Uma Casa Branca com Trump é tão perigosa como o Estado Islâmico?

Spoiler alert: a empresa britânica Economist Intelligence Unit considera que sim. Para estes especialistas, o risco de uma Administração Trump é maior do que o "Brexit" e do que "o expansionismo da China".

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Trump é o candidato mais bem posicionado para garantir a nomeação no Partido Republicano Scott Olson/Getty Images/AFP

Ninguém sabe quais são os planos de Donald Trump para travar a ameaça do autoproclamado Estado Islâmico, e há quem acredite que nem o próprio candidato à Presidência dos Estados Unidos os conhece muito bem. Uma coisa é certa: para Trump, a maior ameaça à segurança do seu país é o jihadismo, e uma das formas de o eliminar, em traços gerais, é "rebentar com eles à bomba".

Mas, esta quarta-feira, o candidato ficou a saber que a Economist Intelligence Unit pensa o mesmo sobre ele, embora não defenda uma solução tão drástica para lidar com o caso – na sua lista dos dez maiores riscos para o mundo, a empresa de análises do grupo da revista britânica The Economist põe uma possível Administração Trump mais ou menos a meio da tabela, empatada com o crescimento do terrorismo jihadista.

Numa escala de risco de 0 a 20, o grupo britânico considera que entregar as chaves da Casa Branca a Donald Trump merece um 12, sendo um cenário com uma "probabilidade moderada" mas com um "impacto elevado".

"Até agora, o sr. Trump avançou poucos pormenores sobre as suas políticas – e estas têm sido sujeitas a constantes revisões –, mas destacam-se alguns temas. Em primeiro lugar, ele tem sido excepcionalmente hostil em relação ao comércio livre, destacando-se o [acordo] NAFTA, e tem catalogado insistentemente a China como uma 'manipuladora de moeda'", começam por avaliar os analistas da Economist Intelligence Unit.

Mas a empresa de investigação e análise também sublinha a política – ou a falta dela – do candidato mais bem posicionado no Partido Republicano sobre os conflitos no Médio Oriente: "Tem assumido uma postura excepcionalmente radical em relação ao Médio Oriente e ao terrorismo jihadista, incluindo, entre outras coisas, a defesa do assassinato das famílias dos terroristas e o lançamento de uma operação terrestre na Síria para eliminar o Estado Islâmico (e adquirir o seu petróleo)."

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Propostas como a suspensão da entrada de todos os muçulmanos nos Estados Unidos "seriam uma potente ferramenta de recrutamento para os grupos jihadistas, aumentado a sua ameaça tanto na região como além dela", defende a Economist Intelligence Unit.

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Os principais riscos são a postura militarista e contra o comércio livre. Neste caso, "uma vitória de Trump, com a sua atitude hostil em relação ao comércio livre, e a alienação do México e da China em particular, poderia transformar-se rapidamente numa guerra comercial", ou no mínimo levar ao fim do grande acordo de parceria entre os EUA e 11 países da América e da Ásia, conhecido como TPP. 

Em conclusão, e apesar de não acreditar numa vitória de Donald Trump nas eleições gerais contra "a sua mais provável adversária no Partido Democrata", Hillary Clinton, a empresa do grupo da revista The Economist considera que uma eventual eleição do magnata comporta riscos, "especialmente se ocorrer um ataque terrorista nos Estados Unidos ou uma quebra económica súbita".

Ainda assim, os analistas salientam, por outras palavras, que um Presidente Donald Trump não poderia exercer o cargo como um CEO Donald Trump, já que "a hostilidade interna no Partido Republicano" e "uma oposição virulenta no Partido Democrata" teriam como resultado a reprovação das suas "propostas mais radicais" no Congresso.

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Da China ao petróleo
Com os mesmos 12 pontos numa escala de 0 a 20 surge "a crescente ameaça de o terrorismo jihadista desestabilizar a economia global". Tanto uma ameaça como outra – o Estado Islâmico e a Administração Trump – iniciam a segunda metade da tabela da Economist Intelligence Unit. A lista abre com o risco de uma queda acentuada da economia chinesa, um cenário com uma "probabilidade elevada" e um "impacto muito elevado"; e fecha com os 4 pontos de "um colapso no investimento no sector petrolífero, que provocaria um futuro choque no preço do petróleo".

Mas voltando a Donald Trump e às suas propostas sobre as várias crises internacionais  militares ou comerciais  destacam-se algumas declarações sobre o autoproclamado Estado Islâmico feitas numa entrevista ao programa "60 Minutes", da CBS, no ano passado.

"O ISIS está na Síria, o Assad está na Síria. O Assad e o ISIS são inimigos mortais, e nós vamos lá para lutar contra o ISIS. Por que não deixamos o ISIS combater contra o Assad, e depois vamos lá apanhar os restos?" Quando o jornalista Scott Pelley quis perceber melhor o plano, e tentou resumi-lo perguntando se a ideia era deixar o Estado Islâmico destruir o regime de Bashar al-Assad para os EUA entrarem em cena depois, Trump respondeu: "Sim, é isso que eu diria." Em alternativa, sugeriu o candidato, a melhor opção é deixar a Rússia "dar cabo deles": "Que raio é que isso nos interessa?"

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Desde que anunciou a sua corrida à Casa Branca, em Junho de 2015, Donald Trump tem cimentado a sua imagem de candidato anti-sistema. Promete construir um muro na fronteira com o México e expulsar os cerca de 11 milhões de pessoas que estão nos EUA em situação ilegal, sejam adultos ou crianças, criminosos condenados ou homens e mulheres inseridos no mercado de trabalho há vários anos; barrar a entrada a todos os muçulmanos, sejam profissionais ou turistas, "até que se perceba o que raio está a acontecer" com o Estado Islâmico; e defende que os suspeitos de terrorismo sejam torturados, porque "a tortura funciona, OK, pessoal?"

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