexíveisAntónio Câmara já disse várias vezes que o modelo de gestão da Ydreams é inspirado na Hewlett-Packard. Quando nasceu,a multinacional apostou na diversificação para sobreviver. Mais tarde, utilizou o dinheiro ganho no desenvolvimento de produtos e organizou-se internamente em divisões, que se tornaram autónomas.
"Foi a flexibilidade da Ydreams que permitiu as mudanças. Seguimos muito a lógica da HP. Ouvi o Bill Hewlett no MIT (Massachusetts Institute of Technology) e fiquei impressionado com a história. Adequa-se ao que Portugal ainda é hoje. Em termos de desenvolvimento empresarial e de relacionamento com as universidades, estamos hoje como estavam os Estados Unidos nos anos 30 ou 40", diz.
Antes de criar a Ydreams, juntamente com Edmundo Nobre, José Miguel Remédio (hoje administradores), António Eduardo Dias e Nuno Correia, António Câmara foi facilitando aos seus alunos a entrada no mercado de trabalho em multinacionais como a Intel. Para lá chegar, contactou luso-descendentes que ocupavam lugares de destaque.
"Muitos dos estudantes ficaram lá a trabalhar. Quando criámos a empresa fomos buscá-los. Temos cerca de 30 pessoas com uma experiência internacional imensa e grande capacidade de adaptação", explica.
Sem pressa de crescer
Os 150 trabalhadores, com 30 anos de média de idades, adoptam o estilo descontraído, propício à discussão de ideias, que impera na empresa. A capacidade de atracção é imensa e surpreende alguns dos especialistas ouvidos pelo PÚBLICO. Jovens quadros saem de multinacionais como a Siemens para abraçar o projecto de interactividade que a Ydreams oferece. Na sede no Monte de Caparica, parece haver liberdade para imaginar.
A sustentabilidade de uma empresa, que dedica grande parte dos recursos à investigação e desenvolvimento (I&D), é questionada por muitos. Mas António Câmara não tem pressa. "Em Portugal um dos problemas que existe é que o estímulo ao empreendedorismo é feito na focalização precoce, no desenvolvimento de produtos que ninguém sabe o que são, e no crescimento explosivo. As empresas demoram tempo até darem lucro", justifica.
O financiamento concedido por entidades como a Agência Espacial Europeia ou a Agência de Inovação atingiu os 295 mil euros o ano passado e chegará aos 1,6 milhões de euros este ano. "Os fundos externos que patrocinam a investigação têm vindo a crescer e este ano são superiores. Mas sempre foram acompanhados por investimento interno. Nos últimos três anos investimos milhões para nos transformarmos em três empresas", sublinha, referindo-se à Audience Entertainment - "joint-venture" com os norte-americanos da Brand Experience Lab -, e às "spin-offs" (novas empresas criadas com o apoio da Ydrems) Ynteractive e Ynvisible, que deverão ter planos de investimento acordados dentro de três meses.
A tecnológica chegou a ter entre 40 a 50 pessoas dedicadas a projectos de investigação para os quais não tinha clientes, financiados por fundos internos e externos. Hoje o número baixou para 25 e a tendência é para continuar a reduzir o peso das despesas com I&D. António Câmara quer privilegiar o contacto com as universidades, "que podem investigar e falhar".
A bolsa, depois do mercadoDepois da entrada da Espírito Santo Tech Ventures, em 2006, a Ydreams procura agora investidores estrangeiros para reforçar presença no mercado global. As vendas em 2008 ultrapassaram os 8,4 milhões de euros e, para este ano, perspectiva-se uma subida de 49 por cento. O investimento na presença em Barcelona começou a dar frutos. "Foi um início duro, mas nos primeiros três meses tivemos dois sucessos: um no País Basco [num Centro de Interpretação Tecnológica que incorpora soluções interactivas produzidas pela empresa]; outro é um projecto internacional, que terá impacto em vários locais do mundo", conta, sem querer acrescentar mais pormenores.
A maior fonte de receitas ainda é a área de projectos (encomendas directas de clientes), mas o fundador acredita que o "pulo" vai acontecer quando for rentabilizada a plataforma de realidade aumentada - que permite uma pessoa entrar num filme, como se vê na foto - e o mercado receber as superfícies interactivas (vidro ou plástico com informação interactiva, mobiliário em madeira onde se projectam jogos). É nessa altura que pretende entrar em bolsa.
A Ydreams aguarda os resultados do desenvolvimento de produtos. Darius Mahdjoubi, investigador da Universidade do Texas, acredita que esta é uma empresa gazela: depois de anos de desenvolvimento de propriedade intelectual e produtos, vai crescer de forma explosiva no mercado global.
António Câmara, que contou esta história no blogue oficial, lembra o caso da Google: quatro anos de prejuízo para, no final, se transformar num peso-pesado. E a Ydreams não quer ser menos do que isso.