Secretário-geral da OEA culpa Maduro pela crise na Venezuela

Líder da Organização dos Estados Americanos, Luis Almagro, acusa Governo de Maduro de ser responsável pela pobreza no país.

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Lilian Tintori, a mulher de Leopoldo Lopez, liderou um protesto contra Maduro em frente da sede da OEA em Caracas, esta quinta-feira REUTERS/Mariana Bazo

Luis Almagro, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), acusou o Presidente Nicolás Maduro de ser o culpado pela crise humanitária que afecta a Venezuela, durante a sessão de apresentação de um relatório sobre a situação no país, antes de um voto crucial que poderá conduzir à suspensão de Caracas daquele organismo multilateral, por violação da sua Carta Democrática.

Segundo a Reuters, o líder uruguaio da OEA argumentou que foi o Governo de Maduro a levar o país para a "pobreza, corrupção e violência", apesar de a Venezuela ser uma das nações com maiores reservas petrolíferas do mundo. “Estes problemas não podem ser atribuídos a forças externas. A situação na Venezuela hoje é um resultado directo das acções dos que estão agora no poder”, reportou o Washington Post, citando Luis Almagro.

Falando sobre a alegada alteração da ordem constitucional no país, Almagro insistiu que o Governo de Maduro tem violado os princípios básicos da democracia, e considerou justificada a suspensão da Venezuela da OEA. Apesar da oposição do Governo de Caracas, e de aliados como a Bolívia e o Equador, a maioria dos membros da organização aprovou a apresentação do relatório sobre a Venezuela, na quinta-feira em Washington.

O representante dos EUA na OEA, Michael Fitzpatrick, declarou que “os venezuelanos não aguentam atrasos nas soluções para os problemas que enfrentam”, citou o Washington Post.

No entanto, é pouco provável que entre os 34 membros da OEA seja possível encontrar uma maioria de votos para uma acção mais "agressiva" contra a Venezuela. Vários dos aliados de Maduro reprovam a iniciativa do secretário-geral. O representante da Nicarágua, Denis Ronaldo Moncada Colindres, acusou mesmo Almagro de organizar um “golpe contra a Venezuela”.

Delcy Rodríguez, ministra dos Negócios Estrangeiros venezuelana, também falou em tentativa de orquestrar um golpe e negou a existência de uma crise humanitária no seu país. “Esta organização está a ser usada para atacar a Venezuela”, considerou Rodriguez.

Uma relação conturbada

No mês passado, Almagro teceu duras críticas ao Presidente venezuelano, defendendo-se de acusações feitas por Maduro de que é um agente da CIA e um “traidor”. “Atraiçoa o seu povo e a sua suposta ideologia com directivas sem conteúdo”, atirou Luis Almagro numa carta aberta que foi publicada no site da OEA, onde respondeu aos comentários do Presidente venezuelano.

A BBC relembrou que nem sempre a relação entre os dois foi assim tão tensa. Fizeram ambos parte de governos aliados, quando Almagro foi ministro dos Negócios Estrangeiros e conselheiro do ex-Presidente do Uruguai, José Mujica, e Maduro cumpria o cargo homólogo de chanceler no Governo de Hugo Chavéz, que morreu em 2013.

Contudo, a relação deteriorou-se quando Maduro assumiu a presidência da Venezuela. Em Outubro de 2015 o secretário-geral da OEA reuniu-se com as mulheres dos presos políticos Leopoldo López – que liderou o movimento que exigia a demissão de Nicolas Maduro em 2014 –, Antonio Ledezma e Daniel Ceballos. Um mês mais tarde, Maduro chamou "lixo" a Luis Almagro, recordou a BBC.

Crise humanitária na Venezuela

Apesar do petróleo, a Venezuela vive a maior crise de toda a sua história. Para além da instabilidade política, a crise económica deixou o país com escassez de alimentos e bens de primeira necessidade, como medicamentos, algo já denunciado por um relatório do Internacional Crisis Group (ICC) em 2015

O Governo de Maduro avançou com várias medidas drásticas para lidar com a deterioração das condições económicas. O aumento do preço da gasolina em 6000% em 2015 foi uma delas, bem como os cortes na despesa pública. Como consequência da crise de abastecimento que se vive no país, vários alimentos e outros produtos foram racionados, bem como a distribuição de água e luz. As medidas governamentais têm levado milhares de pessoas à rua para se manifestar, mas também para pilhar e roubar supermercados. 

No início deste mês a comissão eleitoral venezuelana validou as assinaturas que pediam a marcação de um referendo para revogar o mandato do Presidente Nicolás Maduro

 

Texto editado por Rita Siza

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